Afinal, existe crise ou não?
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Publicado em 11 de novembro de 2015 às, 14h06.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h51.
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No meu artigo anterior (Cash is King), eu falei, em tom de brincadeira, que estava “quase chegando à conclusão de que não existe crise”…
Temos que ser muito cuidadosos ao falar sobre a crise (ou a não existência dela). Por exemplo, na semana passada, um assunto que gerou bastante polêmica na mídia e nas redes sociais foi a declaração, por parte de um conhecido empresário brasileiro, de que “a crise no Brasil é política e não econômica”.
O que ele quis dizer, entre outras coisas, é que oportunidades estão começando a surgir e que, a despeito do caos que estamos vivenciando, a situação atual não é o “fim do mundo”. Inclusive eu explorei a questão das oportunidades no artigo “Cash is King”.
O raciocínio dele está correto, porém a forma como o argumento foi apresentado foi infeliz e o timing não poderia ser pior. Considerando a grande quantidade de pessoas que está perdendo seus empregos e tendo que fechar seus negócios por conta da “crise não-econômica” , não é surpresa que ele tenha sido duramente criticado e atacado (procure nos grandes portais de notícias e dê uma conferida nas áreas de comentários dos leitores).
Considerando as dificuldades financeiras e as angústias que grande parte da população brasileira está enfrentando no momento, a declaração do empresário foi, no mínimo, insensível…
Mas, se deixarmos um pouco de lado essa questão “emocional” e procurarmos analisar a declaração com mais objetividade, talvez nosso distinto empresário não esteja, de fato, tão errado.
Nós não estamos em crise
Esse período de crescimento que o Brasil vivenciou, a partir do início do Século XXI, foi uma espécie de “surto eufórico econômico” de curta duração (do ponto de vista do desenvolvimento econômico, um período de dez a quinze anos é um “piscar de olhos”). As pessoas tiveram acesso ao crédito fácil (porém jamais barato) e tiveram uma falsa sensação de segurança motivada pelo “pleno emprego”. Consumiram, se endividaram e desfrutaram os prazeres do consumo.
Quem entrou no mercado de trabalho neste período deve acreditar que o Brasil sempre foi essa “festa do caqui”, onde as empresas contratam, pagam bem e se preocupam obsessivamente com coisas como “apagão da mão de obra” e “retenção de talentos”. Foi muito fácil arrumar emprego nesse período e muitas iniciativas empreendedoras tiveram sucesso, graças ao consumo aquecido.
Porém, quem é um pouco mais velho e vivenciou a economia (e o mercado de trabalho) nos anos 80 e 90 sabe que a história não é bem assim… O Brasil é (e sempre foi) um país extremamente difícil para se fazer negócios e onde o desemprego sempre foi uma das maiores fontes de medo e insegurança da população.
Quem era “vivo” nessa época deve se lembrar do que a gente já enfrentou: Hiperinflação, moratória da dívida externa, confisco da poupança… Perto do que já passamos, a situação atual é “fichinha”. E, de alguma forma, sobrevivemos a isso.
Então, o ponto é o seguinte: nós não estamos em crise. Estamos apenas voltando a ser aquilo que sempre fomos: Um país complicado, com enorme desigualdade social, com péssimos indicadores sócio-econômico-educacionais, hostil aos negócios, violento e onde o desemprego está sempre presente.
Como dizia o finado Tom Jobim, “o Brasil não é para principiantes”.
Para nós, brasileiros, não existe crise – isso que chamamos de “crise” já virou uma situação permanente. O que existe é um estado crônico de bagunça, corrupção, fragilidade e mediocridade econômica. Tivemos um pequeno alívio de alguns anos, mas já estamos voltando ao nosso “normal”.
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