(Harbucks/Getty Images)
Viviane Martins
Publicado em 12 de dezembro de 2022 às 13h04.
Ao longo de 2022, temas como propósito e modelos de trabalho continuaram a ganhar espaço na pauta dos gestores: o ato de repensar a forma como as corporações lidam com as pessoas – e com o mundo ao seu redor, no geral – seguiu no topo da agenda dos executivos.
Enquanto isso, logo no início do ano, o mercado passou a lidar com desafios macroeconômicos que solaparam as expectativas de rápida retomada econômica pós-pandêmica, a começar pelo nó logístico que afetou as cadeias de produção e distribuição de insumos e bens a nível global. A guerra na Ucrânia agravou o cenário, afetando o mercado de grãos e o custo dos alimentos, bem como o custo do gás e da energia, com imediata pressão inflacionária.
Não fosse o bastante, o ecossistema global de inovação resolveu arrumar a casa em 2022. Como dito antes neste espaço, após dois anos de capital barato e abundante, e investimentos desenfreados em startups mundo afora, o venture capital tirou o pé do acelerador. Isto mandou ondas de choque no mercado global de tecnologia. Além das demissões em unicórnios, a própria busca por essas empresas altamente escaláveis se tornou menos interessante. A mensagem dos investidores foi direta. Crescer a qualquer custo não faz sentido: é hora de boa gestão e resultados sustentáveis.
Com tanto tempero no complexo caldo de 2022, chegamos à porta de 2023 com cenário menos animador do que muitos gostariam. Para a 'The Economist', uma recessão global é inevitável, exatamente por conta dos choques geopolíticos, de uma crise energética sem precedentes na Europa e inflação que no hemisfério norte está próxima a patamares de 50 anos atrás. Mas como toda crise também embute oportunidades, outros vêm a possibilidade de as economias emergentes ditarem o ritmo do crescimento econômico.
Mas se o prato do lado de fora está transbordando de desafios, dentro de casa não é diferente para as corporações. Questionam-se sobre o perfil que os seus líderes devem ter e seguem na indefinição quanto ao (presente do) futuro do trabalho. O que impacta a relação entre colaboradores, propósito e empresas.
Trago três temas que serão importantíssimos em um ano que promete complexidade e, como nunca, exigirá excelência de gestão, fortalecimento das lideranças e times engajados.
CEO na gestão (ao invés do palco):
Na sua lista de 20 grandes tendências para 2023, o LinkedIn incluiu, entre os temas que já têm cadeira cativa no mundo dos negócios (segurança cibernética e open finance, por exemplo), o que batizou como “o fim da era do CEO herói”. Este perfil de CEO pop star atrai as atenções e acaba por transformar gestão quase em uma saga individual.
Os casos mais recorrentes mostram o impacto - positivo e negativo - da fala de líderes empresariais sobretudo nas mídias sociais, afetando valor de mercado, clima organizacional e mesmo transações entre empresas. Exemplo típico é Elon Musk, da Tesla e agora do Twitter, mas já se falou tanto dele que nem vale voltar ao personagem.
A tendência é a de que, em 2023, precisaremos de líderes com espírito de servir e capacidade de execução, que tenham a habilidade de enfrentar incertezas, conduzindo seus times e organizações tanto em mares revoltos como em calmarias, não apenas no presente, mas também garantindo a sustentabilidade dos negócios no longo prazo. Vamos, sim, voltar a sermos justamente cobrados por vários resultados para além de crescimento, nas perspectivas humana, financeira, social e ambiental.
Discussão sobre o modelo de trabalho (sim, ainda)
Se 2020 terminou com quase todo o mundo em trabalho remoto, já 2021 acabou no auge da “Great Resignation" (ou o Grande Pedido de Demissão), termo em inglês que se popularizou para representar uma geração de funcionários que preferia abrir mão do trabalho a não a voltar para os escritórios. Agora, 2022 termina com desligamentos em massa nas empresas tecnológicas e interrogações sem resposta sobre modelos de trabalho, que serão herdadas por 2023.
As pesquisas mais recentes sobre o tema são inconclusivas. Não raro, uma contradiz a outra sobre qual seria o melhor modelo para garantir, no presente, o futuro do trabalho. Continuamos sem garantias de qual seja o melhor caminho para atender tanto os anseios dos profissionais, a produtividade das empresas e a necessidade de engajamento e interação das equipes.
Divulgado na semana passada, um estudo de pesquisadores da Harvard Business School, feito ainda na pandemia, mostrou que o modelo presencial não afetava diretamente a produtividade dos negócios. Já apuração da Reuters, publicada há alguns dias, revelou que muitas companhias querem a retomada dos escritórios, enquanto a mão de obra demanda mais e mais flexibilidade. Uma terceira linha veio da People Management: pesquisa apontou que podem ser infundados os temores de que o trabalho remoto seja menos eficiente, contudo, o melhor caminho talvez seja um modelo híbrido, com mais dias nas empresas do que em casa. Isso pode estimular a colaboração, a proximidade dos times e maior coesão da cultura organizacional.
A discussão promete continuar em 2023, inclusive porque a opção pela manutenção, adoção ou a volta a este ou aquele modelo impacta em pautas como administração de ativos imobiliários, mobilidade urbana e, até mesmo, diversidade e inclusão, sobretudo em negócios que no passado recente buscaram ser geograficamente diversos, o que resolveu também a questão da falta de mão de obra no entorno de suas sedes físicas.
Cenário global (em um mar de incertezas e indicadores negativos)
Por fim, temos nosso mundo globalizado em choque. O conflito entre Rússia e Ucrânia não dá sinal de desfecho próximo. Tampouco é o único a afetar todo o mundo. As tensões, sobretudo no Oriente Médio, aumentam. Um outro tipo de guerra, a comercial, travada entre Estados Unidos e China, também volta a preocupar. Outro motivo de preocupação vem da escalada inflacionária e das instabilidades que pode ocasionar em nações que historicamente estáveis, como a Inglaterra.
O cenário é tão complexo, com ramificações e interligações que afetam desde balança comercial a processos logísticos, passando por preço de commodities e compra de insumos, que muita gente já está juntando várias crises em uma só e usando a expressão “policrise”, que pode aumentar ainda mais as dificuldades no ano que começa. Para enfrentar essa turbulência, nada mais a fazer do que manter firme a mão no leme, corrigir a rota sempre que necessário em direção à estratégia, olho no parabrisas e cuidar de todos os passageiros a bordo.