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Tempo das empresas focarem na “Grande Permanência”

Em sua coluna desta semana, Viviane Martins, CEO da Falconi, debate sobre como provocar uma “Grande Permanência” no ambiente profissional

Em meio à perspectiva de recessão para o próximo ano e de mais ondas de demissão em empresas de tecnologia, o poder de barganha dos profissionais poderá sumir — e, com ele, o home office (Alistair Berg/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2022 às 14h56.

Por Viviane Martins, CEO da Falconi

Os funcionários das empresas estão desencantados e a falta de inovação pode ser a razão para isso. A frase, retirada do estudo realizado pelo índice de reputação das companhias publicado pela RepTrak em abril deste ano, ilustra bem o momento encarado pelos líderes de negócios ao redor do mundo. Desde a retomada do trabalho presencial, companhias de todo o planeta têm sido obrigadas a lidar com o fenômeno da Grande Resignação (ou Grande Demissão), que de forma objetiva e simples carrega uma mensagem: o trabalhador agora privilegia uma oferta de trabalho híbrido e ele não quer mais organizar a sua vida em torno do trabalho.

Dois aspectos econômicos embasam esta nova maneira como as pessoas lidam com seus empregos. O primeiro é que, no início da pandemia, diante da incerteza presente no mundo, a decisão dos trabalhadores anteriormente desejosos de trocar de empresa foi represado, à espera de mares menos revoltos, acumulando mais renúncias em 2021. Em segundo lugar, diversos setores demonstraram em 2020 que a pandemia lhes impulsionou, acelerando a digitalização, gerando maior demanda por determinados serviços e um salto no comércio eletrônico; o que abriu oportunidades – inclusive geográficas - para muita gente mudar de empresa de maneira promovida, com maiores salários.

Grande Permanência

Partindo desta premissa, fica o questionamento: como provocar uma “Grande Permanência”? De acordo com o mesmo estudo da RepTrak, três motivos são essenciais para ambientes de trabalho ganharem destaque entre funcionários, sendo eles: equidade nas oportunidades de crescimento; recompensas justas; e preocupação com o bem-estar dos funcionários. Em termos de modelo, uma pesquisa publicada também em abril pela Harvard Business School mostrou que a máxima do balanço entre pessoal e profissional é mais válido do que nunca: o trabalho híbrido se mostrou o modelo ideal, na visão dos trabalhadores que participaram do estudo.

No contexto em que líderes e empresas influenciam a felicidade das pessoas no trabalho – e esse bem-estar se torna fator preliminar para a retenção de talentos –, cuidar de gente nunca foi tão essencial para as companhias. Sentir-se importante, reconhecido e respeitado na empresa é um fator crítico para que o trabalhador aprecie o seu ambiente de trabalho. Na outra via, fortalece um ambiente propício à colaboração, à agilidade e à inovação, temas também com matizes mais fortes no pós-pandemia. Ressaltando o óbvio, este ambiente não está relacionado a cargos, mas aos valores, ao clima e à cultura organizacionais. A combinação destes temas gera um modelo de negócio centrado nas pessoas, impulsiona a estratégia de qualquer empresa e é irreproduzível.

Um ambiente " people-centric " é construído a partir de ingredientes como a autonomia - combinada a desafios que permitam às pessoas se desenvolverem e sentirem orgulho do trabalho que fazem; de um propósito genuinamente compartilhado pelo time; de senso de pertencimento das pessoas aos times e à empresa; de uma cultura que dê segurança psicológica às pessoas de discordarem uns dos outros e debaterem os argumentos indo “na bola e não na canela”; e de um ambiente de trabalho diverso e inclusivo, algo cada vez mais decisivo para as pessoas que se candidatam às vagas no mercado.

Esses são alguns dos chamados valores intangíveis, custos que nem sempre podem ser calculados na ponta do lápis, mas demarcam questões de cultura e missão em um negócio em construção. Não olhar para esses pontos pode trazer prejuízos em conhecimento, experiência, atitudes, relacionamentos e mais – fatores que afetam perda de talentos, diminuição na qualidade de atendimento ao cliente e até mesmo fortalecimento de concorrência. Uma pesquisa recente, realizado pelo perfil no Instagram Festa da Firma, mostrou mais uma vez o tom do novo mercado, principalmente no Brasil: 88% dos mais de 30 mil respondentes preferem qualidade de vida a um salário mais alto.

Estes são ingredientes nobres e raros, mas se bem cultivados trazem resultados saborosos para todos, empresas e trabalhadores: felicidade pode, e deve, ser um insumo estratégico para o desenvolvimento sustentável.

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Por Viviane Martins, CEO da Falconi

Os funcionários das empresas estão desencantados e a falta de inovação pode ser a razão para isso. A frase, retirada do estudo realizado pelo índice de reputação das companhias publicado pela RepTrak em abril deste ano, ilustra bem o momento encarado pelos líderes de negócios ao redor do mundo. Desde a retomada do trabalho presencial, companhias de todo o planeta têm sido obrigadas a lidar com o fenômeno da Grande Resignação (ou Grande Demissão), que de forma objetiva e simples carrega uma mensagem: o trabalhador agora privilegia uma oferta de trabalho híbrido e ele não quer mais organizar a sua vida em torno do trabalho.

Dois aspectos econômicos embasam esta nova maneira como as pessoas lidam com seus empregos. O primeiro é que, no início da pandemia, diante da incerteza presente no mundo, a decisão dos trabalhadores anteriormente desejosos de trocar de empresa foi represado, à espera de mares menos revoltos, acumulando mais renúncias em 2021. Em segundo lugar, diversos setores demonstraram em 2020 que a pandemia lhes impulsionou, acelerando a digitalização, gerando maior demanda por determinados serviços e um salto no comércio eletrônico; o que abriu oportunidades – inclusive geográficas - para muita gente mudar de empresa de maneira promovida, com maiores salários.

Grande Permanência

Partindo desta premissa, fica o questionamento: como provocar uma “Grande Permanência”? De acordo com o mesmo estudo da RepTrak, três motivos são essenciais para ambientes de trabalho ganharem destaque entre funcionários, sendo eles: equidade nas oportunidades de crescimento; recompensas justas; e preocupação com o bem-estar dos funcionários. Em termos de modelo, uma pesquisa publicada também em abril pela Harvard Business School mostrou que a máxima do balanço entre pessoal e profissional é mais válido do que nunca: o trabalho híbrido se mostrou o modelo ideal, na visão dos trabalhadores que participaram do estudo.

No contexto em que líderes e empresas influenciam a felicidade das pessoas no trabalho – e esse bem-estar se torna fator preliminar para a retenção de talentos –, cuidar de gente nunca foi tão essencial para as companhias. Sentir-se importante, reconhecido e respeitado na empresa é um fator crítico para que o trabalhador aprecie o seu ambiente de trabalho. Na outra via, fortalece um ambiente propício à colaboração, à agilidade e à inovação, temas também com matizes mais fortes no pós-pandemia. Ressaltando o óbvio, este ambiente não está relacionado a cargos, mas aos valores, ao clima e à cultura organizacionais. A combinação destes temas gera um modelo de negócio centrado nas pessoas, impulsiona a estratégia de qualquer empresa e é irreproduzível.

Um ambiente " people-centric " é construído a partir de ingredientes como a autonomia - combinada a desafios que permitam às pessoas se desenvolverem e sentirem orgulho do trabalho que fazem; de um propósito genuinamente compartilhado pelo time; de senso de pertencimento das pessoas aos times e à empresa; de uma cultura que dê segurança psicológica às pessoas de discordarem uns dos outros e debaterem os argumentos indo “na bola e não na canela”; e de um ambiente de trabalho diverso e inclusivo, algo cada vez mais decisivo para as pessoas que se candidatam às vagas no mercado.

Esses são alguns dos chamados valores intangíveis, custos que nem sempre podem ser calculados na ponta do lápis, mas demarcam questões de cultura e missão em um negócio em construção. Não olhar para esses pontos pode trazer prejuízos em conhecimento, experiência, atitudes, relacionamentos e mais – fatores que afetam perda de talentos, diminuição na qualidade de atendimento ao cliente e até mesmo fortalecimento de concorrência. Uma pesquisa recente, realizado pelo perfil no Instagram Festa da Firma, mostrou mais uma vez o tom do novo mercado, principalmente no Brasil: 88% dos mais de 30 mil respondentes preferem qualidade de vida a um salário mais alto.

Estes são ingredientes nobres e raros, mas se bem cultivados trazem resultados saborosos para todos, empresas e trabalhadores: felicidade pode, e deve, ser um insumo estratégico para o desenvolvimento sustentável.

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