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O papel da gestão de tempo no cuidado das pessoas – e do negócio

Os profissionais gastam mais de 85% do seu tempo em reuniões, mostrou uma pesquisa do MIT Sloan

É hora de levar a sério o jargão: “essa reunião poderia ter sido um e-mail”. (Alistair Berg/Getty Images)
É hora de levar a sério o jargão: “essa reunião poderia ter sido um e-mail”. (Alistair Berg/Getty Images)
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Viviane Martins

Publicado em 8 de agosto de 2022 às, 14h57.

Virou chavão na pausa para o cafezinho, no happy hour e, principalmente, no LinkedIn: “Essa reunião poderia ter sido um e-mail”. A máxima ganhou força nos últimos dois anos, desde que o mundo foi arrebatado por uma pandemia e a consequente crise dos modelos de trabalho. Entre os que trabalham totalmente remotos, os híbridos e os presenciais, a certeza é de que o aumento no número de reuniões se tornou algo impactante. Basta conversar com colegas de trabalho para certamente ouvir uma série de reclamações em relação à falta de produtividade desses encontros e ao microgerenciamento.

O sentimento é justo, vale dizer. Os profissionais gastam mais de 85% do seu tempo em reuniões, mostrou uma pesquisa do MIT Sloan. O mesmo estudo ainda revelou que companhias que passavam três dias sem reuniões na semana eram mais produtivas que as outras, reduzindo o estresse dos seus funcionários em 26% — quando conseguiam atingir os cinco dias úteis sem reuniões, o percentual saltava para 75%. 

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Ou seja: quando falamos de um número excessivo de reuniões, também estamos falando de saúde mental. Mais precisamente, estamos falando sobre a falta de cuidado com essa tão importante questão. Em entrevista a veículos norte-americanos, o empreendedor e cofundador do projeto Number For Liver Person (que presta socorros para quem passa por problemas de saúde mental) Dima Suponau afirmou que o microgerenciamento é tão danoso para o ambiente de trabalho que pode ser considerado um tipo de bullying contra as pessoas que lá estão. 

De acordo com o especialista, não confiar o suficiente em seus colaboradores (daí ter de marcar um sem-número de reuniões durante a semana) pode acarretar questões como ansiedade, insônia, depressão, fadiga, além de falta de motivação, medo de ser demitido ou receio de ser retaliado publicamente — afinal, com tantas e tantas “calls” para alinhamentos, é possível que seu nome seja mencionado algum dia, desconfiam os funcionários. Ignorar essas reflexões é também deixar de lado as vantagens que novos modelos de trabalho trazem ao jogo. 

Nicholas Bloom, professor da Universidade Stanford, passou boa parte de sua carreira pesquisando os benefícios do trabalho remoto. Desde a pandemia, acelerou os estudos na área em razão do aumento do número de pessoas trabalhando em casa. Entre as suas diversas conclusões, a principal foi a de que, em média, funcionários são mais produtivos trabalhando remotamente. E, mesmo sendo de 2020, as dicas básicas passadas então seguem válidas: definir um horário, separar um local para trabalhar, estabelecer metas bem definidas e manter uma comunicação transparente e clara com seus times são providenciais para o negócio dar certo.

Produtividade financeira

Um ponto complementar e também providencial é que “dar certo” serve para diversas esferas da companhia. Desde a saúde mental e do cuidado com as pessoas até em termos financeiros: porque reuniões em excesso significam dinheiro perdido.

No mesmo estudo do MIT Sloan, isto fica evidente: quando três ou mais líderes, que ganham não raro salários mais altos, se encontram por mais tempo do que o necessário, por exemplo, não só podem estar desgastando seu lado psicológico e sendo pouco produtivos: também o dinheiro da companhia está indo embora.

Por tudo isso, a reflexão sobre gestão de tempo, produtividade e cuidado com as pessoas deveria ser pauta recorrente da liderança. Em tempos desafiadores, negócios devem olhar para os colaboradores e para o caixa com extrema atenção. Que façam das reuniões um e-mail, sim.

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