Novas habilidades: o aprendizado de soft skills e tech skills é vital para empresas e profissionais
Na coluna desta semana, a CEO da Falconi, Viviane Martins, fala sobre literacia digital e o papel das organizações na requalificação da força de trabalho
Da Redação
Publicado em 7 de fevereiro de 2023 às 17h34.
Última atualização em 7 de fevereiro de 2023 às 17h40.
Literacia, até pouquíssimo tempo atrás, era uma palavra pouco usual no vocabulário corporativo, mesmo que acompanhada do adjetivo digital. A expressão 'literacia digital' diz respeito à capacidade de uma pessoa encontrar, avaliar e comunicar informações por meio de plataformas digitais. Porém, cada vez com frequência maior ela aparece na pauta dos gestores e no contexto de habilidades tecnológicas: tornou-se um dos maiores pontos nevrálgicos das companhias.
Quando até crianças pequenas estão familiarizadas com smartphones, parece estranho falarmos sobre o tema. Até lembrarmos que 1,1 bilhão de empregos provavelmente serão radicalmente transformados pela Quarta Revolução Industrial, mudanças na cadeia de suprimentos e transição energética, como recentemente sublinhou a diretora executiva do Fórum Econômico Mundial, Saadia Zahidi. Ou seja: o tema da requalificação/requalificação é dos mais urgentes em todo o mundo – tanto nos países desenvolvidos, quanto nas economias emergentes.
Como ressaltou o estudo "O impacto da Inteligência artificial no futuro da força de trabalho na União Europeia e nos EUA", publicado no fim do ano pela Casa Branca, a Inteligência Artificial tem o potencial de aumentar a produtividade, criar novos empregos e elevar os padrões de vida. Contudo, o fato de poder realizar tarefas antes consideradas estritamente do domínio dos humanos, trará disrupção em inúmeras áreas e tarefas, o que exigirá "ajustes difíceis para os trabalhadores, pois os empregos são redesenhados ou as habilidades necessárias mudam".
Trocando em miúdos: se a velocidade dos avanços tecnológicos é grande aliada dos trabalhadores qualificados, que ainda assim terão que abraçar a educação contínua, por conta da produção de novos conhecimentos que cada vez mais rapidamente substituirão muitas das habilidades adquiridas previamente, no caso da mão-de-obra não-qualificada o assunto ganha contornos mais dramáticos. E é o que está fazendo com que governos mundo afora corram para fechar um ‘gap’ que, se deixado para depois, pode ficar cada vez maior e mais difícil de transpor.
A iliteracia tecnológica também tira o sono das lideranças empresariais por ser um dos maiores obstáculos à inovação e à cultura que permite que a inovação aflore. E ambas são fundamentais para que as companhias prosperem - ou mesmo, sobrevivam - face à pressão cada vez maior por transformação digital efetiva, permeando toda a empresa.Como publicou o site americano Silicon Republic, é imperativo que haja uma mentalidade digital nas organizações, pois a demanda por habilidades tecnológicas, a exemplo do que ocorre com as chamadas ‘soft skills’ (habilidades sociais, emocionais e cognitivas), só fará aumentar.
Vale lembrar, por exemplo, o uso cada vez maior, em uma gama variada de empresas nos mais diferentes segmentos, de plataformas de análise e inteligência de negócios (BI). Elas permitem aos profissionais de áreas vistas como menos técnicas modelar, analisar e gerenciar dados. Mas o critério “menos técnico” também está se transformando: caminhamos rapidamente para teroBI como parte da cultura da empresa.
Isso faz com que os profissionais estejam sendo desafiados a aprender novas habilidades em um ritmo sem precedentes. Nos Estados Unidos, um estudo realizado pelo Burning Glass Institute, o Business Higher Education Forum e a editora Wiley, considerando anúncios publicados com vagas de trabalho, mostrou que em 10 anos aumentou em quatro vezes a procura de pessoas com habilidades de análise de dados. O campo de atuação também creceu 4,7 vezes: em 2011, a habilidade era requisito em 17 tipos de ocupação; em 2021, segundo os últimos dados disponíveis, passou a 81.
O estudo americano mostrou que muitas dessas habilidades estão se espalhando para os empregos existentes, exigindo aprendizado dos trabalhadores para aplicá-las. a mas que tal disseminação também está ocorrendo em novas ocupações criadas por essas habilidades em evolução. Eu iria além: não se trata apenas de "o quê", mas também do "como", da própria maneira como se organiza a força de trabalho, como, por exemplo, em squads. Cada vez mais, os recrutadores vão avaliar acapacidade de um candidato trabalhar usando métodos ágeis, por exemplo, na hora de preencher uma vaga.
A despeito de todos os indícios e alertas, o fato é que muitos líderes se apegam ao conceito - equivocado - de que tecnologia é assunto só para quem trabalha no setor de TI. Fecham os olhos para o fato inegável de que que a tecnologia evolui em tal ritmo e abrangência que quem não acompanhar seu passo, poderá depois ter imensa dificuldade para alcançar as mudanças no trabalho.
Para evitar que tal ocorra, as empresas também terão de assumir seu papel em campo que muitos acreditavam ser exclusivo de escolas técnicas ou universidades. Seja através de universidades corporativas, seja através de parceiros especializados, estes novos skills têm de ser trazidos para dentro da organização.
São vitais para o crescimento sustentável das empresas habilidades como 'problem solving' (coloco em inglês pois a expressão se consagrou nesta língua, por ser talvez uma das mais buscadas mundo afora) - ou seja, a capacidade de identificar problemas, debater e analisar respostas e implementar as melhores soluções. São skills a serem aprendidos, permanentemente burilados e aplicados diariamente no trabalho.
Aos líderes que procrastinam a implantação de programas de requalificação e literacia digital, vale lembrar que não se trata apenas de garantir o fluxo de inovação para suas companhias se manterem competitivas. Ao tornar nosso dia a dia profissional mais eficiente, a automação lastreada em inteligência artificial libera tempo precioso e hoje raro, inclusive para o upskilling de suas equipes.
Em tempos em que se discute a implantação de uma semana de trabalho mais curta, esse tempo poderá ser utilizado não apenas para melhor qualidade de vida – e consequentemente, maior produtividade – de todos, mas também para o aprendizado de novos conhecimentos.
Como qualquer um que já interagiu com o ChatGPT sabe do imenso potencial da IA nos negócios, mas também sabe que algoritmos de IA frequentemente são rígidos, incapazes de responder a algo fora de seus parâmetros pré-programados. Traduzindo: não se trata de substituir pessoas por algoritmos, mas de colocar os algoritmos a seu trabalho.
A exemplo da história do copo meio cheio, meio vazio, há duas maneiras de se encarar a revolução tecnológica. Fico com o olhar positivo da força-tarefa do Massachussets Institute of Technology (MIT) em um estudo sobre o futuro do trabalho: nestes tempos disruptivos, a tecnologia abre inúmeras possibilidades para nós, trabalhadores humanos. Basta estarmos abertos para elas.
É preciso seguir fazendo o que sempre fizemos desde que o Homo Sapiens surgiu: adaptação e aprendizagem, aprendizagem e adaptação. Foram estas duas capacidades que nos trouxeram até aqui. E serão elas que nos levarão adiante.
Literacia, até pouquíssimo tempo atrás, era uma palavra pouco usual no vocabulário corporativo, mesmo que acompanhada do adjetivo digital. A expressão 'literacia digital' diz respeito à capacidade de uma pessoa encontrar, avaliar e comunicar informações por meio de plataformas digitais. Porém, cada vez com frequência maior ela aparece na pauta dos gestores e no contexto de habilidades tecnológicas: tornou-se um dos maiores pontos nevrálgicos das companhias.
Quando até crianças pequenas estão familiarizadas com smartphones, parece estranho falarmos sobre o tema. Até lembrarmos que 1,1 bilhão de empregos provavelmente serão radicalmente transformados pela Quarta Revolução Industrial, mudanças na cadeia de suprimentos e transição energética, como recentemente sublinhou a diretora executiva do Fórum Econômico Mundial, Saadia Zahidi. Ou seja: o tema da requalificação/requalificação é dos mais urgentes em todo o mundo – tanto nos países desenvolvidos, quanto nas economias emergentes.
Como ressaltou o estudo "O impacto da Inteligência artificial no futuro da força de trabalho na União Europeia e nos EUA", publicado no fim do ano pela Casa Branca, a Inteligência Artificial tem o potencial de aumentar a produtividade, criar novos empregos e elevar os padrões de vida. Contudo, o fato de poder realizar tarefas antes consideradas estritamente do domínio dos humanos, trará disrupção em inúmeras áreas e tarefas, o que exigirá "ajustes difíceis para os trabalhadores, pois os empregos são redesenhados ou as habilidades necessárias mudam".
Trocando em miúdos: se a velocidade dos avanços tecnológicos é grande aliada dos trabalhadores qualificados, que ainda assim terão que abraçar a educação contínua, por conta da produção de novos conhecimentos que cada vez mais rapidamente substituirão muitas das habilidades adquiridas previamente, no caso da mão-de-obra não-qualificada o assunto ganha contornos mais dramáticos. E é o que está fazendo com que governos mundo afora corram para fechar um ‘gap’ que, se deixado para depois, pode ficar cada vez maior e mais difícil de transpor.
A iliteracia tecnológica também tira o sono das lideranças empresariais por ser um dos maiores obstáculos à inovação e à cultura que permite que a inovação aflore. E ambas são fundamentais para que as companhias prosperem - ou mesmo, sobrevivam - face à pressão cada vez maior por transformação digital efetiva, permeando toda a empresa.Como publicou o site americano Silicon Republic, é imperativo que haja uma mentalidade digital nas organizações, pois a demanda por habilidades tecnológicas, a exemplo do que ocorre com as chamadas ‘soft skills’ (habilidades sociais, emocionais e cognitivas), só fará aumentar.
Vale lembrar, por exemplo, o uso cada vez maior, em uma gama variada de empresas nos mais diferentes segmentos, de plataformas de análise e inteligência de negócios (BI). Elas permitem aos profissionais de áreas vistas como menos técnicas modelar, analisar e gerenciar dados. Mas o critério “menos técnico” também está se transformando: caminhamos rapidamente para teroBI como parte da cultura da empresa.
Isso faz com que os profissionais estejam sendo desafiados a aprender novas habilidades em um ritmo sem precedentes. Nos Estados Unidos, um estudo realizado pelo Burning Glass Institute, o Business Higher Education Forum e a editora Wiley, considerando anúncios publicados com vagas de trabalho, mostrou que em 10 anos aumentou em quatro vezes a procura de pessoas com habilidades de análise de dados. O campo de atuação também creceu 4,7 vezes: em 2011, a habilidade era requisito em 17 tipos de ocupação; em 2021, segundo os últimos dados disponíveis, passou a 81.
O estudo americano mostrou que muitas dessas habilidades estão se espalhando para os empregos existentes, exigindo aprendizado dos trabalhadores para aplicá-las. a mas que tal disseminação também está ocorrendo em novas ocupações criadas por essas habilidades em evolução. Eu iria além: não se trata apenas de "o quê", mas também do "como", da própria maneira como se organiza a força de trabalho, como, por exemplo, em squads. Cada vez mais, os recrutadores vão avaliar acapacidade de um candidato trabalhar usando métodos ágeis, por exemplo, na hora de preencher uma vaga.
A despeito de todos os indícios e alertas, o fato é que muitos líderes se apegam ao conceito - equivocado - de que tecnologia é assunto só para quem trabalha no setor de TI. Fecham os olhos para o fato inegável de que que a tecnologia evolui em tal ritmo e abrangência que quem não acompanhar seu passo, poderá depois ter imensa dificuldade para alcançar as mudanças no trabalho.
Para evitar que tal ocorra, as empresas também terão de assumir seu papel em campo que muitos acreditavam ser exclusivo de escolas técnicas ou universidades. Seja através de universidades corporativas, seja através de parceiros especializados, estes novos skills têm de ser trazidos para dentro da organização.
São vitais para o crescimento sustentável das empresas habilidades como 'problem solving' (coloco em inglês pois a expressão se consagrou nesta língua, por ser talvez uma das mais buscadas mundo afora) - ou seja, a capacidade de identificar problemas, debater e analisar respostas e implementar as melhores soluções. São skills a serem aprendidos, permanentemente burilados e aplicados diariamente no trabalho.
Aos líderes que procrastinam a implantação de programas de requalificação e literacia digital, vale lembrar que não se trata apenas de garantir o fluxo de inovação para suas companhias se manterem competitivas. Ao tornar nosso dia a dia profissional mais eficiente, a automação lastreada em inteligência artificial libera tempo precioso e hoje raro, inclusive para o upskilling de suas equipes.
Em tempos em que se discute a implantação de uma semana de trabalho mais curta, esse tempo poderá ser utilizado não apenas para melhor qualidade de vida – e consequentemente, maior produtividade – de todos, mas também para o aprendizado de novos conhecimentos.
Como qualquer um que já interagiu com o ChatGPT sabe do imenso potencial da IA nos negócios, mas também sabe que algoritmos de IA frequentemente são rígidos, incapazes de responder a algo fora de seus parâmetros pré-programados. Traduzindo: não se trata de substituir pessoas por algoritmos, mas de colocar os algoritmos a seu trabalho.
A exemplo da história do copo meio cheio, meio vazio, há duas maneiras de se encarar a revolução tecnológica. Fico com o olhar positivo da força-tarefa do Massachussets Institute of Technology (MIT) em um estudo sobre o futuro do trabalho: nestes tempos disruptivos, a tecnologia abre inúmeras possibilidades para nós, trabalhadores humanos. Basta estarmos abertos para elas.
É preciso seguir fazendo o que sempre fizemos desde que o Homo Sapiens surgiu: adaptação e aprendizagem, aprendizagem e adaptação. Foram estas duas capacidades que nos trouxeram até aqui. E serão elas que nos levarão adiante.