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Médias empresas, grandes desafios

Em sua jornada, as médias empresas superaram muitos obstáculos que acompanham as dores do crescimento, a começar pela etapa de profissionalização

O cenário adverso atual desafia ainda mais as médias empresas quanto à sua competência em gerir caixa e liquidez (sukanya sitthikongsak/Getty Images)
KS

Karina Souza

Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 21h23.

Última atualização em 1 de dezembro de 2020 às 21h24.

As chamadas PME s, Pequenas e Médias empresas, geraram em 2019 cerca de 30% do PIB brasileiro e de 80% dos empregos. Combine esta relevância, a maturidade de gestão e governança destas empresas com a crise econômica decorrente da sanitária e temos a tempestade perfeita.

No início da pandemia , sem muita visibilidade do que viria pela frente, grandes empresas trataram de acessar crédito privado para reforçar seus caixas e garantirem suas operações. Pequenas e médias empresas dependeram mais fortemente do amparo emergencial do governo à economia, um conjunto de iniciativas de incentivo combinado com fomento ao crédito privado.

Para citar algumas delas, há o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), o Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese), o Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (PEAC). Mais recente é o programa Capital de Giro para Preservação de Empresas (CGPE). Compreender essa “sopa de letrinhas” para acessar os benefícios possíveis é apenas o começo dos desafios das pequenas e médias empresas.

A dificuldade começa já na identidade destas empresas. Para saber quem são elas, pode ser utilizado o critério de faturamento, abrangendo desde 360 mil até 300 milhões de reais/ ano, ou o número de funcionários, que vai de 50 até mais de 500. Por estas amplas faixas e ausência de critérios padronizados para defini-las, é possível afirmar que lidamos com um universo muito amplo e diverso de empresas.

Às vezes são unidas as micro com as pequenas empresas, em outros casos as médias com as grandes. Um olhar mais atento a cada uma delas é necessário para entender seus desafios. Propomos um holofote sobre as médias empresas, talvez o tipo menos discutida deste universo de tipos de empresas, apesar de somarem 66 mil CNPJs no Brasil e gerarem cerca de 21% dos empregos formais.

Em sua jornada, as médias empresas superaram muitos obstáculos que acompanham as dores do crescimento, a começar pela etapa de profissionalização. Nesta fase, começam a organizar sua gestão de caixa, a planejar melhor o capital para investimento e buscam regularizar questões tributárias e fiscais. Vencida essa fase, começam a prestar atenção às questões culturais, a necessidade de desenvolver pessoas e fortalecer valores, de modo a não perderem sua essência com a expansão do negócio.

Governança também é uma questão nesta etapa, pois a tomada de decisão pode se tornar mais complexa, requerendo maior clareza na definição dos papéis dos sócios e a orientação de um Conselho de Administração ou mesmo de um Conselho Consultivo. Por fim, ingressam na fase que as aproximará das grandes empresas, quando direcionam seu olhar para a perenidade do negócio, buscando inovação, tecnologia e transformação. Competências de gestão e liderança serão sempre decisivas em todas as fases.

O cenário adverso atual desafia ainda mais as médias empresas quanto à sua competência em gerir caixa e liquidez. Por estarem muitas vezes em setores com baixas barreiras de entrada, as médias empresas estão presentes em setores muito afetados pela crise. Neste momento, certamente pairam muitas dúvidas sobre essas empresas, como por exemplo o receio de serem engolidas pelas grandes, que ainda tem vantagens ligadas à escala, ou de perda de competitividade para as pequenas, que tem estruturas mais enxutas, diluídas mais facilmente com menores volumes de vendas, e mesmo alguns incentivos fiscais.

Sair do recheio deste sanduíche entre pequenas e grandes empresas é missão de uma liderança que coloca mais a mão na massa do que deveria ou gostaria. É uma liderança protagonista, resiliente, com veia empreendedora, que faz as coisas acontecerem. Isto, entretanto, dificulta o desenvolvimento do time e a agilidade, por conta de processos que precisam ser mais descentralizados, o que pode ser facilitado por metas bem desdobradas que alinhem o time para a direção certa.

Para seguir esta direção são necessários faróis baixo e alto, que garantam a sobrevivência da empresa no curto prazo e que permitam à empresa se transformar no médio e longo prazos, inclusive aproveitando oportunidades trazidas pela pandemia, tais como a redefinição das cadeias produtivas decorrentes da desglobalização e patamares mais baixos das taxas de juros que podem viabilizar investimentos.

Sem academicismos, os líderes de médias empresas buscam construir uma gestão à sua medida, pois sabem da especificidade das suas dores. Interessam-se por conhecimentos que tenham aplicação prática e tragam resultados concretos. Essa liderança tem consciência de sua responsabilidade em trazer o futuro para a empresa e aqui surgem as tendências do novo normal e a transformação digital.

Entretanto, por muitas vezes terem crescido junto com a empresa como gestores, não tem outra experiência senão a sua própria para orientar o crescimento da empresa, e trocas de experiências e mesmo contar com profissionais que traduzam o novo mundo e toda a sua tecnologia para a sua linguagem pode ser valioso para que a jornada da empresa não seja abreviada.

Da mesma forma que reconhecemos o mérito de médias empresas terem chegado até este patamar em um país sem tantos incentivos ao empreendedorismo, onde a mortalidade de novas empresas é alta, precisamos compreender que seus desafios são também particulares deste tipo de empresas. Em um momento em que muitos destes líderes possam viver o dilema entre encolher para sobreviver ou preparar para voltar a crescer, o desafio de cada empresa depende de qual etapa de sua jornada ela se encontra, que representa o quanto sua gestão e governança já amadureceram.

Depende também de sua capacidade de adaptação, das competências essenciais de que seu time dispõe para reinventar um modelo de negócios, produtos, serviços e a forma de se relacionar com seus clientes. Enfim, não é sensato esperar por respostas prontas, mas é preciso fazer as perguntas certas.

As chamadas PME s, Pequenas e Médias empresas, geraram em 2019 cerca de 30% do PIB brasileiro e de 80% dos empregos. Combine esta relevância, a maturidade de gestão e governança destas empresas com a crise econômica decorrente da sanitária e temos a tempestade perfeita.

No início da pandemia , sem muita visibilidade do que viria pela frente, grandes empresas trataram de acessar crédito privado para reforçar seus caixas e garantirem suas operações. Pequenas e médias empresas dependeram mais fortemente do amparo emergencial do governo à economia, um conjunto de iniciativas de incentivo combinado com fomento ao crédito privado.

Para citar algumas delas, há o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), o Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese), o Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (PEAC). Mais recente é o programa Capital de Giro para Preservação de Empresas (CGPE). Compreender essa “sopa de letrinhas” para acessar os benefícios possíveis é apenas o começo dos desafios das pequenas e médias empresas.

A dificuldade começa já na identidade destas empresas. Para saber quem são elas, pode ser utilizado o critério de faturamento, abrangendo desde 360 mil até 300 milhões de reais/ ano, ou o número de funcionários, que vai de 50 até mais de 500. Por estas amplas faixas e ausência de critérios padronizados para defini-las, é possível afirmar que lidamos com um universo muito amplo e diverso de empresas.

Às vezes são unidas as micro com as pequenas empresas, em outros casos as médias com as grandes. Um olhar mais atento a cada uma delas é necessário para entender seus desafios. Propomos um holofote sobre as médias empresas, talvez o tipo menos discutida deste universo de tipos de empresas, apesar de somarem 66 mil CNPJs no Brasil e gerarem cerca de 21% dos empregos formais.

Em sua jornada, as médias empresas superaram muitos obstáculos que acompanham as dores do crescimento, a começar pela etapa de profissionalização. Nesta fase, começam a organizar sua gestão de caixa, a planejar melhor o capital para investimento e buscam regularizar questões tributárias e fiscais. Vencida essa fase, começam a prestar atenção às questões culturais, a necessidade de desenvolver pessoas e fortalecer valores, de modo a não perderem sua essência com a expansão do negócio.

Governança também é uma questão nesta etapa, pois a tomada de decisão pode se tornar mais complexa, requerendo maior clareza na definição dos papéis dos sócios e a orientação de um Conselho de Administração ou mesmo de um Conselho Consultivo. Por fim, ingressam na fase que as aproximará das grandes empresas, quando direcionam seu olhar para a perenidade do negócio, buscando inovação, tecnologia e transformação. Competências de gestão e liderança serão sempre decisivas em todas as fases.

O cenário adverso atual desafia ainda mais as médias empresas quanto à sua competência em gerir caixa e liquidez. Por estarem muitas vezes em setores com baixas barreiras de entrada, as médias empresas estão presentes em setores muito afetados pela crise. Neste momento, certamente pairam muitas dúvidas sobre essas empresas, como por exemplo o receio de serem engolidas pelas grandes, que ainda tem vantagens ligadas à escala, ou de perda de competitividade para as pequenas, que tem estruturas mais enxutas, diluídas mais facilmente com menores volumes de vendas, e mesmo alguns incentivos fiscais.

Sair do recheio deste sanduíche entre pequenas e grandes empresas é missão de uma liderança que coloca mais a mão na massa do que deveria ou gostaria. É uma liderança protagonista, resiliente, com veia empreendedora, que faz as coisas acontecerem. Isto, entretanto, dificulta o desenvolvimento do time e a agilidade, por conta de processos que precisam ser mais descentralizados, o que pode ser facilitado por metas bem desdobradas que alinhem o time para a direção certa.

Para seguir esta direção são necessários faróis baixo e alto, que garantam a sobrevivência da empresa no curto prazo e que permitam à empresa se transformar no médio e longo prazos, inclusive aproveitando oportunidades trazidas pela pandemia, tais como a redefinição das cadeias produtivas decorrentes da desglobalização e patamares mais baixos das taxas de juros que podem viabilizar investimentos.

Sem academicismos, os líderes de médias empresas buscam construir uma gestão à sua medida, pois sabem da especificidade das suas dores. Interessam-se por conhecimentos que tenham aplicação prática e tragam resultados concretos. Essa liderança tem consciência de sua responsabilidade em trazer o futuro para a empresa e aqui surgem as tendências do novo normal e a transformação digital.

Entretanto, por muitas vezes terem crescido junto com a empresa como gestores, não tem outra experiência senão a sua própria para orientar o crescimento da empresa, e trocas de experiências e mesmo contar com profissionais que traduzam o novo mundo e toda a sua tecnologia para a sua linguagem pode ser valioso para que a jornada da empresa não seja abreviada.

Da mesma forma que reconhecemos o mérito de médias empresas terem chegado até este patamar em um país sem tantos incentivos ao empreendedorismo, onde a mortalidade de novas empresas é alta, precisamos compreender que seus desafios são também particulares deste tipo de empresas. Em um momento em que muitos destes líderes possam viver o dilema entre encolher para sobreviver ou preparar para voltar a crescer, o desafio de cada empresa depende de qual etapa de sua jornada ela se encontra, que representa o quanto sua gestão e governança já amadureceram.

Depende também de sua capacidade de adaptação, das competências essenciais de que seu time dispõe para reinventar um modelo de negócios, produtos, serviços e a forma de se relacionar com seus clientes. Enfim, não é sensato esperar por respostas prontas, mas é preciso fazer as perguntas certas.

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