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JOMO, segurança psicológica e a vida no escritório pós-pandemia

Em sua coluna desta semana, Viviane Martins, CEO da Falconi, discute o impacto do excesso de informações no dia a dia dos profissionais

Saúde mental (Pikisuperstar/Freepik/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de maio de 2022 às 15h24.

Por Viviane Martins, CEO da Falconi

Ainda em 2019, na cidade de Austin, no Texas, um tema começava a ganhar força nos corredores do South by Southwest (SXSW), provavelmente o maior evento de inovação do mundo. À época, em um mundo no qual a pandemia aparentava ser apenas um tema de ficção científica, a reflexão levantada pelos participantes e por alguns dos maiores especialistas do planeta era de que o “FOMO” (Fear of missing out - ou medo de ficar por fora, em tradução livre) começava a dar lugar ao “JOMO” (Joy of missing out - felicidade em ficar por fora).

Na prática, o que o conceito tinha de proposta era uma pausa para as pessoas refletirem e aceitarem de que não é possível acompanhar tudo de perto e de que nem todas as discussões do momento demandam opiniões, principalmente no campo das redes sociais. Pesquisas mostravam, como uma conduzida pelas universidades de Carleton e McGill, no Canadá, que jovens estudantes tinham picos de FOMO às sextas-feiras e aos fins de semana, quando se sentiam “para trás” por não estarem nas mesmas festas, encontros e eventos dos colegas. A sensação, segundo o estudo, era de ser deixado de lado.

Essa impressão serviu como provocação para muitas empresas e seus funcionários, principalmente após a chegada da pandemia, quando o mundo passou por uma revolução digital e de comunicação. Se de um lado o JOMO ganhava força, do outro a necessidade de estar bem-informado nunca foi tão alta, colocando a sociedade frente a frente com diversos temas delicados diariamente, seja em campos como saúde, finanças e segurança, mas também nas questões do trabalho e das relações interpessoais entre líderes e liderados.

As mudanças causadas pelo período da pandemia trouxeram​ à pauta das organizações temas urgentes como saúde mental e segurança psicológica no ambiente profissional. Além de auxílios focados em psicoterapia, saúde física e jornadas mais flexíveis, o momento extremo trouxe para o topo do funil o simples ato de poder expressar opiniões com tranquilidade – sejam elas até exemplos como “Não sei do que se trata” ou “Não acompanhei este tema a fundo”, que o JOMO tanto profere.

Dentro do tema de segurança psicológica, ficou evidente a necessidade de as lideranças criarem ambientes profissionais colaborativos e tolerantes com os erros, que permitam aos colaboradores se sentirem seguros de que não serão punidos nem suas carreiras serão afetadas se errarem, e pedir ajuda para repará-los. São movimentos simples como esses que fomentam a inovação nas corporações, principalmente em tempos de home office, trabalho híbrido e reabertura dos escritórios - e quando o velho FOMO ronda aqueles que optaram por um modelo diferente do de seus colegas.

O fato é que, segundo especialistas da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica, muito da alta de turnover, absenteísmo e presenteísmo pode-se creditar à falta de acolhimento das corporações com seus profissionais.  Quando um profissional não se sente à vontade para compartilhar ideias, insights e até mesmo desconfianças, dificilmente encontrará autonomia para arriscar movimentos ousados, incorrer no risco de desenvolver algo diferente. E, normalmente, seriam essas grandes ferramentas catalisadoras da inovação.

As empresas têm enfrentado sérios desafios desde a reabertura dos escritórios e a definição dos modelos de trabalho híbrido e remoto. Para manter a segurança psicológica dos colaboradores, é importante apostar em práticas como feedbacks frequentes, colaboração, escuta ativa e tolerância aos erros. A corporação deve também aprender a incentivar seus profissionais a arriscar, tomar decisões e a serem criativos, dentro, claro, da cultura da paciência com o erro e seu consequente aprendizado.

Sem transtornar os funcionários com a cultura do FOMO e retirando o que há de melhor dos conceitos leves do JOMO, empresas devem aprender a não deixar ninguém se sentir “de lado” e também a dar espaço e autonomia para as pessoas sentirem e compartilharem o que quiserem, quando quiserem.É preciso fomentar a liberdade de expressão, sempre, claro, de maneira ética e respeitosa. E é igualmente necessário que as empresas estejam preparadas para uma escuta ativa, com total respeito à individualidade, mas sem espaço para o individualismo.

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Por Viviane Martins, CEO da Falconi

Ainda em 2019, na cidade de Austin, no Texas, um tema começava a ganhar força nos corredores do South by Southwest (SXSW), provavelmente o maior evento de inovação do mundo. À época, em um mundo no qual a pandemia aparentava ser apenas um tema de ficção científica, a reflexão levantada pelos participantes e por alguns dos maiores especialistas do planeta era de que o “FOMO” (Fear of missing out - ou medo de ficar por fora, em tradução livre) começava a dar lugar ao “JOMO” (Joy of missing out - felicidade em ficar por fora).

Na prática, o que o conceito tinha de proposta era uma pausa para as pessoas refletirem e aceitarem de que não é possível acompanhar tudo de perto e de que nem todas as discussões do momento demandam opiniões, principalmente no campo das redes sociais. Pesquisas mostravam, como uma conduzida pelas universidades de Carleton e McGill, no Canadá, que jovens estudantes tinham picos de FOMO às sextas-feiras e aos fins de semana, quando se sentiam “para trás” por não estarem nas mesmas festas, encontros e eventos dos colegas. A sensação, segundo o estudo, era de ser deixado de lado.

Essa impressão serviu como provocação para muitas empresas e seus funcionários, principalmente após a chegada da pandemia, quando o mundo passou por uma revolução digital e de comunicação. Se de um lado o JOMO ganhava força, do outro a necessidade de estar bem-informado nunca foi tão alta, colocando a sociedade frente a frente com diversos temas delicados diariamente, seja em campos como saúde, finanças e segurança, mas também nas questões do trabalho e das relações interpessoais entre líderes e liderados.

As mudanças causadas pelo período da pandemia trouxeram​ à pauta das organizações temas urgentes como saúde mental e segurança psicológica no ambiente profissional. Além de auxílios focados em psicoterapia, saúde física e jornadas mais flexíveis, o momento extremo trouxe para o topo do funil o simples ato de poder expressar opiniões com tranquilidade – sejam elas até exemplos como “Não sei do que se trata” ou “Não acompanhei este tema a fundo”, que o JOMO tanto profere.

Dentro do tema de segurança psicológica, ficou evidente a necessidade de as lideranças criarem ambientes profissionais colaborativos e tolerantes com os erros, que permitam aos colaboradores se sentirem seguros de que não serão punidos nem suas carreiras serão afetadas se errarem, e pedir ajuda para repará-los. São movimentos simples como esses que fomentam a inovação nas corporações, principalmente em tempos de home office, trabalho híbrido e reabertura dos escritórios - e quando o velho FOMO ronda aqueles que optaram por um modelo diferente do de seus colegas.

O fato é que, segundo especialistas da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica, muito da alta de turnover, absenteísmo e presenteísmo pode-se creditar à falta de acolhimento das corporações com seus profissionais.  Quando um profissional não se sente à vontade para compartilhar ideias, insights e até mesmo desconfianças, dificilmente encontrará autonomia para arriscar movimentos ousados, incorrer no risco de desenvolver algo diferente. E, normalmente, seriam essas grandes ferramentas catalisadoras da inovação.

As empresas têm enfrentado sérios desafios desde a reabertura dos escritórios e a definição dos modelos de trabalho híbrido e remoto. Para manter a segurança psicológica dos colaboradores, é importante apostar em práticas como feedbacks frequentes, colaboração, escuta ativa e tolerância aos erros. A corporação deve também aprender a incentivar seus profissionais a arriscar, tomar decisões e a serem criativos, dentro, claro, da cultura da paciência com o erro e seu consequente aprendizado.

Sem transtornar os funcionários com a cultura do FOMO e retirando o que há de melhor dos conceitos leves do JOMO, empresas devem aprender a não deixar ninguém se sentir “de lado” e também a dar espaço e autonomia para as pessoas sentirem e compartilharem o que quiserem, quando quiserem.É preciso fomentar a liberdade de expressão, sempre, claro, de maneira ética e respeitosa. E é igualmente necessário que as empresas estejam preparadas para uma escuta ativa, com total respeito à individualidade, mas sem espaço para o individualismo.

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