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Em tempos de incerteza, ambidestria

Em sua coluna desta semana, Viviane Martins, CEO da Falconi, discute o desafio de aumentar os resultados do presente sem renunciar às vitórias do futuro

 (Pixabay/Reprodução)
(Pixabay/Reprodução)
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Viviane Martins

Publicado em 23 de agosto de 2022 às, 11h25.

Estar à frente de uma corporação é, por vezes, um grande exercício de onipresença, não em locais, mas em tempos diversos. É preciso, ao mesmo tempo, olhar para trás, de forma a celebrar as vitórias e aprender com os erros; viver o dia a dia, conciliando produtividade e o cuidado com as pessoas, e, por fim, planejar o futuro, buscando inovação e se mantendo atento às tecnologias que podem mudar o seu negócio como um todo. Como preconiza o título de um dos maiores sucessos de bilheteria de Hollywood deste ano, tem-se de estar em “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”.

O nome do filme pode parecer assustador. Mas vale

como boa provocação para as corporações, lembrando que para se evitar que esse “multiverso” se torne uma grande loucura (remetendo ao título de outro blockbuster de 2022), é preciso adotar o que chamamos de ambidestria organizacional. Em tempos de incertezas macroeconômicas por múltiplos fatores coincidentes (pandemias, guerras, eleições, etc.), adotá-la pode ser uma saída interessante para a perenidade de um negócio.

Na prática, o conceito é simples e poderia ser traduzido por outra palavra: equilíbrio. Manter-se ambidestro no campo da gestão se refere a tocar duas frentes simultaneamente, sem que uma tire a atenção dedicada à outra. Fala sobre como atender aos objetivos gerais, dentro do curto, médio e longo prazo, integrando-os também aos investimentos em inovação e ao fundamental alinhamento ESG.

Essa "demanda ambidestra” tem ganhado cada vez mais força por motivos variados. Entre eles, estão o desafio de mudar a perspectiva de execução para um olhar mais voltado ao planejamento; ao mesmo tempo em que a busca pela inovação se torna uma incessante (e nem sempre produtiva) busca pela inovação.

Ou seja, precisa-se dos dois lados da moeda, não só em um único, no qual as corporações focam apenas no valor que já oferecem e no sucesso que aquilo lhes traz (ou trouxe). Afinal, os riscos desse tipo de comportamento são conhecidos, principalmente entre incumbentes: se o setor se depara com uma mudança radical, torna-se difícil, muitas vezes improvável, acompanhar os novos players, e empresas, que um dia foram líderes tradicionais, são rapidamente superadas.

Há que se levar em conta também que olha só para outro lado. São empresas que inovam, porque sabem que precisam inovar, mas não necessariamente se planejam para isso. Porque, na prática, inovar não é o suficiente. É preciso equilibrar, por exemplo, as chamadas inovações incrementais e as inovações disruptivas. É atender às necessidades atuais dos consumidores, incrementando novas usabilidades para clientes e modelos de negócio conhecidos, como também trazer novas soluções e produtos para o portfólio. Tudo isso amparado por um planejamento estratégico, metas e métricas bem definidas e governança.

Ou seja, é tudo isso, sim. E ao mesmo tempo e em toda a empresa. O desafio não é simples, mas concomitantemente preservar o legado do passado, cuidar do presente e se preparar para o futuro é uma pauta urgente entre as companhias. E quem não se preparar para fazê-lo agora, poderá ter de encarar dificuldades ainda maiores lá na frente.