Vai haver uma Explosão Biden?
O ex-vice-presidente Joe Biden está em posição muito mais sólida do que Hillary Clinton estava a essa altura da eleição
Matheus Doliveira
Publicado em 8 de outubro de 2020 às 13h24.
Última atualização em 8 de outubro de 2020 às 13h26.
No início do ano, Wall Street tinha quase certeza de que o presidente Trump seria reeleito. Pesquisa do Citigroup com gestores de fundos identificou que 70% acreditavam que Trump ganharia. Até o fim de abril, grandes investidores ainda estavam à espera de uma vitória de Trump.
A essa altura, porém, a dianteira está com o pé quebrado. Como (não) dizem os adesivos de carro, coisas acontecem, e Trump ainda pode sair por cima dessa – ou simplesmente tentar roubar a eleição , digamos, barrando a contagem de cédulas de votação enviadas pelo correio, possibilidade que ainda mantém muitos de nós sem dormir direito. Porém, o ex-vice-presidente Joe Biden está em posição muito mais sólida do que Hillary Clinton estava a essa altura; duas novas pesquisas da Pennsylvania, o mais provável dos Estados para desempatar a disputa, dão a Biden nove pontos de vantagem, sugerindo que está se tornando improvável uma reprise de 2016 – quando Trump perdeu no voto popular, mas se salvou com uma vitória no colégio eleitoral com uma vantagem apertada nos Estados do Cinturão da Ferrugem.
O que mudou? A pandemia, é óbvio. Mas além disso, neste ano está muito claro que não é a economia, estúpido.
As expectativas de uma vitória de Trump se baseavam em grande parte na crença de que os eleitores dariam a ele crédito pela criação de empregos nos três primeiros anos de seu governo. Desde então, porém, duas coisas vêm acontecendo. Primeiro, a economia sumiu como tema, ofuscada pela pandemia e, de certo modo, pelo movimento Black Lives Matter e a resposta belicosa do governo a ele. Segundo, a vantagem de Trump sobre a economia também parece ter desaparecido.
Por isso, pesquisa recente do Washington Post identificou os eleitores quase igualmente divididos quanto à pergunta sobre Trump ou Biden ser capaz de cuidar melhor da economia. Uma pesquisa do New York Times não fez esta pergunta, mas questionou os eleitores sobre a responsabilidade de Trump pela recessão do coronavírus; 53% disseram que ele era de fato o principal responsável, ou um dos maiores responsáveis.
Porém, em algum momento Trump mereceu ser considerado melhor na gestão econômica? Como muita gente destacou, o crescimento econômico nos primeiros três anos da gestão dele basicamente representou a continuação de uma tendência que começou no governo de Barack Obama. Se você não soubesse que houve eleição em 2016, não teria motivo para achar que alguma coisa mudou.
De modo mais amplo, um olhar para o passado sugere que a percepção generalizada de que os republicanos são melhores para a economia americana não se sustenta na realidade. Se existe diferença, é no sentido oposto. Basicamente, a economia esteve tão bem com Bill Clinton quanto com Ronald Reagan, e nada melhor com Trump, mesmo na pré-pandemia, do que foi com Obama, ao passo que os dois George Bush governaram em tempos bastante complicados.
E quanto a olhar para a frente? Recentemente a Moody’s Analytics, empresa de consultoria não-partidária, criou um certo agito com uma avaliação dos prováveis efeitos macroeconômicos da eleição presidencial. A empresa argumentou que Biden seria significamente melhor – e que, caso haja uma virada democrata, até o fim de 2024 o produto interno bruto real seria 4,5% maior e teríamos 7,4 milhões mais empregos do que em um cenário em que Trump permanece no poder.
O que sustenta essas conclusões é a crença da Moddy – que eu compartilho – de que o grande problema que teremos após o coronavírus recuar será a persistente fraqueza nos investimentos. O corte de impostos de empresas que Trump fez em 2017 supostamente incentivaria uma explosão de investimentos de empresas, só que isso não aconteceu. Biden, em comparação, vem propondo investimento público de grande escala, o que compensaria a desaceleração, ao passo que as repetidas declarações de Trump sobre uma “ semana da infraestrutura ” já viraram piada. E do que nós precisamos é investimento público.
Ou seja, esta eleição não vai ter a ver com a economia. Mas mesmo que tivesse, Trump não devia estar com a vantagem.
No início do ano, Wall Street tinha quase certeza de que o presidente Trump seria reeleito. Pesquisa do Citigroup com gestores de fundos identificou que 70% acreditavam que Trump ganharia. Até o fim de abril, grandes investidores ainda estavam à espera de uma vitória de Trump.
A essa altura, porém, a dianteira está com o pé quebrado. Como (não) dizem os adesivos de carro, coisas acontecem, e Trump ainda pode sair por cima dessa – ou simplesmente tentar roubar a eleição , digamos, barrando a contagem de cédulas de votação enviadas pelo correio, possibilidade que ainda mantém muitos de nós sem dormir direito. Porém, o ex-vice-presidente Joe Biden está em posição muito mais sólida do que Hillary Clinton estava a essa altura; duas novas pesquisas da Pennsylvania, o mais provável dos Estados para desempatar a disputa, dão a Biden nove pontos de vantagem, sugerindo que está se tornando improvável uma reprise de 2016 – quando Trump perdeu no voto popular, mas se salvou com uma vitória no colégio eleitoral com uma vantagem apertada nos Estados do Cinturão da Ferrugem.
O que mudou? A pandemia, é óbvio. Mas além disso, neste ano está muito claro que não é a economia, estúpido.
As expectativas de uma vitória de Trump se baseavam em grande parte na crença de que os eleitores dariam a ele crédito pela criação de empregos nos três primeiros anos de seu governo. Desde então, porém, duas coisas vêm acontecendo. Primeiro, a economia sumiu como tema, ofuscada pela pandemia e, de certo modo, pelo movimento Black Lives Matter e a resposta belicosa do governo a ele. Segundo, a vantagem de Trump sobre a economia também parece ter desaparecido.
Por isso, pesquisa recente do Washington Post identificou os eleitores quase igualmente divididos quanto à pergunta sobre Trump ou Biden ser capaz de cuidar melhor da economia. Uma pesquisa do New York Times não fez esta pergunta, mas questionou os eleitores sobre a responsabilidade de Trump pela recessão do coronavírus; 53% disseram que ele era de fato o principal responsável, ou um dos maiores responsáveis.
Porém, em algum momento Trump mereceu ser considerado melhor na gestão econômica? Como muita gente destacou, o crescimento econômico nos primeiros três anos da gestão dele basicamente representou a continuação de uma tendência que começou no governo de Barack Obama. Se você não soubesse que houve eleição em 2016, não teria motivo para achar que alguma coisa mudou.
De modo mais amplo, um olhar para o passado sugere que a percepção generalizada de que os republicanos são melhores para a economia americana não se sustenta na realidade. Se existe diferença, é no sentido oposto. Basicamente, a economia esteve tão bem com Bill Clinton quanto com Ronald Reagan, e nada melhor com Trump, mesmo na pré-pandemia, do que foi com Obama, ao passo que os dois George Bush governaram em tempos bastante complicados.
E quanto a olhar para a frente? Recentemente a Moody’s Analytics, empresa de consultoria não-partidária, criou um certo agito com uma avaliação dos prováveis efeitos macroeconômicos da eleição presidencial. A empresa argumentou que Biden seria significamente melhor – e que, caso haja uma virada democrata, até o fim de 2024 o produto interno bruto real seria 4,5% maior e teríamos 7,4 milhões mais empregos do que em um cenário em que Trump permanece no poder.
O que sustenta essas conclusões é a crença da Moddy – que eu compartilho – de que o grande problema que teremos após o coronavírus recuar será a persistente fraqueza nos investimentos. O corte de impostos de empresas que Trump fez em 2017 supostamente incentivaria uma explosão de investimentos de empresas, só que isso não aconteceu. Biden, em comparação, vem propondo investimento público de grande escala, o que compensaria a desaceleração, ao passo que as repetidas declarações de Trump sobre uma “ semana da infraestrutura ” já viraram piada. E do que nós precisamos é investimento público.
Ou seja, esta eleição não vai ter a ver com a economia. Mas mesmo que tivesse, Trump não devia estar com a vantagem.