Exame Logo

Startups buscam alternativas de captação para impulsionar negócios

A captação de recursos é necessária para grande parte dos negócios de tecnologia e startups e, atualmente, há um novo formato emergindo

Startups: Conseguir capital para injetar no negócio, geralmente, é uma jornada difícil, que exige muito do founder (gorodenkoff/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2021 às 11h33.

Última atualização em 30 de setembro de 2021 às 11h33.

Por Tallis Gomes

Conseguir capital para injetar no negócio, geralmente, é uma jornada difícil, que exige muito do founder, principalmente para pequenas empresas e para quem está começando. Cientes do cenário que têm pela frente, as startups vêm explorando formas alternativas de obtenção de recursos para poderem escalar seus negócios. Por conta disso, uma das modalidades de captação mais recentes chama a atenção pela sofisticação da operação: a securitização de recebíveis.

O formato não é novo no mercado, mas pode representar um marco no setor de startups pela praticidade e facilidade de se levantar recursos por meio de papéis como CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) ou CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) que são colocados junto a investidores.

Os CRIs e CRAs são amplamente utilizados no mercado brasileiro, chegando a alcançar certo protagonismo em operações de títulos com grande repercussão entre os investidores nas últimas décadas. Portanto, a securitização tem sido uma saída constante para a alavancagem de recursos, tanto para o mercado imobiliário, quanto para o agronegócio. A diferença é que agora o mercado tech começou a utilizá-la.

Com a finalidade dessas modalidades de captação evidenciada, torna-se fundamental explicar como elas funcionam. Enquanto os CRIs são títulos de emissão exclusiva das securitizadoras imobiliárias – na prática, configuram uma promessa de pagamento em dinheiro e seu lastro é proveniente de créditos imobiliários, ou seja, referentes à aquisição de imóveis, por exemplo –, os CRAs consistem em títulos de renda fixa lastreados em recebíveis de negócios feitos entre produtores rurais ou suas cooperativas e terceiros, incluindo financiamentos e empréstimos associados à produção e comercialização, de modo que os recursos sejam utilizados na produção voltada a esse setor. Apenas as companhias securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio estão habilitadas a fazer a emissão dos CRAs.

De acordo com a ABSIA – Associação Brasileira de Securitizadoras Imobiliárias e de Agronegócio  –, que congrega as nove maiores empresas do segmento no Brasil, responsáveis por mais de 90% do mercado de emissões de CRIs e CRAs em 2020, esses títulos representam 20% do total de papéis emitidos no país e equivalem ao total de 271 dos 1362 títulos emitidos no ano, contemplando ações, debêntures, BDR, notas promissórias, CRI, CRA, FIDC, FII e FIP. O valor consolidado das emissões no ano passado atingiu o patamar de R$ 27 bilhões, segundo o relatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Como esses dados podem refletir no setor de startups?

Os CRIs, por exemplo, são investimentos de renda fixa semelhantes às letras de crédito imobiliário (LCIs) do ponto de vista do investidor. Esses títulos têm o objetivo de captar recursos para o financiamento da produção de imóveis, geralmente. Os CRAs, por sua vez, também estão na mira dos investidores. Tanto que, no ano passado, foram realizadas 65 operações de CRAs no Brasil, totalizando cerca de R$ 16 bilhões.

Especialistas atribuem essa reação do mercado, que vem despontando com mais intensidade nos últimos dois anos diante de indicadores do cenário macroeconômico, à escassez do crédito nos bancos para pequenas empresas em razão da pandemia e à demanda dos investidores em busca de aplicações de crédito privado.

No caso específico de startups, as primeiras operações de securitização tiveram início há dois anos, envolvendo montantes em torno de R$ 10 milhões. Atualmente, essas colocações de títulos já estão movimentando R$ 200 milhões, um salto significativo para o setor com sinalizações de um potencial vasto de crescimento para os próximos anos.

Portanto, pode-se vislumbrar no horizonte o nascimento de um formato promissor de captação para as startups terem acesso a recursos substanciais nos próximos anos, permitindo o impulsionamento de seus negócios. O que pode representar uma maior taxa de sucesso para o ecossistema de inovação, visto que diversos negócios fecham as portas por não conseguir acesso a investimentos. No que diz respeito a “funding”, segundo o estudo “Mapeamento de Comunidade”, realizado pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups) em parceria com o Sebrae, ainda há muito chão para se andar na hora de fazer referência à liquidez do setor no país.

Pelo estudo, os números de negócios de startups que não vão adiante no Brasil são estarrecedores: 73,2% das startups brasileiras nunca receberam investimento. É claro que diversos negócios não podem ser enquadrados neste perfil, mas, no Brasil, a falta de liquidez é motivo para deixar alguns bons business de fora da mesa.

Por outro lado, no caso da securitização de recebíveis, pouco a pouco, é possível vislumbrar no mercado o surgimento de agentes financeiros interessados em ampliar seu portfólio e oferecer esse tipo de investimento. O Banco Alfa, por exemplo, é parceiro em uma operação de CRAs de R$ 38 milhões, com a  a Finpec, primeira fintech do setor pecuário do Brasil.

A Finpec tem se notabilizado na área da pecuária por meio de uma estratégia de negócio que engloba agro, finanças e tecnologia. Os recursos da emissão serão empregados na compra de gado e a operação é integralmente lastreada nos animais, procedimento inusitado no mercado. A Finpec deve direcionar os recursos para a aquisição de gado, que passa por um processo de engorda em confinamentos de terceiros. Tais iniciativas levam a empresa a se enquadrar na categoria de “ Asset Light ”, uma vez que ela lança mão da menor quantidade possível de bens e ativos para suas operações.

E posso apostar que, cada vez mais, veremos novos instrumentos de captação de recursos no mercado, envolvendo propostas criativas como essa da Finpec, que usou como lastro da operação o próprio gado do pasto, desencadeando uma série de benefícios: diluição e pulverização de riscos, otimização de recursos e potencialização dos resultados econômicos.

*Tallis Gomes, Fundador e Mentor do G4 Educação e Fundador da Singu

Veja também

Por Tallis Gomes

Conseguir capital para injetar no negócio, geralmente, é uma jornada difícil, que exige muito do founder, principalmente para pequenas empresas e para quem está começando. Cientes do cenário que têm pela frente, as startups vêm explorando formas alternativas de obtenção de recursos para poderem escalar seus negócios. Por conta disso, uma das modalidades de captação mais recentes chama a atenção pela sofisticação da operação: a securitização de recebíveis.

O formato não é novo no mercado, mas pode representar um marco no setor de startups pela praticidade e facilidade de se levantar recursos por meio de papéis como CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) ou CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) que são colocados junto a investidores.

Os CRIs e CRAs são amplamente utilizados no mercado brasileiro, chegando a alcançar certo protagonismo em operações de títulos com grande repercussão entre os investidores nas últimas décadas. Portanto, a securitização tem sido uma saída constante para a alavancagem de recursos, tanto para o mercado imobiliário, quanto para o agronegócio. A diferença é que agora o mercado tech começou a utilizá-la.

Com a finalidade dessas modalidades de captação evidenciada, torna-se fundamental explicar como elas funcionam. Enquanto os CRIs são títulos de emissão exclusiva das securitizadoras imobiliárias – na prática, configuram uma promessa de pagamento em dinheiro e seu lastro é proveniente de créditos imobiliários, ou seja, referentes à aquisição de imóveis, por exemplo –, os CRAs consistem em títulos de renda fixa lastreados em recebíveis de negócios feitos entre produtores rurais ou suas cooperativas e terceiros, incluindo financiamentos e empréstimos associados à produção e comercialização, de modo que os recursos sejam utilizados na produção voltada a esse setor. Apenas as companhias securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio estão habilitadas a fazer a emissão dos CRAs.

De acordo com a ABSIA – Associação Brasileira de Securitizadoras Imobiliárias e de Agronegócio  –, que congrega as nove maiores empresas do segmento no Brasil, responsáveis por mais de 90% do mercado de emissões de CRIs e CRAs em 2020, esses títulos representam 20% do total de papéis emitidos no país e equivalem ao total de 271 dos 1362 títulos emitidos no ano, contemplando ações, debêntures, BDR, notas promissórias, CRI, CRA, FIDC, FII e FIP. O valor consolidado das emissões no ano passado atingiu o patamar de R$ 27 bilhões, segundo o relatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Como esses dados podem refletir no setor de startups?

Os CRIs, por exemplo, são investimentos de renda fixa semelhantes às letras de crédito imobiliário (LCIs) do ponto de vista do investidor. Esses títulos têm o objetivo de captar recursos para o financiamento da produção de imóveis, geralmente. Os CRAs, por sua vez, também estão na mira dos investidores. Tanto que, no ano passado, foram realizadas 65 operações de CRAs no Brasil, totalizando cerca de R$ 16 bilhões.

Especialistas atribuem essa reação do mercado, que vem despontando com mais intensidade nos últimos dois anos diante de indicadores do cenário macroeconômico, à escassez do crédito nos bancos para pequenas empresas em razão da pandemia e à demanda dos investidores em busca de aplicações de crédito privado.

No caso específico de startups, as primeiras operações de securitização tiveram início há dois anos, envolvendo montantes em torno de R$ 10 milhões. Atualmente, essas colocações de títulos já estão movimentando R$ 200 milhões, um salto significativo para o setor com sinalizações de um potencial vasto de crescimento para os próximos anos.

Portanto, pode-se vislumbrar no horizonte o nascimento de um formato promissor de captação para as startups terem acesso a recursos substanciais nos próximos anos, permitindo o impulsionamento de seus negócios. O que pode representar uma maior taxa de sucesso para o ecossistema de inovação, visto que diversos negócios fecham as portas por não conseguir acesso a investimentos. No que diz respeito a “funding”, segundo o estudo “Mapeamento de Comunidade”, realizado pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups) em parceria com o Sebrae, ainda há muito chão para se andar na hora de fazer referência à liquidez do setor no país.

Pelo estudo, os números de negócios de startups que não vão adiante no Brasil são estarrecedores: 73,2% das startups brasileiras nunca receberam investimento. É claro que diversos negócios não podem ser enquadrados neste perfil, mas, no Brasil, a falta de liquidez é motivo para deixar alguns bons business de fora da mesa.

Por outro lado, no caso da securitização de recebíveis, pouco a pouco, é possível vislumbrar no mercado o surgimento de agentes financeiros interessados em ampliar seu portfólio e oferecer esse tipo de investimento. O Banco Alfa, por exemplo, é parceiro em uma operação de CRAs de R$ 38 milhões, com a  a Finpec, primeira fintech do setor pecuário do Brasil.

A Finpec tem se notabilizado na área da pecuária por meio de uma estratégia de negócio que engloba agro, finanças e tecnologia. Os recursos da emissão serão empregados na compra de gado e a operação é integralmente lastreada nos animais, procedimento inusitado no mercado. A Finpec deve direcionar os recursos para a aquisição de gado, que passa por um processo de engorda em confinamentos de terceiros. Tais iniciativas levam a empresa a se enquadrar na categoria de “ Asset Light ”, uma vez que ela lança mão da menor quantidade possível de bens e ativos para suas operações.

E posso apostar que, cada vez mais, veremos novos instrumentos de captação de recursos no mercado, envolvendo propostas criativas como essa da Finpec, que usou como lastro da operação o próprio gado do pasto, desencadeando uma série de benefícios: diluição e pulverização de riscos, otimização de recursos e potencialização dos resultados econômicos.

*Tallis Gomes, Fundador e Mentor do G4 Educação e Fundador da Singu

Acompanhe tudo sobre:Agronegóciogestao-de-negociosStartups

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se