Será que chegamos ao fim dos unicórnios?
Nos últimos anos, vimos um aumento considerável no número de startups entrando no seleto clube de unicórnios – e tantas outras saindo
Da Redação
Publicado em 3 de fevereiro de 2023 às 10h25.
Quando Aileen Lee cunhou a expressão “ unicórnio ” em 2013, dificilmente ela imaginaria que apenas uma década depois o mercado faria desse um hype sem precedentes para explorar no ecossistema de startups.
Se até 2020 o número de unicórnios crescia de maneira constante, em 2021 esse número dobrou e no ano seguinte o ritmo já era, estatisticamente, de mais de 1 startup bilionária surgindo a cada 24 horas, de acordo com a CB Insights.
Em outro levantamento, a companhia concluiu que, em janeiro de 2023, já haviam mais de 1.200 unicórnios em todo o mundo, com uma avaliação combinada de US$ 4,2 trilhões.
De fato, os impactos causados pela Covid-19 aceleraram esse boom. No entanto, o mesmo estudo mostra que, já no segundo semestre de 2022, iniciou-se uma queda severa nessas avaliações, trazendo uma nova realidade para o Vale do Silício e tantos outros polos de inovação à medida que as taxas de juros subiam e as preocupações com uma recessão global forçavam a adoção de um racional de contratação e investimentos cada vez mais austero.
Se uma mentalidade de crescimento a todo custo contribuiu para tantos layoffs agressivos, ela também traz agora indícios de que esse pode ser, definitivamente, o fim de uma era. De acordo com Jim Breyer, venture capitalist e um dos primeiros investidores do Facebook:
Um overview sobre startups e unicórnios
Startups e unicórnios são termos comuns no mundo dos negócios e da tecnologia, mas que poucas pessoas conseguem, realmente, fazer um deep dive no aspecto prático desses conceitos.
Em linhas gerais, uma startup é uma empresa, geralmente de tecnologia, que busca resolver um problema de maneira inovadora. O que a caracteriza como startup de fato e não apenas como uma “empresa comum”, porém, é o fato de que ela tem um modelo de negócios replicável (que pode ser implementado em outros lugares) e escalável (cuja receita cresce de maneira desproporcional aos lucros).
Diferente das empresas tradicionais, elas costumam ser mais flexíveis e menos presas a processos e procedimentos rigorosos. Além disso, são movidas por desafios e, por isso, precisam ser ágeis. Esta fórmula resulta em um alto potencial de crescimento.
Apesar de não existirem balas de prata quando o assunto é empreender, o seu principal objetivo é transformar uma ideia em um negócio bem-sucedido. Como founder, tive a oportunidade de desenvolver startups como Easy Taxi, Singu e G4 Educação.
Já o conceito de unicórnio faz menção a uma startup de capital fechado com valuation de, pelo menos, US$ 1 bilhão. Essas companhias que, idealmente, deveriam ser raras, possuem um grande impacto no mercado.
Além delas, existem também os decacórnios (avaliados em US$ 10 bilhões) e os hectacórnios (avaliados em US$ 100 bilhões).
Nesse sentido, a crescente popularização dos termos está mudando a forma como as pessoas pensam sobre negócios e empreendedorismo. Isso porque o excesso de otimismo que existia no setor está se transformando em pragmatismo para demonstrar que as avaliações que até então se baseavam em crescimento e potencial projetados, em vez do lucro e receita reais, estão longe de ser uma garantia de sucesso.
Esse é um sinal de alerta. Afinal, a premissa fundamental do problema econômico é entender "como satisfazemos desejos ilimitados com recursos limitados?". Assim, com expectativas de crescimento cada vez mais rápido, fica claro que não existe espaço suficiente ou sustentabilidade para que todos possam prosperar.
O grande problema dos unicórnios e das startups
Atualmente, muitos especialistas comparam o que está acontecendo com os unicórnios com a bolha pontocom do final dos anos 90, devido a problemas financeiros e estratégicos.
Muitas iniciativas se expandiram rapidamente, subvalorizaram a importância de estabelecer uma base sólida e rentável e se concentraram em seu crescimento sem um plano sólido para o futuro.
Além disso, a pressão dos investidores para atingir resultados rápidos e metas quase impossíveis impossibilitaram que essas companhias alcançassem a sua maturidade financeira. Como consequência de uma conta que não fecha, houve um aumento de cortes drásticos em gastos, incluindo as tão faladas demissões em massa.
O que está acontecendo é basicamente uma demanda crescente por capital de investimento que não está mais disponível. Infelizmente, os números dizem a verdade e agora o seu apogeu está sendo compensado pelo que pode ser um declínio dramático.
Segundo o relatório The Global Unicorn Index 2022, do Hurun Research Institute, mais de 228 startups que alcançaram o status de unicórnio em 2021 viram suas avaliações caírem significativamente em 2022, com 81 delas perdendo o seu status de unicórnio.
Serão esses os sinais de uma bolha prestes a estourar após atingir o seu pico de crescimento? Downrounds e tantas outras dificuldades financeiras se tornarão um presságio para as muitas outras startups que ainda estão por vir?
Se o fim dos unicórnios é ou não iminente, fato é que aqueles que já receberam investimentos milionários agora enfrentam a possibilidade de colapso. Com a queda no capital de risco e um congelamento nos IPOs, muitas companhias que deixaram os seus unit economics de lado têm como resultado uma série de desafios que ameaçam destruir o que foi construído.
O fato é que essas startups precisam mudar sua abordagem (e roupagem) para se tornarem empresas financeiramente saudáveis e sólidas. Perder o status de unicórnio para se transformar em um camelo – modelo de negócios focado em crescer de maneira segura, sustentável e escalável – faz sentido em um cenário em que o nome do jogo hoje não é mais expansão, mas resiliência.
Será mesmo o fim dos unicórnios?
Sem dúvidas, estamos vivendo um momento de transição na história. O ego de se olhar para além do chifre do unicórnio pode estar cedendo espaço às corcovas dos camelos, indicando que uma mentalidade de growth que não é capaz de resistir às condições extremas que o mundo nos reserva não serve para nada.
Por isso, acredito ser fundamental buscar os guidelines certos para construção de uma empresa mais controlada e organizada, ainda que crescendo rápido e de maneira desproporcional, pois não é necessário que um morra para que o outro possa existir. Como diria Francis Bacon, “conhecimento é poder”.
Dito isso, é crucial entender melhor como estes e outros pontos se conectam. Para isso, o G4 Educação criou uma série de conteúdos aprofundados que vão desvendar os principais riscos e oportunidades das startups bilionárias, a série documental Conectando os Pontos.
Acredito que, em um ambiente em que as startups se consolidaram como o motor crítico de inovação e a personificação do espírito empreendedor, os unicórnios não devam deixar de existir – eu mesmo não quero que isso aconteça, já que hoje estou à frente de um negócio com grande potencial de se tornar um case de sucesso brasileiro.
Mas, no fim do dia, tenho plena convicção de que planejar com antecedência e fazer movimentos estratégicos e bem-informados é a melhor decisão para evitar que se caia nessas armadilhas.
Quando Aileen Lee cunhou a expressão “ unicórnio ” em 2013, dificilmente ela imaginaria que apenas uma década depois o mercado faria desse um hype sem precedentes para explorar no ecossistema de startups.
Se até 2020 o número de unicórnios crescia de maneira constante, em 2021 esse número dobrou e no ano seguinte o ritmo já era, estatisticamente, de mais de 1 startup bilionária surgindo a cada 24 horas, de acordo com a CB Insights.
Em outro levantamento, a companhia concluiu que, em janeiro de 2023, já haviam mais de 1.200 unicórnios em todo o mundo, com uma avaliação combinada de US$ 4,2 trilhões.
De fato, os impactos causados pela Covid-19 aceleraram esse boom. No entanto, o mesmo estudo mostra que, já no segundo semestre de 2022, iniciou-se uma queda severa nessas avaliações, trazendo uma nova realidade para o Vale do Silício e tantos outros polos de inovação à medida que as taxas de juros subiam e as preocupações com uma recessão global forçavam a adoção de um racional de contratação e investimentos cada vez mais austero.
Se uma mentalidade de crescimento a todo custo contribuiu para tantos layoffs agressivos, ela também traz agora indícios de que esse pode ser, definitivamente, o fim de uma era. De acordo com Jim Breyer, venture capitalist e um dos primeiros investidores do Facebook:
Um overview sobre startups e unicórnios
Startups e unicórnios são termos comuns no mundo dos negócios e da tecnologia, mas que poucas pessoas conseguem, realmente, fazer um deep dive no aspecto prático desses conceitos.
Em linhas gerais, uma startup é uma empresa, geralmente de tecnologia, que busca resolver um problema de maneira inovadora. O que a caracteriza como startup de fato e não apenas como uma “empresa comum”, porém, é o fato de que ela tem um modelo de negócios replicável (que pode ser implementado em outros lugares) e escalável (cuja receita cresce de maneira desproporcional aos lucros).
Diferente das empresas tradicionais, elas costumam ser mais flexíveis e menos presas a processos e procedimentos rigorosos. Além disso, são movidas por desafios e, por isso, precisam ser ágeis. Esta fórmula resulta em um alto potencial de crescimento.
Apesar de não existirem balas de prata quando o assunto é empreender, o seu principal objetivo é transformar uma ideia em um negócio bem-sucedido. Como founder, tive a oportunidade de desenvolver startups como Easy Taxi, Singu e G4 Educação.
Já o conceito de unicórnio faz menção a uma startup de capital fechado com valuation de, pelo menos, US$ 1 bilhão. Essas companhias que, idealmente, deveriam ser raras, possuem um grande impacto no mercado.
Além delas, existem também os decacórnios (avaliados em US$ 10 bilhões) e os hectacórnios (avaliados em US$ 100 bilhões).
Nesse sentido, a crescente popularização dos termos está mudando a forma como as pessoas pensam sobre negócios e empreendedorismo. Isso porque o excesso de otimismo que existia no setor está se transformando em pragmatismo para demonstrar que as avaliações que até então se baseavam em crescimento e potencial projetados, em vez do lucro e receita reais, estão longe de ser uma garantia de sucesso.
Esse é um sinal de alerta. Afinal, a premissa fundamental do problema econômico é entender "como satisfazemos desejos ilimitados com recursos limitados?". Assim, com expectativas de crescimento cada vez mais rápido, fica claro que não existe espaço suficiente ou sustentabilidade para que todos possam prosperar.
O grande problema dos unicórnios e das startups
Atualmente, muitos especialistas comparam o que está acontecendo com os unicórnios com a bolha pontocom do final dos anos 90, devido a problemas financeiros e estratégicos.
Muitas iniciativas se expandiram rapidamente, subvalorizaram a importância de estabelecer uma base sólida e rentável e se concentraram em seu crescimento sem um plano sólido para o futuro.
Além disso, a pressão dos investidores para atingir resultados rápidos e metas quase impossíveis impossibilitaram que essas companhias alcançassem a sua maturidade financeira. Como consequência de uma conta que não fecha, houve um aumento de cortes drásticos em gastos, incluindo as tão faladas demissões em massa.
O que está acontecendo é basicamente uma demanda crescente por capital de investimento que não está mais disponível. Infelizmente, os números dizem a verdade e agora o seu apogeu está sendo compensado pelo que pode ser um declínio dramático.
Segundo o relatório The Global Unicorn Index 2022, do Hurun Research Institute, mais de 228 startups que alcançaram o status de unicórnio em 2021 viram suas avaliações caírem significativamente em 2022, com 81 delas perdendo o seu status de unicórnio.
Serão esses os sinais de uma bolha prestes a estourar após atingir o seu pico de crescimento? Downrounds e tantas outras dificuldades financeiras se tornarão um presságio para as muitas outras startups que ainda estão por vir?
Se o fim dos unicórnios é ou não iminente, fato é que aqueles que já receberam investimentos milionários agora enfrentam a possibilidade de colapso. Com a queda no capital de risco e um congelamento nos IPOs, muitas companhias que deixaram os seus unit economics de lado têm como resultado uma série de desafios que ameaçam destruir o que foi construído.
O fato é que essas startups precisam mudar sua abordagem (e roupagem) para se tornarem empresas financeiramente saudáveis e sólidas. Perder o status de unicórnio para se transformar em um camelo – modelo de negócios focado em crescer de maneira segura, sustentável e escalável – faz sentido em um cenário em que o nome do jogo hoje não é mais expansão, mas resiliência.
Será mesmo o fim dos unicórnios?
Sem dúvidas, estamos vivendo um momento de transição na história. O ego de se olhar para além do chifre do unicórnio pode estar cedendo espaço às corcovas dos camelos, indicando que uma mentalidade de growth que não é capaz de resistir às condições extremas que o mundo nos reserva não serve para nada.
Por isso, acredito ser fundamental buscar os guidelines certos para construção de uma empresa mais controlada e organizada, ainda que crescendo rápido e de maneira desproporcional, pois não é necessário que um morra para que o outro possa existir. Como diria Francis Bacon, “conhecimento é poder”.
Dito isso, é crucial entender melhor como estes e outros pontos se conectam. Para isso, o G4 Educação criou uma série de conteúdos aprofundados que vão desvendar os principais riscos e oportunidades das startups bilionárias, a série documental Conectando os Pontos.
Acredito que, em um ambiente em que as startups se consolidaram como o motor crítico de inovação e a personificação do espírito empreendedor, os unicórnios não devam deixar de existir – eu mesmo não quero que isso aconteça, já que hoje estou à frente de um negócio com grande potencial de se tornar um case de sucesso brasileiro.
Mas, no fim do dia, tenho plena convicção de que planejar com antecedência e fazer movimentos estratégicos e bem-informados é a melhor decisão para evitar que se caia nessas armadilhas.