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Os perigos da contraproposta

Fazer esse tipo de oferta, ou aceitá-la, atrapalha tanto a empresa quanto o profissional, que passam a se relacionar em bases incertas

(unsplash/Unsplash)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2022 às 13h15.

*por Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar

Algumas situações da vida profissional dão margem para muita confusão. Elas aparentam ser inofensivas e até positivas, mas, no fundo, atrapalham a carreira a médio e longo prazo. A contraposta é um caso clássico de situação considerada aceitável e até corriqueira, mas que pode se revelar uma prática perigosa.

Muitos associam essa estratégia de negociação unicamente ao aumento de salário, de reconhecimento e de valorização do “passe” no mercado. Afinal, o profissional está sendo disputado por duas empresas (ou mais), o que soa como o melhor dos mundos para garantir um bom emprego e a evolução na carreira. A empresa, por sua vez, estaria “correndo atrás do prejuízo”, em vez de ficar de braços cruzados e perder um talento.

No entanto, não é bem assim. Quando uma empresa, subitamente e mediante o risco de perder um colaborador, decide aumentar seu salário para retê-lo, abre brechas para uma série de incertezas. E elas ficam ainda piores se, de outro lado, o colaborador resolver aceitar a oferta inesperada e dispensar o emprego que havia conseguido, deixando seu ex-futuro empregador a ver navios.

Apesar de antiga, a contraproposta é uma abordagem que, infelizmente, se mantém atual. Dados da mais recente pesquisa global da Robert Half, aplicada a 300 executivos brasileiros C-level, igualmente divididos entre Gerentes Gerais, CFOs e CIOs, mostram que muitos líderes ainda a enxergam como uma forma efetiva de demonstrar valorização pelo profissional.

Já reparou que a contraposta aparece frequentemente em filmes, séries e livros? Isto porque ela tem uma alta carga de sedução, suspense e emoção, o que torna as narrativas mais interessantes. Quem recebe a contraproposta, se sente especial e com poder de escolha; quem a faz, fica na expectativa de uma resposta afirmativa, que seria um sinal de vitória. Porém, na prática, o desfecho dessa história costuma ser negativo.

Muitos dos executivos que aceitam essa oferta, acabam saindo da organização seis meses depois, por vontade própria ou por demissão. O que era para ser um movimento de ascensão, termina como retrocesso. A razão desse desfecho é muito simples. A contraproposta é uma tentativa improvisada de corrigir problemas e insatisfações antigas, possivelmente relacionadas a salário, benefícios, ambiente, liderança, plano de carreira, entre outros aspectos. Se a empresa não pôde ou não viu motivos para atender essas demandas antes, por que, de repente, ela mudaria de postura?

Os riscos são maiores para os profissionais Muitas vezes, a companhia que faz uma contraproposta quer ganhar tempo até encontrar um substituto. Outras vezes, acredita que pode ser uma chance de recomeçar em novas bases. Pela minha experiência, pouco disso funciona. A confiança entre as partes, empregador e empregado, fica abalada. A companhia passa a temer que o colaborador não se engaje o suficiente. E o colaborador passa a carregar dúvidas sobre o reconhecimento conquistado no último minuto do segundo tempo.

Para os profissionais há ainda mais riscos e prejuízos envolvidos na contraproposta do que para as empresas. Destaco aqui quatro:

1) O salário pode mudar, mas outras dificuldades que levaram ao desejo de trocar de emprego provavelmente não mudarão;

2) Uma remuneração alta, que esteja acima da média do mercado, tende a dificultar uma futura busca por recolocação;

3) Um novo aumento nos contracheques irá demorar, uma vez que o salário foi melhorado sem um planejamento prévio;

4) Em um cenário de demissões, alguém que já manifestou interesse em deixar a empresa tem grande chance de ser demitido;

Em caso de arrependimento ou demissão, é possível o profissional retomar o contato com a empresa que dispensou anteriormente por conta da contraproposta? Essa é uma pergunta que ouço frequentemente e não há resposta fácil. A chance de a vaga ainda estar aberta é mínima. De todo modo, para aqueles que resolvem apostar em uma segunda tentativa, é fundamental passar segurança e firmeza sobre sua decisão, e desfazer uma possível má impressão do passado.

O melhor caminho, a meu ver, é evitar o desgaste de uma contraproposta, planejando muito bem os rumos da carreira. Assim, a conduta do profissional será orientada por metas de médio e longo prazo, e não apenas por um aumento salarial. Lembre-se que uma remuneração mais alta não garante sucesso por si só, muito menos satisfação ou realização profissional.

Aqui, neste Blog , você encontra outros artigos sobre carreira, gestão e mercado de trabalho. Também é possível ter mais informações sobre os temas na Central do Conhecimento do site da Robert Half. Se você gosta de podcasts, não deixe de acompanhar o Robert Half Talks .

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*por Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar

Algumas situações da vida profissional dão margem para muita confusão. Elas aparentam ser inofensivas e até positivas, mas, no fundo, atrapalham a carreira a médio e longo prazo. A contraposta é um caso clássico de situação considerada aceitável e até corriqueira, mas que pode se revelar uma prática perigosa.

Muitos associam essa estratégia de negociação unicamente ao aumento de salário, de reconhecimento e de valorização do “passe” no mercado. Afinal, o profissional está sendo disputado por duas empresas (ou mais), o que soa como o melhor dos mundos para garantir um bom emprego e a evolução na carreira. A empresa, por sua vez, estaria “correndo atrás do prejuízo”, em vez de ficar de braços cruzados e perder um talento.

No entanto, não é bem assim. Quando uma empresa, subitamente e mediante o risco de perder um colaborador, decide aumentar seu salário para retê-lo, abre brechas para uma série de incertezas. E elas ficam ainda piores se, de outro lado, o colaborador resolver aceitar a oferta inesperada e dispensar o emprego que havia conseguido, deixando seu ex-futuro empregador a ver navios.

Apesar de antiga, a contraproposta é uma abordagem que, infelizmente, se mantém atual. Dados da mais recente pesquisa global da Robert Half, aplicada a 300 executivos brasileiros C-level, igualmente divididos entre Gerentes Gerais, CFOs e CIOs, mostram que muitos líderes ainda a enxergam como uma forma efetiva de demonstrar valorização pelo profissional.

Já reparou que a contraposta aparece frequentemente em filmes, séries e livros? Isto porque ela tem uma alta carga de sedução, suspense e emoção, o que torna as narrativas mais interessantes. Quem recebe a contraproposta, se sente especial e com poder de escolha; quem a faz, fica na expectativa de uma resposta afirmativa, que seria um sinal de vitória. Porém, na prática, o desfecho dessa história costuma ser negativo.

Muitos dos executivos que aceitam essa oferta, acabam saindo da organização seis meses depois, por vontade própria ou por demissão. O que era para ser um movimento de ascensão, termina como retrocesso. A razão desse desfecho é muito simples. A contraproposta é uma tentativa improvisada de corrigir problemas e insatisfações antigas, possivelmente relacionadas a salário, benefícios, ambiente, liderança, plano de carreira, entre outros aspectos. Se a empresa não pôde ou não viu motivos para atender essas demandas antes, por que, de repente, ela mudaria de postura?

Os riscos são maiores para os profissionais Muitas vezes, a companhia que faz uma contraproposta quer ganhar tempo até encontrar um substituto. Outras vezes, acredita que pode ser uma chance de recomeçar em novas bases. Pela minha experiência, pouco disso funciona. A confiança entre as partes, empregador e empregado, fica abalada. A companhia passa a temer que o colaborador não se engaje o suficiente. E o colaborador passa a carregar dúvidas sobre o reconhecimento conquistado no último minuto do segundo tempo.

Para os profissionais há ainda mais riscos e prejuízos envolvidos na contraproposta do que para as empresas. Destaco aqui quatro:

1) O salário pode mudar, mas outras dificuldades que levaram ao desejo de trocar de emprego provavelmente não mudarão;

2) Uma remuneração alta, que esteja acima da média do mercado, tende a dificultar uma futura busca por recolocação;

3) Um novo aumento nos contracheques irá demorar, uma vez que o salário foi melhorado sem um planejamento prévio;

4) Em um cenário de demissões, alguém que já manifestou interesse em deixar a empresa tem grande chance de ser demitido;

Em caso de arrependimento ou demissão, é possível o profissional retomar o contato com a empresa que dispensou anteriormente por conta da contraproposta? Essa é uma pergunta que ouço frequentemente e não há resposta fácil. A chance de a vaga ainda estar aberta é mínima. De todo modo, para aqueles que resolvem apostar em uma segunda tentativa, é fundamental passar segurança e firmeza sobre sua decisão, e desfazer uma possível má impressão do passado.

O melhor caminho, a meu ver, é evitar o desgaste de uma contraproposta, planejando muito bem os rumos da carreira. Assim, a conduta do profissional será orientada por metas de médio e longo prazo, e não apenas por um aumento salarial. Lembre-se que uma remuneração mais alta não garante sucesso por si só, muito menos satisfação ou realização profissional.

Aqui, neste Blog , você encontra outros artigos sobre carreira, gestão e mercado de trabalho. Também é possível ter mais informações sobre os temas na Central do Conhecimento do site da Robert Half. Se você gosta de podcasts, não deixe de acompanhar o Robert Half Talks .

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