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Entenda o quiet ambition

As novas gerações resistem à ideia de assumir cargos de liderança e as empresas precisam se preparar para lidar com esse cenário

Intergalactic human journey concept with an arm reaching out to the bright vibrant multicolor light. Future and meta human in metaverse, first person view. (Getty Images/Getty Images)

Intergalactic human journey concept with an arm reaching out to the bright vibrant multicolor light. Future and meta human in metaverse, first person view. (Getty Images/Getty Images)

Publicado em 29 de março de 2024 às 08h30.

O sonho de todo profissional é evoluir constantemente e chegar ao topo da hierarquia, certo? Errado. Vem aumentando o número de profissionais que não têm a ambição de conquistar cargos altos e todas as vantagens que essa “subida” pode proporcionar, como melhores salários, benefícios, oportunidades, entre outros aspectos.

Os trabalhadores que aderem ao chamado “quiet ambition” preferem posições em que o nível de pressão e de responsabilidade sejam menores ou mais administráveis. Ou, ainda, dito de outra forma, eles buscam vagas compatíveis com o que consideram ser suas possibilidades reais de executar bem um trabalho.

Imagine um colaborador com filho pequeno ou uma colaboradora mais tímida e avessa a grupos. Eles podem evitar promoções ou mudanças que coloquem em risco sua condição pessoal (ser pai e prezar a introspecção, respectivamente). Com isso, a ideia é dar conta do recado sem se estressar demais e prejudicar a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida.

De fato, costuma ser difícil as lideranças terem uma agenda tranquila e sob controle. Faz parte da rotina dos líderes enfrentar desafios e imprevistos de toda natureza. Também está no job description ter que dar respostas boas e rápidas, faça chuva ou faça sol. 

Uma pesquisa realizada pela Robert Half, em parceria com o Insper, ajuda a entender os meandros do quiet ambition. Foram ouvidos 587 empregados, de diferentes faixas etárias, experiências profissionais e níveis hierárquicos. O objetivo era entender por que a ascensão na carreira é indesejável para uma parcela crescente de pessoas. 

O estudo partiu da premissa, comprovada pela literatura, de que há duas principais preocupações no horizonte de quem é convidado ou tem chances de ser promovido. Uma delas diz respeito ao medo de não estar devidamente preparado para a nova função. E a segunda refere-se ao receio de atrapalhar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. 

Quando essas duas preocupações se combinam, o quiet ambition entra em ação. Entretanto, há diferenças nessa dinâmica entre os níveis hierárquicos. Em geral, conforme a pesquisa, nos cargos próximos à base da pirâmide organizacional, as duas preocupações têm o mesmo peso. 

Já nos cargos mais altos, pesa mais o receio de prejudicar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Faz todo o sentido, já que são profissionais mais experientes diante das movimentações na carreira. 

A ambição silenciosa (na tradução em português), acontece, na prática, quando o profissional não dá sinais de que almeja uma promoção e muito menos age proativamente nesse sentido. Esse cenário cresce em muitos países e exige reflexão, compreensão e estratégia das empresas. Afinal, preparar novos líderes é fundamental para a sustentabilidade das organizações no longo prazo. 

Como apoiar o aprimoramento de líderes 

Em geral, as lideranças futuras são identificadas e apoiadas em seu percurso de desenvolvimento pelas lideranças atuais. Por isso, garantir que os líderes possam se aprimorar constantemente é fundamental. Eles fazem a “roda” da sucessão girar. 

Muito desse processo requer um bom programa de treinamento de lideranças. A seguir, cito fatores obrigatórios para que a iniciativa seja bem-sucedida: 

 - expectativas alinhadas – o programa de treinamento precisa levar em conta as necessidades, os objetivos e o perfil da organização. Sem conhecer e respeitar profundamente esses aspectos, o investimento será perda de tempo; 

definição de prioridades – a partir do entendimento do que é uma boa liderança, a empresa deve estabelecer as principais características a serem estimuladas, aprimoradas ou corrigidas nos profissionais; 

- visão 360º – o programa de treinamento também deve ser construído com base em informações atuais e confiáveis sobre o mercado, o segmento de atuação, a conjuntura econômica, entre outras. Sem isso, o aprendizado ficará apenas na teoria e descolado da realidade.

Outra medida interessante é propor aos adeptos do quiet ambition ferramentas de autoconhecimento e de gestão emocional. Terapia, mentoria e palestras podem ajudá-los a entender melhor a própria dinâmica e até rever suas aspirações.  

A decisão de evitar promoções é legítima e deve ser respeitada. Por outro lado, o comportamento também pode indicar medo excessivo de arriscar e errar. Nesse caso, tentar conversar e oferecer ajuda é uma ótima ideia.  

Aqui, neste Blog, você encontra outros artigos sobre carreira, gestão e mercado de trabalho. Também é possível ter mais informações sobre os temas na Central do Conhecimento do site da Robert Half. Se você gosta de podcasts, não deixe de acompanhar o Robert Half Talks. 

*por Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar 

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