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Como encarar o job hopping

O movimento de troca constante de emprego exige cuidado para que as mudanças sejam positivas tanto para a carreira quanto para o currículo

O movimento de troca constante de emprego exige cuidado para que as mudanças sejam positivas tanto para a carreira quanto para o currículo (Getty Images/Getty Images)
O movimento de troca constante de emprego exige cuidado para que as mudanças sejam positivas tanto para a carreira quanto para o currículo (Getty Images/Getty Images)

Décadas atrás, os profissionais se aposentavam tendo no currículo dois ou três empregos diferentes. Não era incomum que alguém tivesse trabalhado em uma única empresa durante toda a carreira. Longa permanência rimava com competência. Todos já sabem o quanto esse cenário mudou. Atualmente há até uma expressão para designar aqueles que saltam de uma companhia para outra frequentemente: job hopping 

Os job hoppers, em geral, pertencem às gerações Z (nascidos entre 1990 e 2010) e Y (nascidos após os anos 1980 e chamados de millennials). As constantes trocas de emprego visam conquistar maiores salários e melhores oportunidades. Eles têm o currículo recheado de experiências, por vezes com vários empregos em apenas um ano. 

Considero que mudanças profissionais bem-feitas, apoiadas em metas profissionais previamente planejadas, são sempre válidas. Elas agregam experiência, conhecimento, network e novas perspectivas. Além disso, em tempos de contratos trabalhistas mais flexíveis, é natural e até necessário que os profissionais se preocupem em alcançar posições mais vantajosas.  

Mas como o job hopping é visto pelas empresas e por profissionais? A 26ª edição do Índice de Confiança da Robert Half (ICRH), lançada em dezembro, traz dados interessantes para a reflexão de empregados e de empregadores.  

A opinião dos recrutadores revela o quanto o tema é delicado. Quando questionados sobre como avaliam os candidatos que têm histórico de mudança frequente de empregos, eles destacaram, em sua maioria, que tudo depende do contexto e das razões para as mudanças (69%). Também disseram que se sentem preocupados com a falta de estabilidade desse tipo de perfil profissional (55%).  

De acordo com 46% dos entrevistados, a movimentação é um indício de dificuldade de adaptação. Entre 25% dos recrutadores, porém, prevalece o entendimento de que é uma busca por crescimento profissional e uma oportunidade de adquirir habilidades diversas (20%). 

Os planos detectados pela sondagem do ICRH dão pistas de que 2024 será um ano movimentado. Conforme o estudo, 50% dos entrevistados pretendem procurar um novo emprego. Mudar de empresa, mas permanecer atuando na mesma área, é cogitado por 64% deles. Migrar para outro campo, segmento ou profissão está entre as intenções de 36% dos trabalhadores ouvidos.   A motivação para essas mudanças são várias, sendo as principais delas:  procura por melhores oportunidades de crescimento (63%); anseio por maior remuneração (54%); busca por novos desafios (43%); busca por um pacote de benefícios mais atrativo (34%) e possibilidade de trabalhar de forma remota ou híbrida (27%). Os números mostram pontos críticos que podem ser trabalhados pelas empresas a fim de melhorar a estratégia de atração e de retenção de talentos. 

Antes de mudar, tente melhorar o atual emprego 

Nenhum profissional e nenhuma empresa são perfeitos. Por isso, é interessante tentar solucionar os problemas encontrados no atual emprego antes de pedir as contas ou, no caso das companhias, de ver um talento deixar a casa. 

A seguir, descrevo algumas situações que costumam afugentar os funcionários e que podem ser resolvidas no médio e longo prazo: 

- falta de autonomia – profissionais sem liberdade de ação facilmente se cansam de suas obrigações e se sentem desvalorizados. A autonomia, por outro lado, é um caminho para aprender, crescer e ganhar gradativamente mais responsabilidade; 

 - falta de transparência – informações e regras contraditórias ou nebulosas sobre salários, cargos, promoções, entre outros assuntos, levantam a suspeita de que pode haver desigualdade e desrespeito na empresa;  

- falta de feedback – não ter uma avaliação de desempenho gera dois problemas. Um deles é a insegurança de não saber como seus esforços são vistos. O outro é a percepção de que crescer será impossível, afinal, ninguém sabe se está trabalhando bem ou mal. 

O job hopping é uma marca dos novos tempos. Ele pode ser positivo ou negativo, tudo depende de como, quando e quanto é feito. Um bom planejamento reduz riscos, como mudar excessivamente até para os padrões atuais ou até se decepcionar com o novo emprego.  

Para as empresas que perdem talentos, o job hopping serve de alerta sobre o que precisa ser melhorado na sua gestão. Olhando por esse ângulo, se torna uma oportunidade, e não um problema. 

Aqui, neste Blog, você encontra outros artigos sobre carreira, gestão e mercado de trabalho. Também é possível ter mais informações sobre os temas na Central do Conhecimento do site da Robert Half. Se você gosta de podcasts, não deixe de acompanhar o Robert Half Talks. 

*por Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar