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Quantas mulheres vêm à sua mente quando você ouve falar em tecnologia?

No Dia Internacional da Mulher, Sofia Esteves escreve sobre a importância de aumentar a representatividade feminina na área tech

(Jay Yuno/Getty Images)
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Luciana Lima

Publicado em 8 de março de 2023 às 14h32.

Quero propor um exercício de imaginação — você pode fazer essa atividade pensando na realidade da sua empresa ou até propor a dinâmica na sua equipe.

Vamos lá: feche os olhos e pense em alguém especialista em Inteligência Artificial (IA). Uma pessoa que seja referência no assunto!

Qual rosto apareceu na sua mente? Essa pessoa tem cabelo longo ou curto? O que ela veste? É bem jovem ou acumula anos de estrada? Tem a voz mais fina ou mais grossa? Onde ela nasceu?

Agora, como fica esse retrato se eu disser que tal especialista se graduou em Engenharia Mecânica em uma instituição nos Estados Unidos? E se eu der outras pistas e contar que esse talento ocupa o cargo de Chief Technology Officer (CTO) em uma empresa de tecnologia e está por trás de uma das inovações mais comentadas nos últimos tempos? No que você pensaria se soubesse que essa pessoa tem a Tesla no currículo e que dá entrevistas para explicar conceitos complexos de IA?

Com todas essas informações em mãos, pare e pense mais uma vez. Qual imagem apareceu na sua cabeça: a de um homem ou a de uma mulher?

Se foi a de um homem, sinto informar que você pintou o retrato errado. É que as características que eu descrevi são da profissional Mira Murati, CTO da OpenIA e uma das mentes por trás do tão comentado ChatGPT.

Apesar da fama de sua criação, nem todo mundo conhece o nome ou o rosto da “criadora”. Isso, por si só, não seria um problema, afinal muitas personalidades do mundo dos negócios ficaram famosas depois do lançamento de um produto ou serviço.

A questão é o quanto a descrição de Mira parece ser mais uma exceção do que uma regra, principalmente no meio da tecnologia.

Afinal, quantas mulheres vêm a sua mente quando você ouve falar em tecnologia? Quantas CTOs você conhece?

Não é de hoje que os talentos femininos aparecem em menor número neste mercado, situação que só piorou com as demissões recentes no setor de tecnologia.

Segundo um relatório do Layoffs Brasil, movimento que tem acompanhado as demissões em massa nas empresas de tecnologia por aqui, as mulheres foram as mais afetadas.

Antes dessa onda mais forte de demissão, em 2021, as profissionais representavam apenas 32,6% do total de quem trabalha no setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC), segundo um relatório da Brasscom. Considerando o recorte de raça, o resultado era ainda pior: só 11,6% das pessoas que atuavam na área eram mulheres negras.

Isso acontece não pela falta de competência dessas pessoas em seguir uma carreira STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática), mas por inúmeros fatores que a minha e a sua empresa podem ajudar a combater.

Uma das formas de fazer isso tem a ver com o exercício no começo deste artigo: precisamos imaginar novos rostos quando falamos em tecnologia. Na verdade, mais do que imaginar, precisamos ter mais referências no mercado, mulheres que ocupam a liderança em empresas do setor.

E não é só ter essas pessoas dentro da sua organização. Estou falando de contratar tais profissionais e de colocá-las como porta-vozes de assuntos sobre tecnologia — outra prática que a sua empresa pode adotar para reverter o quadro de desigualdade de gênero.

A ideia é, por meio de entrevistas, eventos e palestras, dar espaço para que essas especialistas compartilhem seus conhecimentos técnicos sobre determinada inovação, em vez de limitar a participação delas em debates sobre “mulheres na tecnologia”.

Nada contra o tema, claro, a questão é que os talentos femininos têm muito mais a dizer sobre vários outros assuntos, elas só precisam de oportunidades para isso.

Quando isso acontece, ou seja, quando enxergamos mais rostos, percebemos também um impacto importante na base da empresa. As profissionais que estão no começo de carreira olham para cima, veem outras pessoas como elas e, finalmente, conseguem se enxergar naquela posição.

Existe uma mensagem inconsciente de que aquele caminho é possível. Mensagem que pode extrapolar os portões (físicos ou virtuais) das empresas e chegar até as estudantes. Jovens que vão começar a ver nas Ciências, Engenharias, Matemática e Tecnologia uma carreira possível, que vão se interessar por áreas até então tidas como “masculinas”.

Quando talentos femininos enxergam outras como ela em lugares diferentes, novas possibilidades se abrem para a carreira delas e para o negócio das empresas. Aquela figura padrão associada ao mundo da tecnologia é substituída por outra imagem: a que as próprias mulheres enxergam no espelho. E a sua organização pode desempenhar um papel importante para mudar esse reflexo!

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Quero propor um exercício de imaginação — você pode fazer essa atividade pensando na realidade da sua empresa ou até propor a dinâmica na sua equipe.

Vamos lá: feche os olhos e pense em alguém especialista em Inteligência Artificial (IA). Uma pessoa que seja referência no assunto!

Qual rosto apareceu na sua mente? Essa pessoa tem cabelo longo ou curto? O que ela veste? É bem jovem ou acumula anos de estrada? Tem a voz mais fina ou mais grossa? Onde ela nasceu?

Agora, como fica esse retrato se eu disser que tal especialista se graduou em Engenharia Mecânica em uma instituição nos Estados Unidos? E se eu der outras pistas e contar que esse talento ocupa o cargo de Chief Technology Officer (CTO) em uma empresa de tecnologia e está por trás de uma das inovações mais comentadas nos últimos tempos? No que você pensaria se soubesse que essa pessoa tem a Tesla no currículo e que dá entrevistas para explicar conceitos complexos de IA?

Com todas essas informações em mãos, pare e pense mais uma vez. Qual imagem apareceu na sua cabeça: a de um homem ou a de uma mulher?

Se foi a de um homem, sinto informar que você pintou o retrato errado. É que as características que eu descrevi são da profissional Mira Murati, CTO da OpenIA e uma das mentes por trás do tão comentado ChatGPT.

Apesar da fama de sua criação, nem todo mundo conhece o nome ou o rosto da “criadora”. Isso, por si só, não seria um problema, afinal muitas personalidades do mundo dos negócios ficaram famosas depois do lançamento de um produto ou serviço.

A questão é o quanto a descrição de Mira parece ser mais uma exceção do que uma regra, principalmente no meio da tecnologia.

Afinal, quantas mulheres vêm a sua mente quando você ouve falar em tecnologia? Quantas CTOs você conhece?

Não é de hoje que os talentos femininos aparecem em menor número neste mercado, situação que só piorou com as demissões recentes no setor de tecnologia.

Segundo um relatório do Layoffs Brasil, movimento que tem acompanhado as demissões em massa nas empresas de tecnologia por aqui, as mulheres foram as mais afetadas.

Antes dessa onda mais forte de demissão, em 2021, as profissionais representavam apenas 32,6% do total de quem trabalha no setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC), segundo um relatório da Brasscom. Considerando o recorte de raça, o resultado era ainda pior: só 11,6% das pessoas que atuavam na área eram mulheres negras.

Isso acontece não pela falta de competência dessas pessoas em seguir uma carreira STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática), mas por inúmeros fatores que a minha e a sua empresa podem ajudar a combater.

Uma das formas de fazer isso tem a ver com o exercício no começo deste artigo: precisamos imaginar novos rostos quando falamos em tecnologia. Na verdade, mais do que imaginar, precisamos ter mais referências no mercado, mulheres que ocupam a liderança em empresas do setor.

E não é só ter essas pessoas dentro da sua organização. Estou falando de contratar tais profissionais e de colocá-las como porta-vozes de assuntos sobre tecnologia — outra prática que a sua empresa pode adotar para reverter o quadro de desigualdade de gênero.

A ideia é, por meio de entrevistas, eventos e palestras, dar espaço para que essas especialistas compartilhem seus conhecimentos técnicos sobre determinada inovação, em vez de limitar a participação delas em debates sobre “mulheres na tecnologia”.

Nada contra o tema, claro, a questão é que os talentos femininos têm muito mais a dizer sobre vários outros assuntos, elas só precisam de oportunidades para isso.

Quando isso acontece, ou seja, quando enxergamos mais rostos, percebemos também um impacto importante na base da empresa. As profissionais que estão no começo de carreira olham para cima, veem outras pessoas como elas e, finalmente, conseguem se enxergar naquela posição.

Existe uma mensagem inconsciente de que aquele caminho é possível. Mensagem que pode extrapolar os portões (físicos ou virtuais) das empresas e chegar até as estudantes. Jovens que vão começar a ver nas Ciências, Engenharias, Matemática e Tecnologia uma carreira possível, que vão se interessar por áreas até então tidas como “masculinas”.

Quando talentos femininos enxergam outras como ela em lugares diferentes, novas possibilidades se abrem para a carreira delas e para o negócio das empresas. Aquela figura padrão associada ao mundo da tecnologia é substituída por outra imagem: a que as próprias mulheres enxergam no espelho. E a sua organização pode desempenhar um papel importante para mudar esse reflexo!

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