Por que tantas dicas sobre como conciliar maternidade e carreira?
Será que as dicas sobre como conciliar maternidade e carreira não deveriam ser para todos nós?
Luísa Granato
Publicado em 5 de maio de 2022 às 12h39.
À medida que o Dia das Mães se aproxima, parece que aumenta a quantidade de conteúdos focados em ajudar as mulheres que têm filhos a equilibrar os diversos pratos. Sendo o público-alvo ou não, você deve ter passado por alguma postagem sobre o desafio de lidar com carreira e maternidade ao mesmo tempo, certo? Bem, pelo menos eu vi várias.
E fico feliz que tantas pessoas, canais, veículos, empresas, enfim, fontes diferentes estejam se dedicando a encorajar e a empoderar esse grupo do qual eu faço parte — para quem não sabe, sou mãe de dois rapazes.
Porém, a verdade é que fiquei pensativa ao ver tantos títulos com o mesmo enfoque, muitos deles, inclusive, se propondo a responder aquela dúvida cruel que passa na cabeça de muitas mulheres antes mesmo de se tornarem mães, aquela pergunta incômoda sobre ser realmente possível conciliar carreira com maternidade.
Leia também:
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Passei por todos esses títulos e fiquei, aqui, me perguntando: por que ainda precisamos de tantos conselhos e dicas sobre esse assunto?
Veja bem, não estou fazendo uma crítica a quem se propõe a discutir o tema e nem estou julgando as mulheres que buscam tais recomendações. Como afirmei logo no início, debater essa questão é extremamente importante.
O que me chamou a atenção, em primeiro lugar, é a quantidade de postagens com esse objetivo, mesmo depois de anos e anos reforçando a importância da equidade de gênero no mundo do trabalho.
Se ainda temos tantos conteúdos bem ranqueados no Google sobre equilibrar a vida profissional com a materna é porque esse ainda é um desafio difícil de ser superado.
Não à toa, dados do IBGE mostram que as mulheres foram as mais atingidas pelo desemprego nos últimos anos, sendo que muitas delas precisaram deixar o trabalho para cuidar das crianças durante a pandemia, quando creches e escolas infantis ficaram fechadas.
A segunda coisa que me chamou a atenção enquanto eu consumia informações sobre como lidar com essa dificuldade é que nós, mulheres, é que somos chamadas à responsabilidade. Contudo, a verdade é que conciliar trabalho e filhos não é — ou não deveria ser — um desafio a ser encarado apenas por aquelas que, no segundo domingo do mês de maio, são homenageadas.
Será que as dicas sobre como conciliar maternidade e carreira não deveriam ser para todos nós? Será que essa não é uma questão para ser pensada, elaborada e solucionada com a ajuda de muitas mãos?
Das mães aos pais, da liderança das empresas aos colegas de trabalho, das empresas aos responsáveis pelas políticas públicas, todos podemos contribuir para que, no próximo ano, os títulos nos feeds de notícias e das redes sociais sejam outros.
Para que, em vez de debater o desafio a ser superado, celebremos a maior presença de mulheres em cadeiras de liderança. Em vez de discutir o dilema da escolha entre carreira e família, possamos falar sobre a livre escolha entre qualquer campo de atuação, da Computação Quântica a Pedagogia, da Engenharia Biomecânica a Comunicação.
E um dos primeiros passos rumo a esse futuro com novas pautas para as profissionais que são mães é escutá-las. Falar sobre maternidade não diz respeito apenas às mulheres que têm filhos. Você, gestor ou gestora, pode contribuir com a construção desse futuro equilibrado conhecendo melhor esse grupo, sua realidade e suas necessidades. Faça do desafio delas, o seu desafio de gestão.
Discuta as barreiras e pense em conjunto com essas profissionais como superá-las. Práticas corporativas que estimulam a autogestão, a autonomia e a flexibilidade com certeza vão ajudar nesse caminho.
Envolva também o time nesse assunto. Cultivar um clima de cooperação e estimular o trabalho em equipe é fundamental para o fortalecimento de uma rede de apoio — a qual beneficia a todos, não somente as mães.
Respeite a rotina das pessoas com cuidados simples, como não agendar as reuniões sempre de última hora e respeitar o horário dessas conversas. Foque mais nas entregas do que no “bater cartão” — já falamos sobre isso no artigo sobre produtividade — e amplie o seu raio de atuação puxando o RH para essa roda.
Entenda como a empresa pode transformar suas políticas para construir um ambiente de trabalho que conheça as particularidades de cada grupo e se proponha a oferecer recursos para que todos tenham acesso às oportunidades.
Você também pode expandir esse diálogo para fora das paredes da empresa — ou telas, no caso de quem trabalha remotamente —, participando de eventos sobre o tema, compartilhando seu aprendizado com outros/as líderes e estimulando mais pessoas a assumirem o desafio de como conciliar a maternidade com a carreira. No fim, não são só as mães que sairão ganhando — pode ter certeza disso!
Dicas de carreira, vagas e muito mais
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À medida que o Dia das Mães se aproxima, parece que aumenta a quantidade de conteúdos focados em ajudar as mulheres que têm filhos a equilibrar os diversos pratos. Sendo o público-alvo ou não, você deve ter passado por alguma postagem sobre o desafio de lidar com carreira e maternidade ao mesmo tempo, certo? Bem, pelo menos eu vi várias.
E fico feliz que tantas pessoas, canais, veículos, empresas, enfim, fontes diferentes estejam se dedicando a encorajar e a empoderar esse grupo do qual eu faço parte — para quem não sabe, sou mãe de dois rapazes.
Porém, a verdade é que fiquei pensativa ao ver tantos títulos com o mesmo enfoque, muitos deles, inclusive, se propondo a responder aquela dúvida cruel que passa na cabeça de muitas mulheres antes mesmo de se tornarem mães, aquela pergunta incômoda sobre ser realmente possível conciliar carreira com maternidade.
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Veja bem, não estou fazendo uma crítica a quem se propõe a discutir o tema e nem estou julgando as mulheres que buscam tais recomendações. Como afirmei logo no início, debater essa questão é extremamente importante.
O que me chamou a atenção, em primeiro lugar, é a quantidade de postagens com esse objetivo, mesmo depois de anos e anos reforçando a importância da equidade de gênero no mundo do trabalho.
Se ainda temos tantos conteúdos bem ranqueados no Google sobre equilibrar a vida profissional com a materna é porque esse ainda é um desafio difícil de ser superado.
Não à toa, dados do IBGE mostram que as mulheres foram as mais atingidas pelo desemprego nos últimos anos, sendo que muitas delas precisaram deixar o trabalho para cuidar das crianças durante a pandemia, quando creches e escolas infantis ficaram fechadas.
A segunda coisa que me chamou a atenção enquanto eu consumia informações sobre como lidar com essa dificuldade é que nós, mulheres, é que somos chamadas à responsabilidade. Contudo, a verdade é que conciliar trabalho e filhos não é — ou não deveria ser — um desafio a ser encarado apenas por aquelas que, no segundo domingo do mês de maio, são homenageadas.
Será que as dicas sobre como conciliar maternidade e carreira não deveriam ser para todos nós? Será que essa não é uma questão para ser pensada, elaborada e solucionada com a ajuda de muitas mãos?
Das mães aos pais, da liderança das empresas aos colegas de trabalho, das empresas aos responsáveis pelas políticas públicas, todos podemos contribuir para que, no próximo ano, os títulos nos feeds de notícias e das redes sociais sejam outros.
Para que, em vez de debater o desafio a ser superado, celebremos a maior presença de mulheres em cadeiras de liderança. Em vez de discutir o dilema da escolha entre carreira e família, possamos falar sobre a livre escolha entre qualquer campo de atuação, da Computação Quântica a Pedagogia, da Engenharia Biomecânica a Comunicação.
E um dos primeiros passos rumo a esse futuro com novas pautas para as profissionais que são mães é escutá-las. Falar sobre maternidade não diz respeito apenas às mulheres que têm filhos. Você, gestor ou gestora, pode contribuir com a construção desse futuro equilibrado conhecendo melhor esse grupo, sua realidade e suas necessidades. Faça do desafio delas, o seu desafio de gestão.
Discuta as barreiras e pense em conjunto com essas profissionais como superá-las. Práticas corporativas que estimulam a autogestão, a autonomia e a flexibilidade com certeza vão ajudar nesse caminho.
Envolva também o time nesse assunto. Cultivar um clima de cooperação e estimular o trabalho em equipe é fundamental para o fortalecimento de uma rede de apoio — a qual beneficia a todos, não somente as mães.
Respeite a rotina das pessoas com cuidados simples, como não agendar as reuniões sempre de última hora e respeitar o horário dessas conversas. Foque mais nas entregas do que no “bater cartão” — já falamos sobre isso no artigo sobre produtividade — e amplie o seu raio de atuação puxando o RH para essa roda.
Entenda como a empresa pode transformar suas políticas para construir um ambiente de trabalho que conheça as particularidades de cada grupo e se proponha a oferecer recursos para que todos tenham acesso às oportunidades.
Você também pode expandir esse diálogo para fora das paredes da empresa — ou telas, no caso de quem trabalha remotamente —, participando de eventos sobre o tema, compartilhando seu aprendizado com outros/as líderes e estimulando mais pessoas a assumirem o desafio de como conciliar a maternidade com a carreira. No fim, não são só as mães que sairão ganhando — pode ter certeza disso!
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