O que a cultura de agilidade das startups ensina sobre priorização e qualidade nas entregas
Em seu novo artigo, Sofia Esteves reflete sobre importância de saber priorizar e como agilidade não é sinônimo de falta de qualidade nos projetos
Publicado em 20 de junho de 2022 às, 17h24.
Última atualização em 20 de junho de 2022 às, 17h26.
"Dica de startup: fale que vai fazer três coisas — e faça!" Esse foi um dos conselhos dados por Daniel Pedrino, presidente da Descomplica Faculdade Digital, em um evento promovido pela Nespresso e no qual tive o prazer de falar para líderes de RH de grandes empresas e startups.
Na ocasião, Daniel citava Marco Fisbhen, CEO da Descomplica, que costuma dizer que "uma startup não morre por falta de projetos, ela morre afogada de tantos projetos". Por isso, a importância de impor um limite e escolher três projetos para desenvolver por vez. Essa seria uma forma de garantir entregas de alta qualidade e inovadoras — mais adiante, citarei outras maneiras de fazer isso.
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Claro que o número três é só uma sugestão, uma forma de traduzir a mensagem central que é: não dá para abraçar tudo, fazer rapidamente e, ainda por cima, manter o padrão de entrega.
Mesmo as grandes corporações, com suas estruturas robustas, precisam saber medir a sua capacidade produtiva e determinar um limite para que a qualidade não seja "vítima" da quantidade. Em vez de aceitar todos os projetos e demandas, um negócio maduro e estratégico deveria ser capaz de saber priorizar.
Porém, como discutido naquele evento sobre “Como usar a cultura das startups para promover agilidade e crescimento nas corporações”, a priorização é um desafio.
Isso acontece por diversos motivos e, um deles, é o imediatismo. Como expliquei no artigo sobre a naturalização do cansaço, parece existir uma pressa exagerada que causa uma sensação de ansiedade e uma inércia. Se tudo é pra ontem, se tudo é importante, se tudo é urgente, por onde começar? Diante desse cenário, parece natural "congelar" e ficar, assim, parado sem saber qual deve ser o próximo passo.
Agilidade com qualidade
Mas, como existe algo chamado “prazo”, precisamos nos mexer. E, aí, não restam muitas opções: ou tudo é feito às pressas ou no piloto automático — ou as duas coisas — para garantir as entregas dentro das datas combinadas. Veja que, nessas situações, o foco passa a ser muito mais o prazo do que a qualidade.
E quando perdemos esse foco, perdemos também a capacidade de pensar e de fazer diferente. Afinal, só dá para arriscar mais, testar, errar, aprender, corrigir os erros e tentar de novo até acertar quando existe não só um ambiente, mas um espaço de tempo favorável a isso.
Sei que, nem sempre, o ditado popular que diz que a pressa é inimiga da perfeição se faz verdadeiro. Quando falamos em startups, o fator agilidade pesa muito na capacidade de inovar. Contudo, acho que vale lembrar que ser ágil não significa fazer tudo às pressas.
Um dos pontos debatidos no evento da Nespresso, inclusive, foi justamente as ações que contribuem para esse ganho de agilidade, mas sem comprometer a qualidade e sem abrir mão da inovação. Compartilhar o conhecimento, sem dúvida, é uma dessas boas práticas.
Enquanto algumas organizações retém todas as informações, outras optam por disseminá-las. Quando isso acontece, o capital intelectual é compartilhado por todos na empresa, o que torna as pessoas mais conscientes, capacitadas e alinhadas. Todo mundo rema na mesma direção e, assim, avança mais rápido.
Investir no conhecimento também é uma forma de estimular o pensamento crítico, o que ajuda os talentos a serem inquietos e a “cutucarem” as estruturas. E essa, anote aí, é mais uma dica para garantir entregas de qualidade: estimular uma postura questionadora e uma inquietude de querer fazer algo sempre melhor.
É possível questionar, mudar, propor algo diferente e colocar novas ideias em teste em absolutamente todos os projetos? Não. Às vezes, o feijão com arroz também precisa ser servido à mesa.
Mas, se eu pudesse compartilhar uma última reflexão que surgiu desse encontro com CHROs, eu diria que existe um caminho do meio. E ele passa por saber separar o que paga a conta do que pode ser uma aposta interessante para o futuro da empresa.
Se, de um lado, tem algumas coisas que não dá para arriscar, de outro, tem situações que exigem um apetite para o risco e a disposição para inovar.
Na hora de escolher os seus três, quatro, cinco ou quantos projetos o seu negócio for capaz de executar, inclua esses dois perfis na sua lista. E, claro, faça tudo com qualidade!