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Liderança sustentável: como o ESG muda as competências do líder?

Quando o resultado financeiro está diretamente ligado ao Environmental, Social and Governance, a lógica do papel da liderança muda

 (Klaus Vedfelt/Getty Images)
(Klaus Vedfelt/Getty Images)
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Sofia Esteves

Publicado em 17 de maio de 2021 às, 11h22.

Faz tempo que, nas rodas de conversa do mundo corporativo, falamos em uma liderança preocupada não só com os números, mas com as pessoas. Faz tempo também que questionamos a figura do líder como apenas um executor, como a pessoa que bate a meta e pronto, missão cumprida. No entanto, não é porque uma conversa acontece há muito tempo que o debate que ela traz para a mesa foi resolvido. Mudança de mentalidade, vocês sabem, é um processo paulatino e, não raras vezes, lento.

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Uma prova disso é a discussão atual sobre a sigla do momento: ESG. Quem já teve oportunidade de acompanhar lives sobre o assunto, conversar com especialistas e se aprofundar no tema, perceberá que uma fala é recorrente: os desafios não são novos, e sim a forma de organizá-los e de entendê-los de maneira complementar. Aliás, esses desafios não só não são novos, bem como o surgimento da própria sigla data de 2005, quando foi lançado o relatório “Who Cares Wins”, uma iniciativa de instituições financeiras de diferentes países junto à ONU.

ESG, como vocês já devem saber, resume três preocupações fundamentais para o mercado: Environmental (ambiental), Social (social) e Governance (governança). Olhando cada “letra” separadamente, não há muita novidade, certo? Acho que a maioria pode afirmar que participou de, pelo menos, uma reunião que focava em um dos três temas.

São pilares que já faziam parte da agenda de determinadas empresas e alguns executivos inclusive tinham metas atreladas a eles, porém a novidade diz respeito a uma mudança de mentalidade — aquela lá sobre a qual falamos no começo, aquele desafio lento. Esse novo olhar entende que a sustentabilidade de uma empresa depende igualmente destes três atributos. A lógica que priorizava (ou ainda prioriza) em cada momento um só aspecto, que se pauta no “assunto quente” da vez, foi substituída por um pensamento mais macro e de longo prazo: a perenidade não é possível se uma das "pernas" do ESG estiverem bambas. Ou seja, os atributos ambientais, sociais e de governança têm o mesmo peso e o “sucesso” de um depende do desenvolvimento do outro.

Isso, claro, tem provocado muitas mudanças no mercado, mas e na sua vida? Para você, líder, o que muda? Na minha opinião, tudo.

Como expliquei, a conversa sobre a ampliação do papel da liderança não é nova, mas vamos ser francos? Muitas vezes, ela era postergada ou deixada de lado por um tempo. Na agitação do dia a dia, a pressão por resultados financeiros falava mais alto e, assim, outras pautas eram priorizadas.

Agora, quando o resultado financeiro está diretamente ligado ao Environmental, Social and Governance, a lógica muda. Uma empresa não será sustentável se, antes de tudo, não tiver uma liderança também sustentável.

Nas palavras de Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, "os líderes estão, cada vez mais, reconhecendo que, para uma empresa ter sucesso no longo prazo, deve fornecer soluções lucrativas que afetam positivamente todas as partes interessadas".

É o coletivo antes do individual, é o lucro não a qualquer custo ou em detrimento de alguns ou de algo, mas de maneira responsável e sustentável. Em resumo, é tornar a sua liderança mais stakeholder-oriented — para utilizar o jargão do meio.

Uma série de recomendações é compartilhada no relatório de janeiro deste ano The Future of the Corporation (“O Futuro da Corporação”, em tradução livre para o português), feito pelo Fórum Econômico, mas eu gostaria de focar em quatro perguntas que ele apresenta. Isso porque, antes de sair mudando todo o planejamento estratégico da empresa, fazer treinamentos sobre liderança sustentável e por aí vai, é importante parar um momento e refletir.

Refletir com tempo e em profundidade porque, veja bem, não estamos falando de um modismo, do novo must corporativo, e sim de uma necessidade. Mais do que isso: de uma mudança intensa de paradigma.

Antes, então, de se atropelar no processo de transformação, foque nas perguntas — elas normalmente são ótimos guias para essa jornada:

  • Reflita sobre o propósito: estamos aqui para atender a quais necessidades? A quem servimos?
  • Reflita sobre a estratégia: qual é o nosso roteiro? Como chegamos aqui?
  • Reflita sobre a cultura e os valores: como fazemos as coisas aqui? Quais são os nossos princípios orientadores e comportamentos?
  • Reflita sobre a governança: como podemos garantir uma boa tomada de decisões em toda a empresa?

O processo do questionamento pode ser árduo, mas, se temos um compromisso verdadeiro com a transformação profunda da realidade, precisamos planejar cuidadosamente essa reconstrução.