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Estamos todos exaustos? Como a cultura corporativa naturaliza o cansaço

Em um momento que tanto falamos de ESG também é hora de repensar por que glorificamos a exaustão

Como lidar com problemas intensificados pela pandemia (FG Trade/Getty Images)
LL

Luciana Lima

Publicado em 26 de maio de 2022 às 15h56.

Terminar o dia com o sentimento de frustração por não ter conseguido fazer tudo. Sentir que sua rotina se resume a responder e-mails e mensagens no WhatsApp. Fazer parte de vários projetos ao mesmo tempo, mas não conseguir se dedicar direito a nenhum deles.

Ter a sensação de ansiedade diante do imediatismo das demandas. Ficar em estado de alerta constante porque as ferramentas de comunicação passam a ideia de que estamos sempre disponíveis. Ter a impressão de que as entregas são feitas no piloto-automático porque falta tempo para ser criativa(o) e propor algo diferente. Sentir que, em um mercado extremamente competitivo, é preciso provar o seu valor a todo momento, ainda que isso custe a sua saúde mental.

Comecei este artigo descrevendo tais situações para deixar claro que cansaço não tem a ver apenas com excesso de horas trabalhadas. É um quadro mais complexo do que isso e que precisa ter suas diversas fontes identificadas para não tomar conta da sua empresa.

Isso porque é muito comum que o cansaço não apareça de forma isolada, e, sim, como uma onda que vai crescendo e crescendo até inundar toda a organização. E, quando grande parte das pessoas está mergulhada nisso, é mais difícil emergir para a superfície e encontrar um bote salva-vidas.

A intenção aqui não é provocar uma situação de pânico ou fazer drama, mas convidar todos a uma reflexão sobre esse sentimento crescente e, por vezes, naturalizado no mundo corporativo. Explico.

Quando falo em “sentimento crescente” me refiro às diversas pesquisas que mostram o aumento de casos de burnout, quadros de ansiedade e outras questões relativas à saúde mental e que têm ligação com essa sensação intensa de esgotamento.

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Inclusive, em uma enquete no meu perfil no LinkedIn, 32% dos 5.953 respondentes afirmaram que estão se sentindo cansadas(os) depois desses primeiros meses de 2022 — outros 24% sinalizaram que a sensação é de desânimo e só 25% se disseram animados e 19%, felizes.

Um resultado desse não deve passar batido e isso tem a ver com o segundo adjetivo que usei. A naturalização do cansaço no mundo corporativo não é de hoje, afinal há quanto tempo não escutamos frases como “trabalhe enquanto eles dormem" e "se as coisas parecem sob controle, você não está indo rápido o suficiente"?

Cansaço como hábito

Longe de mim negar a importância do desafio ou a necessidade de, às vezes, dedicarmos mais horas e energia para uma entrega. Faz parte. O problema é quando não dormir, não parar, não descansar e correr contra o tempo se tornam o modus operandi. Viver cansado não é normal e não tem como as pessoas na sua empresa não se sentirem exaustas se a sua cultura não só naturaliza o cansaço, mas o glorifica.

É verdade que existem períodos de pico de trabalho. Não sou romântica e, como expliquei acima, sei que essas situações fazem parte da realidade dos negócios. A questão é que tornar isso um hábito não é sustentável para as pessoas que trabalham na sua empresa, tampouco é sustentável para o seu negócio.

Nós temos falado tanto sobre o conceito do ESG e, trazendo a sigla para a prática, precisamos pensar também em como ela está — ou não — refletida na cultura corporativa. Uma organização em que tudo é feito às pressas porque falta planejamento estratégico e onde as(os) colaboradoras(es) são constantemente afastados por motivos de saúde mental dificilmente tem um modelo de negócio sustentável.

A consequência disso normalmente é o oposto: turnover crescente, alta no índice do absenteísmo, aumento de gastos com saúde, queda na produtividade, impacto na satisfação do cliente e por aí vai.

Por isso, olhar para a questão do cansaço generalizado na sua empresa é uma forma de se antever a uma onda que pode começar engolindo algumas pessoas, depois áreas inteiras, projetos e, por fim, todo um negócio.

Para evitar esse tsunami, algumas recomendações são:

Às vezes, terminamos o dia com aquela sensação de cansaço. Às vezes, tem até aquele cansaço bom de quando conseguimos superar um desafio. Às vezes, precisamos passar por uma fase que exige um pouco mais de nós. Mas isso deve ser só “às vezes”.

Terminar o dia com o sentimento de frustração por não ter conseguido fazer tudo. Sentir que sua rotina se resume a responder e-mails e mensagens no WhatsApp. Fazer parte de vários projetos ao mesmo tempo, mas não conseguir se dedicar direito a nenhum deles.

Ter a sensação de ansiedade diante do imediatismo das demandas. Ficar em estado de alerta constante porque as ferramentas de comunicação passam a ideia de que estamos sempre disponíveis. Ter a impressão de que as entregas são feitas no piloto-automático porque falta tempo para ser criativa(o) e propor algo diferente. Sentir que, em um mercado extremamente competitivo, é preciso provar o seu valor a todo momento, ainda que isso custe a sua saúde mental.

Comecei este artigo descrevendo tais situações para deixar claro que cansaço não tem a ver apenas com excesso de horas trabalhadas. É um quadro mais complexo do que isso e que precisa ter suas diversas fontes identificadas para não tomar conta da sua empresa.

Isso porque é muito comum que o cansaço não apareça de forma isolada, e, sim, como uma onda que vai crescendo e crescendo até inundar toda a organização. E, quando grande parte das pessoas está mergulhada nisso, é mais difícil emergir para a superfície e encontrar um bote salva-vidas.

A intenção aqui não é provocar uma situação de pânico ou fazer drama, mas convidar todos a uma reflexão sobre esse sentimento crescente e, por vezes, naturalizado no mundo corporativo. Explico.

Quando falo em “sentimento crescente” me refiro às diversas pesquisas que mostram o aumento de casos de burnout, quadros de ansiedade e outras questões relativas à saúde mental e que têm ligação com essa sensação intensa de esgotamento.

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Inclusive, em uma enquete no meu perfil no LinkedIn, 32% dos 5.953 respondentes afirmaram que estão se sentindo cansadas(os) depois desses primeiros meses de 2022 — outros 24% sinalizaram que a sensação é de desânimo e só 25% se disseram animados e 19%, felizes.

Um resultado desse não deve passar batido e isso tem a ver com o segundo adjetivo que usei. A naturalização do cansaço no mundo corporativo não é de hoje, afinal há quanto tempo não escutamos frases como “trabalhe enquanto eles dormem" e "se as coisas parecem sob controle, você não está indo rápido o suficiente"?

Cansaço como hábito

Longe de mim negar a importância do desafio ou a necessidade de, às vezes, dedicarmos mais horas e energia para uma entrega. Faz parte. O problema é quando não dormir, não parar, não descansar e correr contra o tempo se tornam o modus operandi. Viver cansado não é normal e não tem como as pessoas na sua empresa não se sentirem exaustas se a sua cultura não só naturaliza o cansaço, mas o glorifica.

É verdade que existem períodos de pico de trabalho. Não sou romântica e, como expliquei acima, sei que essas situações fazem parte da realidade dos negócios. A questão é que tornar isso um hábito não é sustentável para as pessoas que trabalham na sua empresa, tampouco é sustentável para o seu negócio.

Nós temos falado tanto sobre o conceito do ESG e, trazendo a sigla para a prática, precisamos pensar também em como ela está — ou não — refletida na cultura corporativa. Uma organização em que tudo é feito às pressas porque falta planejamento estratégico e onde as(os) colaboradoras(es) são constantemente afastados por motivos de saúde mental dificilmente tem um modelo de negócio sustentável.

A consequência disso normalmente é o oposto: turnover crescente, alta no índice do absenteísmo, aumento de gastos com saúde, queda na produtividade, impacto na satisfação do cliente e por aí vai.

Por isso, olhar para a questão do cansaço generalizado na sua empresa é uma forma de se antever a uma onda que pode começar engolindo algumas pessoas, depois áreas inteiras, projetos e, por fim, todo um negócio.

Para evitar esse tsunami, algumas recomendações são:

Às vezes, terminamos o dia com aquela sensação de cansaço. Às vezes, tem até aquele cansaço bom de quando conseguimos superar um desafio. Às vezes, precisamos passar por uma fase que exige um pouco mais de nós. Mas isso deve ser só “às vezes”.

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