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Dia das Mães: a economia do cuidado e o mundo do trabalho

Dependendo do ambiente, o cuidado ainda é quase exclusivamente associado às mulheres

Home office com crianças: mulheres gastam mais de 61 horas por semana em trabalhos não remunerados no Brasil (Artur Debat/Getty Images)
LG

Luísa Granato

Publicado em 10 de maio de 2021 às 17h02.

Se uma criança chora, uma pessoa fica doente ou alguém mais velho precisa de ajuda, quem você chama? Ou qual figura vem à cabeça quase que instantaneamente nestes momentos? Normalmente, a de uma mulher, certo? Tarefas relacionadas ao cuidado são naturalmente associadas ao sexo feminino e, muitas vezes, é esse lado que costuma ser exaltado em datas como a de ontem, o Dia das Mães .

Juntar produtividade e qualidade de vida é possível. Descubra como no novo curso da Exame Academy

Claro, é natural que o cuidado seja associado ao papel da mulher em algumas situações,
como na da amamentação. Aliás, sobre essa “atividade”, dados da Organização Mundial da Saúde e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram o seguinte: considerando o tempo de cada mamada e a quantidade de vezes que se repete em um dia, o tempo investido nessa atividade no período de seis meses é de 650 horas. Ou seja, em seis meses, a mãe terá dedicado 650 horas só para o trabalho da amamentação.

O que se chama de Economia do Cuidado (termo referente ao trabalho, majoritariamente realizado por mulheres, de dedicação à sobrevivência, ao bem-estar e/ou à educação de pessoas, assim como à manutenção do meio em que estão inseridas), contudo, não se resume a isso. Preparar ou servir alimentos, cuidar da organização do domicílio (pagar contas, contratar serviços, orientar empregados etc), cuidar dos pais idosos ou de outros membros da família, enfim, tudo isso entra nessa lista. Uma lista que, de acordo com o IPEA (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019), faz com que as mulheres gastem, em média, mais de 61 horas por semana em trabalhos não remunerados no Brasil.

Agora, sabe quanto isso equivaleria em termos financeiros? Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), toda essa Economia do Cuidado corresponderia a 10,8 trilhões de dólares. Nesta simulação, somente quatro economias do mundo ficariam acima desse valor (China, Estados Unidos, União Europeia e Índia) e, considerando apenas uma das regiões mais importante na atualidade, o trabalho de cuidado não-pago representaria uma economia 24 vezes maior do que a do Vale do Silício.

O que isso tem a ver com o mundo do trabalho, com carreira, com liderança? Tudo! Se hoje você está na sua casa, no escritório ou em qualquer outro lugar lendo este artigo e consumindo outras informações como parte da sua rotina de trabalho para manter-se informado, pense que isso só foi possível porque, lá atrás, alguém cuidou de você. Mas o cuidado, veja, não se restringe à infância. Todos nós, de uma forma ou de outra, precisamos de cuidados para existir e para trilhar a nossa jornada.

O cuidado, aliás, também aparece - ou deveria aparecer - no ambiente de trabalho, mais especificamente na mudança de mentalidade dos líderes, que passam a entender sua função de maneira mais ampla, ou seja, como gestores de pessoas e não só dos negócios. O cuidado é um elemento chave da mentoria, ele está nas relações mais sustentáveis com fornecedores, com os clientes, enfim, com toda a cadeia do mercado. Falar em cuidado também parece ganhar mais palco no debate atual sobre práticas de ESG .

Porém, dependendo do ambiente, o cuidado ainda é quase exclusivamente associado às mulheres, como se fosse uma atividade inata, algo biológico. Não é. Somos ensinadas, desde pequenas, a “arte” do cuidado e, naturalmente, incorporamos esse papel no âmbito familiar e até no profissional. Quem nunca ouviu falar que mulheres são melhores para determinadas funções por terem esse “ar maternal”, de cuidado?

Ser associada a tarefas de cuidado não é um problema em si, não é essa a questão. O problema é quando entendemos que cuidar é um verbo só de alguns, um “verbo feminino” e também um verbo de menor valor.

Os tempos atuais têm levantado diversos sinais de alerta em relação à saúde mental, às relações humanas pessoais e profissionais, ao planejamento do futuro. Mudar a lógica atual e envolver todos nas atividades de cuidado talvez sejam passos importantes para a construção de um mundo melhor.

Não dá mais para achar que o único cuidado possível é o do colo de uma mãe. Então, fica a reflexão: se cuidar é um verbo de todos, de que forma você o tem usado no dia a dia?

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Se uma criança chora, uma pessoa fica doente ou alguém mais velho precisa de ajuda, quem você chama? Ou qual figura vem à cabeça quase que instantaneamente nestes momentos? Normalmente, a de uma mulher, certo? Tarefas relacionadas ao cuidado são naturalmente associadas ao sexo feminino e, muitas vezes, é esse lado que costuma ser exaltado em datas como a de ontem, o Dia das Mães .

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Claro, é natural que o cuidado seja associado ao papel da mulher em algumas situações,
como na da amamentação. Aliás, sobre essa “atividade”, dados da Organização Mundial da Saúde e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram o seguinte: considerando o tempo de cada mamada e a quantidade de vezes que se repete em um dia, o tempo investido nessa atividade no período de seis meses é de 650 horas. Ou seja, em seis meses, a mãe terá dedicado 650 horas só para o trabalho da amamentação.

O que se chama de Economia do Cuidado (termo referente ao trabalho, majoritariamente realizado por mulheres, de dedicação à sobrevivência, ao bem-estar e/ou à educação de pessoas, assim como à manutenção do meio em que estão inseridas), contudo, não se resume a isso. Preparar ou servir alimentos, cuidar da organização do domicílio (pagar contas, contratar serviços, orientar empregados etc), cuidar dos pais idosos ou de outros membros da família, enfim, tudo isso entra nessa lista. Uma lista que, de acordo com o IPEA (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019), faz com que as mulheres gastem, em média, mais de 61 horas por semana em trabalhos não remunerados no Brasil.

Agora, sabe quanto isso equivaleria em termos financeiros? Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), toda essa Economia do Cuidado corresponderia a 10,8 trilhões de dólares. Nesta simulação, somente quatro economias do mundo ficariam acima desse valor (China, Estados Unidos, União Europeia e Índia) e, considerando apenas uma das regiões mais importante na atualidade, o trabalho de cuidado não-pago representaria uma economia 24 vezes maior do que a do Vale do Silício.

O que isso tem a ver com o mundo do trabalho, com carreira, com liderança? Tudo! Se hoje você está na sua casa, no escritório ou em qualquer outro lugar lendo este artigo e consumindo outras informações como parte da sua rotina de trabalho para manter-se informado, pense que isso só foi possível porque, lá atrás, alguém cuidou de você. Mas o cuidado, veja, não se restringe à infância. Todos nós, de uma forma ou de outra, precisamos de cuidados para existir e para trilhar a nossa jornada.

O cuidado, aliás, também aparece - ou deveria aparecer - no ambiente de trabalho, mais especificamente na mudança de mentalidade dos líderes, que passam a entender sua função de maneira mais ampla, ou seja, como gestores de pessoas e não só dos negócios. O cuidado é um elemento chave da mentoria, ele está nas relações mais sustentáveis com fornecedores, com os clientes, enfim, com toda a cadeia do mercado. Falar em cuidado também parece ganhar mais palco no debate atual sobre práticas de ESG .

Porém, dependendo do ambiente, o cuidado ainda é quase exclusivamente associado às mulheres, como se fosse uma atividade inata, algo biológico. Não é. Somos ensinadas, desde pequenas, a “arte” do cuidado e, naturalmente, incorporamos esse papel no âmbito familiar e até no profissional. Quem nunca ouviu falar que mulheres são melhores para determinadas funções por terem esse “ar maternal”, de cuidado?

Ser associada a tarefas de cuidado não é um problema em si, não é essa a questão. O problema é quando entendemos que cuidar é um verbo só de alguns, um “verbo feminino” e também um verbo de menor valor.

Os tempos atuais têm levantado diversos sinais de alerta em relação à saúde mental, às relações humanas pessoais e profissionais, ao planejamento do futuro. Mudar a lógica atual e envolver todos nas atividades de cuidado talvez sejam passos importantes para a construção de um mundo melhor.

Não dá mais para achar que o único cuidado possível é o do colo de uma mãe. Então, fica a reflexão: se cuidar é um verbo de todos, de que forma você o tem usado no dia a dia?

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