“The Square – A Arte da Discórdia” mira em tudo e acerta a todos
"The Square - A Arte da Discórdia", de Rubens Östlund, estreia no Brasil nesta quinta-feira, 04. Veja o que blog achou desse queridinho dos festivais
Gabriela Ruic
Publicado em 4 de janeiro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 2 de março de 2018 às 13h50.
“Se pegássemos a sua mochila e colocássemos no Museu, isso faz dela arte? ”. A pergunta é, na realidade, a resposta de Christian (Claes Bang), o respeitado curador de um museu de arte contemporânea em Estocolmo ( Suécia ), para a jornalista Anne (Elizabeth Moss) durante uma discussão sobre o valor da arte.
O tom presunçoso da indagação constrange a entrevistadora e o entrevistado: ela avalia por alguns momentos se foi capaz de entender o que ele disse, mas constata que não, embora sinalize o contrário. Verdade seja dita, tampouco Christian parece convencido de sua explicação e muito menos você, espectador. Atrás dele, o letreiro anuncia: “Você não tem nada”.
É nesse clima que somos apresentados a Christian, o anti-herói e personagem principal do filme "The Square - A Arte da Discórdia", comédia dramática de Rubens Östlund, diretor de “Força Maior” (2015). Ele é a epítome da elite intelectual global: vive numa das capitais mais vibrantes do planeta, tem um cargo importantíssimo no maior museu de arte contemporânea do país, é elegante e descolado.
Sua próxima exposição, “The Square”, ainda lhe traz o alento de estar fazendo a sua parte no resgate da humanidade em um momento no qual o mundo passa por graves crises. A proposta da peça, um quadrado no chão produzido por uma artista argentina, é justamente a de que todos devem respeitar e ajudar o próximo dentro dos seus limites
O problema do discurso, no entanto, é que a sua aplicação na vida real não é fácil, especialmente quando lembramos o quão ambíguo nós, humanos, somos. E o protagonista logo percebe isso quando tem a carteira e o smartphone roubados. Com a ajuda de um funcionário, consegue rastrear seus pertences e descobre que estão em um edifício na periferia de Estocolmo, um local majoritariamente habitado por imigrantes.
As decisões que ele toma a partir desse momento desencadeiam acontecimentos que o colocam diante de dilemas a todo o tempo. Por exemplo, a certeza de Christian de que seria o seu funcionário o responsável por recuperar tudo sem que fosse necessário que ele, um cara conhecido na sociedade local, se expusesse e o tratamento que dá a um menino imigrante que cruza seu caminho.
E a arte?
Não pense que “The Square: A Arte da Discórdia” está centrado apenas no individualismo, justiça social e a complexidade da alma humana. O filme também mira e acerta em cheio a arte contemporânea — que já vive momentos de questionamento a seu sentido e existência. Östlund desfere golpes duros, mas muito engraçados.
Uma das cenas mais instigantes do filme traz à tona justamente isso. A sequência mostra um artista chamado Oleg (Terry Notary) durante uma incômoda performance como um macaco em um jantar de gala. Nesse salão, vemos reunido o seleto topo da pirâmide social sueca e todos os mecenas da instituição que Christian gerencia. O resultado deste encontro te deixará boquiaberto.
Esse emaranhado de acontecimentos, por vezes engraçados, como uma cena de sexo que certamente entrará para o rol como uma das melhores da história do cinema, e por vezes absurdos, podem até dar a impressão de que o filme beira a arrogância ou é superficial. No entanto, não perde o humor e a ironia fina que dá o tom para a história e logo nos lembra de que estamos diante de uma daquelas sátiras ácidas e certeiras.
Prêmios
“The Square: - A Arte da Discórdia” arrancou suspiros, aplausos e risadas durante a sua estreia no Festival de Cinema de Cannes , no qual arrebatou, ainda, o prêmio mais disputado do evento: a Palma de Ouro de melhor filme. Cotado como o favorito ao Globo de Ouro e ao Oscar de melhor filme estrangeiro, o longa chega ao Brasil nesta quinta-feira, 04 de janeiro.
“Se pegássemos a sua mochila e colocássemos no Museu, isso faz dela arte? ”. A pergunta é, na realidade, a resposta de Christian (Claes Bang), o respeitado curador de um museu de arte contemporânea em Estocolmo ( Suécia ), para a jornalista Anne (Elizabeth Moss) durante uma discussão sobre o valor da arte.
O tom presunçoso da indagação constrange a entrevistadora e o entrevistado: ela avalia por alguns momentos se foi capaz de entender o que ele disse, mas constata que não, embora sinalize o contrário. Verdade seja dita, tampouco Christian parece convencido de sua explicação e muito menos você, espectador. Atrás dele, o letreiro anuncia: “Você não tem nada”.
É nesse clima que somos apresentados a Christian, o anti-herói e personagem principal do filme "The Square - A Arte da Discórdia", comédia dramática de Rubens Östlund, diretor de “Força Maior” (2015). Ele é a epítome da elite intelectual global: vive numa das capitais mais vibrantes do planeta, tem um cargo importantíssimo no maior museu de arte contemporânea do país, é elegante e descolado.
Sua próxima exposição, “The Square”, ainda lhe traz o alento de estar fazendo a sua parte no resgate da humanidade em um momento no qual o mundo passa por graves crises. A proposta da peça, um quadrado no chão produzido por uma artista argentina, é justamente a de que todos devem respeitar e ajudar o próximo dentro dos seus limites
O problema do discurso, no entanto, é que a sua aplicação na vida real não é fácil, especialmente quando lembramos o quão ambíguo nós, humanos, somos. E o protagonista logo percebe isso quando tem a carteira e o smartphone roubados. Com a ajuda de um funcionário, consegue rastrear seus pertences e descobre que estão em um edifício na periferia de Estocolmo, um local majoritariamente habitado por imigrantes.
As decisões que ele toma a partir desse momento desencadeiam acontecimentos que o colocam diante de dilemas a todo o tempo. Por exemplo, a certeza de Christian de que seria o seu funcionário o responsável por recuperar tudo sem que fosse necessário que ele, um cara conhecido na sociedade local, se expusesse e o tratamento que dá a um menino imigrante que cruza seu caminho.
E a arte?
Não pense que “The Square: A Arte da Discórdia” está centrado apenas no individualismo, justiça social e a complexidade da alma humana. O filme também mira e acerta em cheio a arte contemporânea — que já vive momentos de questionamento a seu sentido e existência. Östlund desfere golpes duros, mas muito engraçados.
Uma das cenas mais instigantes do filme traz à tona justamente isso. A sequência mostra um artista chamado Oleg (Terry Notary) durante uma incômoda performance como um macaco em um jantar de gala. Nesse salão, vemos reunido o seleto topo da pirâmide social sueca e todos os mecenas da instituição que Christian gerencia. O resultado deste encontro te deixará boquiaberto.
Esse emaranhado de acontecimentos, por vezes engraçados, como uma cena de sexo que certamente entrará para o rol como uma das melhores da história do cinema, e por vezes absurdos, podem até dar a impressão de que o filme beira a arrogância ou é superficial. No entanto, não perde o humor e a ironia fina que dá o tom para a história e logo nos lembra de que estamos diante de uma daquelas sátiras ácidas e certeiras.
Prêmios
“The Square: - A Arte da Discórdia” arrancou suspiros, aplausos e risadas durante a sua estreia no Festival de Cinema de Cannes , no qual arrebatou, ainda, o prêmio mais disputado do evento: a Palma de Ouro de melhor filme. Cotado como o favorito ao Globo de Ouro e ao Oscar de melhor filme estrangeiro, o longa chega ao Brasil nesta quinta-feira, 04 de janeiro.