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“Dunkirk”: um filme incrível sobre uma derrota colossal

Filme aclamado sobre um dos episódios mais marcantes da Segunda Guerra chega aos cinemas nesta quinta-feira. Aqui, as impressões do blog

Atores Harry Styles, Aneurin Bernard e Fionn Whitehead no filme "Dunkirk", de Christopher Nolan (Warner Bros./Divulgação)
GR

Gabriela Ruic

Publicado em 27 de julho de 2017 às 06h00.

Última atualização em 2 de março de 2018 às 13h50.

Um grupo de soldados caminha por uma rua apertada, cercada de casas antigas. Estão cansados, procuram por água, comida. A cidade parece fantasma e o vento traz um alerta desconcertante ao despejar sobre suas cabeças milhares de folhetos que diziam: “Vocês estão cercados. Rendam-se e sobreviverão”.

O recado não era em vão. O som das metralhadoras do inimigo logo sufoca o silêncio, os tiros perfuram as paredes e o grupo corre para tentar se salvar. Um a um eles caem. E ninguém sabe se alguém sobreviverá.

É nesse clima de incerteza e desconforto que segue “Dunkirk” , o blockbuster do diretor Christopher Nolan que estreia nesta quinta-feira no Brasil.

O filme traz um registro verossímil do que se passava na costa norte da França naquele fim de maio de 1940 quando tropas aliadas foram encurraladas entre o mar e os alemães.

Mais de 340 mil soldados foram retirados com sucesso nesse episódio que ficou conhecido como “O Milagre de Dunquerque” e se tornou um dos mais importantes da Segunda Guerra Mundial.

Embora trate de um fato histórico, não se deixe enganar por essa premissa. “Dunkirk”, não é um filme de guerra convencional e Nolan não faz questão de que seja. Com sua habilidade de subverter gêneros consolidados, como fez com os super-heróis na trilogia “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, o diretor aplica suas artimanhas para tentar levar os filmes de guerra a um novo nível. E chega muito, muito perto.

Nolan aproveita sem pudores um traço que se tornou uma das suas maiores características: a não linearidade da história. Esse recurso já foi extensivamente aplicado pelo diretor em vários filmes de sua carreira, como “Amnésia” (2000) e “A Origem” (2010), mas em “Dunkirk” aparece aperfeiçoado.

O longa se passa em três momentos diferentes, cada qual com a sua duração. Temos o “Molhe” com a visão dos soldados que esperam ansiosamente pelo resgate na praia, o “Mar”, que mostra o ponto de vista de uma embarcação civil convocada para a evacuação, e o “Ar”, no qual vemos a atuação da Força Aérea Real britânica contra os aviões nazistas.

Essas perspectivas vão aos poucos se entrelaçando, aprofundando a narrativa e esclarecendo o que, afinal, estava acontecendo naquela praia durante os resgates. Sutilmente, vamos juntando cada peça do quebra-cabeça que o diretor propõe.

Filme "Dunkirk", de Christopher Nolan

Com poucos diálogos, os personagens principais não são apresentados, apenas estão lá, lutando pela sobrevivência, homens comuns que observam a sua humanidade ser levada ao extremo. Não há feitos estratégicos, histórias de heroísmo ou sanguinolência típicas do gênero guerra/ação.

Em vez de trazer essa violência para nossos olhos, o diretor transmite a sensação de que estamos lá testemunhando os desdobramentos do resgate, junto aos personagens. E essa sensação se torna ainda mais palpável pela fotografia realista de Hoyte van Hoytema e a trilha tensa de Hans Zimmer.

O ator Tom Hardy no filme "Dunkirk", de Christopher Nolan

Agora, tal qual muitos filmes de guerra, Nolan não consegue escapar das mensagens de glória e resiliência nacional, o que acaba por deixar “Dunkirk” no mesmo patamar de outras produções espetaculares do gênero (um alto patamar, vale notar), mas não acima.

Isso não impacta na grandeza do longa, já que um desdobramento histórico desse episódio foi justamente a mudança de perspectiva dessa derrota dos aliados no fronte ocidental para vitória e motor para que os britânicos seguissem na guerra .

Vale destacar, ainda, que o diretor acertou no elenco e extraiu performances emocionantes e interessantes de atores veteranos, como Mark Rylance (Senhor Dawson), Kenneth Branagh (Comandante Bolson), Tom Hardy (Ferrier) e Cillian Murphy (soldado traumatizado), e novatos, especialmente Fionn Whitehead (Tommy), Barry Keoghan (George) e o popstar Harry Styles (Alex), que surpreendeu com uma boa atuação em sua estreia no cinema.

“Dunkirk” é verossímil, é imersivo, é incrível. Uma prova criada por Nolan, notório avesso aos serviços de streaming, do quanto as salas de cinema ainda têm para entregar aos espectadores em termos de experiências e percepções.

Em tempos em que podemos assistir qualquer conteúdo a qualquer momento e em qualquer lugar, é um alento ver uma obra de arte produzida especialmente para as grandes telas.

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Um grupo de soldados caminha por uma rua apertada, cercada de casas antigas. Estão cansados, procuram por água, comida. A cidade parece fantasma e o vento traz um alerta desconcertante ao despejar sobre suas cabeças milhares de folhetos que diziam: “Vocês estão cercados. Rendam-se e sobreviverão”.

O recado não era em vão. O som das metralhadoras do inimigo logo sufoca o silêncio, os tiros perfuram as paredes e o grupo corre para tentar se salvar. Um a um eles caem. E ninguém sabe se alguém sobreviverá.

É nesse clima de incerteza e desconforto que segue “Dunkirk” , o blockbuster do diretor Christopher Nolan que estreia nesta quinta-feira no Brasil.

O filme traz um registro verossímil do que se passava na costa norte da França naquele fim de maio de 1940 quando tropas aliadas foram encurraladas entre o mar e os alemães.

Mais de 340 mil soldados foram retirados com sucesso nesse episódio que ficou conhecido como “O Milagre de Dunquerque” e se tornou um dos mais importantes da Segunda Guerra Mundial.

Embora trate de um fato histórico, não se deixe enganar por essa premissa. “Dunkirk”, não é um filme de guerra convencional e Nolan não faz questão de que seja. Com sua habilidade de subverter gêneros consolidados, como fez com os super-heróis na trilogia “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, o diretor aplica suas artimanhas para tentar levar os filmes de guerra a um novo nível. E chega muito, muito perto.

Nolan aproveita sem pudores um traço que se tornou uma das suas maiores características: a não linearidade da história. Esse recurso já foi extensivamente aplicado pelo diretor em vários filmes de sua carreira, como “Amnésia” (2000) e “A Origem” (2010), mas em “Dunkirk” aparece aperfeiçoado.

O longa se passa em três momentos diferentes, cada qual com a sua duração. Temos o “Molhe” com a visão dos soldados que esperam ansiosamente pelo resgate na praia, o “Mar”, que mostra o ponto de vista de uma embarcação civil convocada para a evacuação, e o “Ar”, no qual vemos a atuação da Força Aérea Real britânica contra os aviões nazistas.

Essas perspectivas vão aos poucos se entrelaçando, aprofundando a narrativa e esclarecendo o que, afinal, estava acontecendo naquela praia durante os resgates. Sutilmente, vamos juntando cada peça do quebra-cabeça que o diretor propõe.

Filme "Dunkirk", de Christopher Nolan

Com poucos diálogos, os personagens principais não são apresentados, apenas estão lá, lutando pela sobrevivência, homens comuns que observam a sua humanidade ser levada ao extremo. Não há feitos estratégicos, histórias de heroísmo ou sanguinolência típicas do gênero guerra/ação.

Em vez de trazer essa violência para nossos olhos, o diretor transmite a sensação de que estamos lá testemunhando os desdobramentos do resgate, junto aos personagens. E essa sensação se torna ainda mais palpável pela fotografia realista de Hoyte van Hoytema e a trilha tensa de Hans Zimmer.

O ator Tom Hardy no filme "Dunkirk", de Christopher Nolan

Agora, tal qual muitos filmes de guerra, Nolan não consegue escapar das mensagens de glória e resiliência nacional, o que acaba por deixar “Dunkirk” no mesmo patamar de outras produções espetaculares do gênero (um alto patamar, vale notar), mas não acima.

Isso não impacta na grandeza do longa, já que um desdobramento histórico desse episódio foi justamente a mudança de perspectiva dessa derrota dos aliados no fronte ocidental para vitória e motor para que os britânicos seguissem na guerra .

Vale destacar, ainda, que o diretor acertou no elenco e extraiu performances emocionantes e interessantes de atores veteranos, como Mark Rylance (Senhor Dawson), Kenneth Branagh (Comandante Bolson), Tom Hardy (Ferrier) e Cillian Murphy (soldado traumatizado), e novatos, especialmente Fionn Whitehead (Tommy), Barry Keoghan (George) e o popstar Harry Styles (Alex), que surpreendeu com uma boa atuação em sua estreia no cinema.

“Dunkirk” é verossímil, é imersivo, é incrível. Uma prova criada por Nolan, notório avesso aos serviços de streaming, do quanto as salas de cinema ainda têm para entregar aos espectadores em termos de experiências e percepções.

Em tempos em que podemos assistir qualquer conteúdo a qualquer momento e em qualquer lugar, é um alento ver uma obra de arte produzida especialmente para as grandes telas.

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