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A comédia familiar que revolucionou as comédias familiares

"black-ish" trata de uma família classe média alta de Los Angeles, mas sem deixar de lado assuntos como identidade racial, racismo e discriminação.

Série black-ish, da Netflix (black-ish/Divulgação)
Série black-ish, da Netflix (black-ish/Divulgação)
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Sobre Filmes e Séries

Publicado em 24 de março de 2017 às, 06h00.

Última atualização em 24 de março de 2017 às, 12h53.

Não é novidade que a comédia seja usada como uma ferramenta de crítica social. Inclusive, os melhores momentos desse gênero são aqueles em que a mensagem trazida pela piada se conecta diretamente com o zeitgeist. Faz rir, mas faz também pensar e questionar.

Pois “black-ish” (que em português poderia ser traduzida para algo como “Mais ou menos negro”) é uma daquelas séries que conseguiu conduzir essa relação com maestria. E, olha, ela dividiu opiniões nos Estados Unidos: enquanto a família Obama já se declarou fã, Donald Trump a taxou como “racista” em um de seus tuítes.

A história é sobre os Johnson, uma família negra de classe média alta que vive nos subúrbios de Los Angeles, e tem como pano de fundo situações mundanas do dia a dia. Até aí, “black-ish” tem algumas semelhanças com os Huxtable da sitcom oitentista “The Cosby Show”.

Só que “black-ish” vai além da fórmula manjada que envolve as comédias familiares com as quais o mundo já se acostumou para entrar em assuntos como identidade racial, racismo e discriminação. E a subjetividade que permeia todas essas questões é elegantemente inserida na vida familiar.

O pai Andre (“Dre”, interpretado pelo ator Anthony Anderson) é um executivo bem-sucedido. Casado com uma médica (“Rainbow” ou "Bow", papel de Tracee Ellis Ross), mora com os quatro filhos e seu pai, “Pops” (estreia surpreendente de Laurence Fishburne na comédia), em uma belíssima casa.

“Dre” tem a certeza de que será promovido em breve e se vangloria de estar prestes a virar o primeiro vice-presidente negro da história da agência. A promoção, contudo, vem de uma forma inesperada: invés de vice-presidente da agência, ele se torna vp da divisão “urbana”, que atende grandes empresas ansiosas para abocanhar o mercado de consumo da comunidade negra.

Decepcionado e se sentindo discriminado, teme que sua família esteja se distanciando da cultura negra. Ele se revolta quando seu filho mais velho, Junior, opta por praticar hóquei na grama invés de basquete, enquanto seus filhos gêmeos, Diane e Jack, não sabem que Barack Obama foi o primeiro presidente negro do país.

Fica indignado com o fato de que artistas como Justin Timberlake e Robin Thicke são vistos como os grandes nomes do R&B atual e se choca com a sugestão de sua esposa de que ele deveria se juntar a um time de basquete “menos intenso” (isto é, formado majoritariamente por homens brancos) após se machucar durante uma partida.

A primeira temporada trata justamente desse embate entre o que o pai considera ser identidade racial e como sua família e colegas se inserem nesse contexto. E “black-ish” consegue fazer isso com sensibilidade, muitas referências e ótimas sacadas.

SÓ MAIS UMA COISINHA...

É bem verdade que o seriado traz discussões sobre a questão racial. Mas o trabalho da maravilhosa Tracee no papel de “Bow” também merece destaque.

Expressiva ao extremo, ela faz uma médica poderosa, estilosa, inteligente e engraçadíssima. Lembrando que Tracee, que é filha da diva Diana Ross, ganhou uma série de prêmios por sua atuação no seriado, entre Globo de Ouro e o NAACP Image Awards.

“black-ish” foi criado por Kenya Barris (um dos nomes de “America’s Next Top Model”), estreou na rede ABC nos Estados Unidos em 2014 e hoje está em sua terceira temporada. A primeira, no entanto, só chegou ao Brasil no ano passado via Netflix.

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