Wikileaks, MIT e a desobediência como valor
O festejado Media Lab do MIT (Massachusetts Institute of Technology) instituiu um Prêmio de Desobediência. As inscrições começaram no dia 7 de março e se encerrarão em 1º de maio. O vencedor será anunciado no dia 21 de julho. O ganhador vai levar 250.000 dólares doados por Reid Hoffman, fundador e CEO do LinkedIn. A página […]
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2017 às 10h02.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h15.
O festejado Media Lab do MIT (Massachusetts Institute of Technology) instituiu um Prêmio de Desobediência. As inscrições começaram no dia 7 de março e se encerrarão em 1º de maio. O vencedor será anunciado no dia 21 de julho. O ganhador vai levar 250.000 dólares doados por Reid Hoffman, fundador e CEO do LinkedIn.
A página do prêmio na Internet explica que o objetivo é reconhecer exemplos de desobediência efetiva, responsável e ética em várias disciplinas, incluindo: pesquisa científica, direitos civis, liberdade de expressão, direitos humanos e liberdade para inovar. Diz também que as sociedades tendem a privilegiar a ordem sobre o caos e, com isso, engessam criatividade, flexibilidade e mudanças produtivas.
Como condição, o premiado deve ter assumido um risco pessoal na sua missão de transformação pelo bem coletivo. Joi Ito, o celebrado diretor do Media Lab, resume: “Você não muda o mundo fazendo o que lhe foi dito”.
A desobediência como motor da evolução do mundo não é novidade. Os exemplos são inúmeros. Galileu Galilei, por volta de 1.600, teimou com a igreja que o sol, e não a terra, era o centro do universo que se conhecia naquele tempo. Foi julgado e condenado pela inquisição. Diz a lenda que ao sair do tribunal disse: “Eppur si muove!”, ou algo como “apesar de tudo se move”, referindo-se à terra. Com o correr do tempo a igreja reviu sua posição com benefícios para todos nós e para ela própria.
Mais recentemente, Martin Luther King foi outro exemplo de descumprimento exemplar das regras estabelecidas. A sua liderança do movimento pelos direitos civis dos negros americanos foi um dos acontecimentos definidores da década de 60, o período de maior transformação social do século XX. Moldou boa parte dos laços sociais que conhecemos hoje.
Em 1955 liderou o boicote aos ônibus segregados de Montgomery e em 1963 organizou a marcha sobre Washington quando disse a sua frase mais conhecida e repetida: “I have a dream”. Entretanto, a sua declaração mais contundente foi: “Temos a responsabilidade moral de desobedecer leis injustas”. Em 1964 ganhou o Nobel da Paz.
A rebeldia a preceitos e regras estabelecidas fica fácil de entender e reconhecer quando analisadas a partir de uma perspectiva histórica, como são os casos acima. Quando se está vivendo no tempo da transgressão, nem sempre o discernimento de qual é o “lado certo” é claro, devido às emoções e ideologias em jogo. Os intelectuais europeus continuaram defendendo Stalin, em nome de um hipotético bem maior, mesmo quando suas atrocidades já eram evidentes.
Um exemplo dessa dificuldade é o recente vazamento pelo Wikileaks do arsenal de truques da CIA para espionar nossos computadores, celulares e televisões. Seria este um tipo de desafio às autoridades que se enquadraria nos critérios do Media Lab?
A revelação teve sua dose de responsabilidade ao divulgar apenas as descrições das ferramentas, sem os códigos, para que não caíssem em mãos erradas. Além disso, veio também com o oferecimento de ajuda e compartilhamento dos conteúdos para que as empresas de tecnologia possam corrigir suas falhas. Lembremos que muitas empresas, como a Apple e Facebook (com o WhatsApp), têm se recusado a cooperar com as autoridades abrindo suas proteções mesmo em situações claras de crime e terrorismo. São consideradas campeãs da desobediência responsável.
Como Julian Assange, que continua liderando o WikiLeaks exilado na embaixada do Equador em Londres, não é considerado uma figura confiável por muitos, já surgiram boatos inferindo que a divulgação era interessada. A fonte do site seriam os russos, em uma missão para ajudar Trump a desacreditar a CIA, colaborando com sua guerra pessoal contra a comunidade de informações americana.
Teoria da conspiração ou não, o fato é que vários especialistas em segurança minimizaram a importância das revelações. Dizem que o que foi descoberto são gambiarras para invadir aparelhos e sistemas que estão ficando cada vez mais protegidos pela criptografia. Fizeram também uma comparação com o vazamento de Edward Snowden. Aquela sim teria sido uma subversão louvável, por ter revelado uma vigilância secreta em massa de governantes e indivíduos. Este é apenas um pequeno exemplo da dificuldade em distinguir as pequenas rebeldias, que são apenas politicamente corretas ou dissimuladamente interessadas, das desobediências essenciais que deixarão uma fenda no universo.
Apesar disso a iniciativa do MIT é uma ótima notícia. Coloca entre os valores aceitos da sociedade e das corporações contemporâneas a desobediência. É um grande avanço para estes tempos que estão cansados de princípios conformistas como disciplina, humildade, confiança, excelência, entre outros similares. Nesta nova terra que já habitamos há algum tempo a indisciplina, a desobediência, a desconfiança e a insolência já deveriam ter ocupado o seu devido espaço. Exercidos com a devida responsabilidade têm um poder imenso de acelerar a construção de um mundo que além de ser inovador e criador de riquezas, seja mais justo, inclusivo, tolerante e ético.
O festejado Media Lab do MIT (Massachusetts Institute of Technology) instituiu um Prêmio de Desobediência. As inscrições começaram no dia 7 de março e se encerrarão em 1º de maio. O vencedor será anunciado no dia 21 de julho. O ganhador vai levar 250.000 dólares doados por Reid Hoffman, fundador e CEO do LinkedIn.
A página do prêmio na Internet explica que o objetivo é reconhecer exemplos de desobediência efetiva, responsável e ética em várias disciplinas, incluindo: pesquisa científica, direitos civis, liberdade de expressão, direitos humanos e liberdade para inovar. Diz também que as sociedades tendem a privilegiar a ordem sobre o caos e, com isso, engessam criatividade, flexibilidade e mudanças produtivas.
Como condição, o premiado deve ter assumido um risco pessoal na sua missão de transformação pelo bem coletivo. Joi Ito, o celebrado diretor do Media Lab, resume: “Você não muda o mundo fazendo o que lhe foi dito”.
A desobediência como motor da evolução do mundo não é novidade. Os exemplos são inúmeros. Galileu Galilei, por volta de 1.600, teimou com a igreja que o sol, e não a terra, era o centro do universo que se conhecia naquele tempo. Foi julgado e condenado pela inquisição. Diz a lenda que ao sair do tribunal disse: “Eppur si muove!”, ou algo como “apesar de tudo se move”, referindo-se à terra. Com o correr do tempo a igreja reviu sua posição com benefícios para todos nós e para ela própria.
Mais recentemente, Martin Luther King foi outro exemplo de descumprimento exemplar das regras estabelecidas. A sua liderança do movimento pelos direitos civis dos negros americanos foi um dos acontecimentos definidores da década de 60, o período de maior transformação social do século XX. Moldou boa parte dos laços sociais que conhecemos hoje.
Em 1955 liderou o boicote aos ônibus segregados de Montgomery e em 1963 organizou a marcha sobre Washington quando disse a sua frase mais conhecida e repetida: “I have a dream”. Entretanto, a sua declaração mais contundente foi: “Temos a responsabilidade moral de desobedecer leis injustas”. Em 1964 ganhou o Nobel da Paz.
A rebeldia a preceitos e regras estabelecidas fica fácil de entender e reconhecer quando analisadas a partir de uma perspectiva histórica, como são os casos acima. Quando se está vivendo no tempo da transgressão, nem sempre o discernimento de qual é o “lado certo” é claro, devido às emoções e ideologias em jogo. Os intelectuais europeus continuaram defendendo Stalin, em nome de um hipotético bem maior, mesmo quando suas atrocidades já eram evidentes.
Um exemplo dessa dificuldade é o recente vazamento pelo Wikileaks do arsenal de truques da CIA para espionar nossos computadores, celulares e televisões. Seria este um tipo de desafio às autoridades que se enquadraria nos critérios do Media Lab?
A revelação teve sua dose de responsabilidade ao divulgar apenas as descrições das ferramentas, sem os códigos, para que não caíssem em mãos erradas. Além disso, veio também com o oferecimento de ajuda e compartilhamento dos conteúdos para que as empresas de tecnologia possam corrigir suas falhas. Lembremos que muitas empresas, como a Apple e Facebook (com o WhatsApp), têm se recusado a cooperar com as autoridades abrindo suas proteções mesmo em situações claras de crime e terrorismo. São consideradas campeãs da desobediência responsável.
Como Julian Assange, que continua liderando o WikiLeaks exilado na embaixada do Equador em Londres, não é considerado uma figura confiável por muitos, já surgiram boatos inferindo que a divulgação era interessada. A fonte do site seriam os russos, em uma missão para ajudar Trump a desacreditar a CIA, colaborando com sua guerra pessoal contra a comunidade de informações americana.
Teoria da conspiração ou não, o fato é que vários especialistas em segurança minimizaram a importância das revelações. Dizem que o que foi descoberto são gambiarras para invadir aparelhos e sistemas que estão ficando cada vez mais protegidos pela criptografia. Fizeram também uma comparação com o vazamento de Edward Snowden. Aquela sim teria sido uma subversão louvável, por ter revelado uma vigilância secreta em massa de governantes e indivíduos. Este é apenas um pequeno exemplo da dificuldade em distinguir as pequenas rebeldias, que são apenas politicamente corretas ou dissimuladamente interessadas, das desobediências essenciais que deixarão uma fenda no universo.
Apesar disso a iniciativa do MIT é uma ótima notícia. Coloca entre os valores aceitos da sociedade e das corporações contemporâneas a desobediência. É um grande avanço para estes tempos que estão cansados de princípios conformistas como disciplina, humildade, confiança, excelência, entre outros similares. Nesta nova terra que já habitamos há algum tempo a indisciplina, a desobediência, a desconfiança e a insolência já deveriam ter ocupado o seu devido espaço. Exercidos com a devida responsabilidade têm um poder imenso de acelerar a construção de um mundo que além de ser inovador e criador de riquezas, seja mais justo, inclusivo, tolerante e ético.