O que Steve Jobs faria se estivesse vivo?
A chama da Apple está se apagando. Quando a grande novidade no recente lançamento do iPhone 7 é a ausência de um furo, o acontecimento se reveste de um significado simbólico especial e muitas especulações aparecem. Estaria extinta a capacidade de inovação disruptiva da empresa? Tem algo de podre no reino da maça? Sem nenhum […]
Da Redação
Publicado em 29 de setembro de 2016 às 11h34.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h28.
A chama da Apple está se apagando. Quando a grande novidade no recente lançamento do iPhone 7 é a ausência de um furo, o acontecimento se reveste de um significado simbólico especial e muitas especulações aparecem. Estaria extinta a capacidade de inovação disruptiva da empresa? Tem algo de podre no reino da maça?
Sem nenhum novo produto capaz de “mudar o mundo”, em muitos anos, é inevitável pensar se esse destino seria diferente se Steve Jobs ainda fosse o líder. Não tenho nenhuma autoridade para ser o intérprete do pensamento póstumo de Steve, mas me arvoro a opinar que ele não deixaria que o produto saísse sem o furo, mas com um fone de ouvido com fio e um adaptador.
É no mínimo uma incongruência conceitual e de design. Se a empresa acredita que o futuro (que já chegou) é sem fio deveria incluir no pacote um fone que fosse compatível com a tecnologia. O AirPod (péssimo nome que se confunde com iPod.) é o tal fone. Foi lançado junto, mas tem que ser adquirido separadamente por 159 dólares. O argumento para ele não fazer parte do produto padrão certamente deve ter sido o preço.
Arrisco-me a afirmar que Steve usaria a sua célebre “distorção da realidade” para pressionar seus liderados a encontrar uma solução. Escuto claramente Steve, aos berros, dizendo: “Não faz nenhum sentido lançar um smartphone para ser usado sem fio e empacotar com um fio junto” E exigiria que eles se virassem para incluir um fone sem fio por um preço que fosse competitivo. E que o adaptador fosse vendido separado para quem quisesse usar seus fones antigos. Isso é coerência conceitual.
É apenas um detalhe, diriam, mas carregado de simbolismo, digo. Isso tudo somado ao fato de que a Apple frustrou nossa expectativa em vários setores em que esperávamos soluções que mudassem as respectivas indústrias. Senão vejamos.
Sempre achei que a Apple mudaria o conceito de TV. Foi precursora com o Apple TV, mas o produto não evoluiu. Hoje é apenas mais um dispositivo de conexão com a TV, em um mercado onde abundam as TV´s conectadas, com imagem excepcional, mas interfaces muito pobres.
A companhia demorou a perceber que o consumo de música estava mudando para streaming e deixou o Spotify largar na frente. Continua fazendo o mesmo com filmes, ignorando que o modelo será o do Netflix, por assinatura, e não através da compras de títulos.
Lançou o Apple Watch, mas estranhamente esconde os números de vendas. Os analistas estimam que os resultados são bons, mas é um produto de nicho, principalmente, para fitness.
Como mais recente novidade, temos o Apple Pay, que tenta ocupar espaço no caminho inexorável que está levando o dinheiro para dentro do celular. Mesmo com a liberação recente para o uso em browsers (para compra direta em sites de ecommerce) é improvável que a solução seja dominante dada a existência do Android Pay que se beneficia de uma base instalada muito maior. No Brasil, por exemplo, o Apple Pay é virtualmente inexistente, até agora.
Fala-se de um Apple Car. Podemos ter uma surpresa, mas quais as chances reais diante da dianteira da Tesla, do Google e do investimento massivo das montadoras internacionais?
Até suas principais qualidades estão sendo contestadas. Em um artigo recente do New York Times, publicado aqui em EXAME Hoje com o sugestivo título “Na Apple, o design virou fraqueza”, o autor Farhad Manjoo resume: “a estética da Apple está ficando obsoleta” e complementa com uma pergunta: “Qual foi o último design da Apple que deixou você deslumbrado?” Lembrando que o “designer chefe” é ainda o cultuado Jonathan Ive dos tempos de Jobs.
É claro que esta não é nenhuma crise financeira como a que aconteceu quando Jobs retornou. A empresa continua ganhando muito dinheiro, abarrotada de caixa e valendo muito na bolsa de valores. Pode e vai usar seus fundos para comprar empresas e participações como fez com o Didi Chuxing, o Uber chinês, ou a possível compra da McLaren, fabricante britânica de carros de luxo e escuderia de Fórmula 1.
Inovação disruptiva pode ser comprada? Pode. Existem alguns exemplos como o Waze e o WhatsApp, mas não são muitos. Sinto, porém, que aquele desejo do Steve de “to make a dent in the universe” está cada vez mais distante. Olhando no dicionário “make a dent” tem os significados de amassar, afundar, deformar, todos compatíveis com o conceito abrasivo de “destruição criativa” do economista Joseph Schumpeter, o profeta da inovação.
Tenho a sensação de que a Apple atualmente está apenas arranhando este nosso mundo.
A chama da Apple está se apagando. Quando a grande novidade no recente lançamento do iPhone 7 é a ausência de um furo, o acontecimento se reveste de um significado simbólico especial e muitas especulações aparecem. Estaria extinta a capacidade de inovação disruptiva da empresa? Tem algo de podre no reino da maça?
Sem nenhum novo produto capaz de “mudar o mundo”, em muitos anos, é inevitável pensar se esse destino seria diferente se Steve Jobs ainda fosse o líder. Não tenho nenhuma autoridade para ser o intérprete do pensamento póstumo de Steve, mas me arvoro a opinar que ele não deixaria que o produto saísse sem o furo, mas com um fone de ouvido com fio e um adaptador.
É no mínimo uma incongruência conceitual e de design. Se a empresa acredita que o futuro (que já chegou) é sem fio deveria incluir no pacote um fone que fosse compatível com a tecnologia. O AirPod (péssimo nome que se confunde com iPod.) é o tal fone. Foi lançado junto, mas tem que ser adquirido separadamente por 159 dólares. O argumento para ele não fazer parte do produto padrão certamente deve ter sido o preço.
Arrisco-me a afirmar que Steve usaria a sua célebre “distorção da realidade” para pressionar seus liderados a encontrar uma solução. Escuto claramente Steve, aos berros, dizendo: “Não faz nenhum sentido lançar um smartphone para ser usado sem fio e empacotar com um fio junto” E exigiria que eles se virassem para incluir um fone sem fio por um preço que fosse competitivo. E que o adaptador fosse vendido separado para quem quisesse usar seus fones antigos. Isso é coerência conceitual.
É apenas um detalhe, diriam, mas carregado de simbolismo, digo. Isso tudo somado ao fato de que a Apple frustrou nossa expectativa em vários setores em que esperávamos soluções que mudassem as respectivas indústrias. Senão vejamos.
Sempre achei que a Apple mudaria o conceito de TV. Foi precursora com o Apple TV, mas o produto não evoluiu. Hoje é apenas mais um dispositivo de conexão com a TV, em um mercado onde abundam as TV´s conectadas, com imagem excepcional, mas interfaces muito pobres.
A companhia demorou a perceber que o consumo de música estava mudando para streaming e deixou o Spotify largar na frente. Continua fazendo o mesmo com filmes, ignorando que o modelo será o do Netflix, por assinatura, e não através da compras de títulos.
Lançou o Apple Watch, mas estranhamente esconde os números de vendas. Os analistas estimam que os resultados são bons, mas é um produto de nicho, principalmente, para fitness.
Como mais recente novidade, temos o Apple Pay, que tenta ocupar espaço no caminho inexorável que está levando o dinheiro para dentro do celular. Mesmo com a liberação recente para o uso em browsers (para compra direta em sites de ecommerce) é improvável que a solução seja dominante dada a existência do Android Pay que se beneficia de uma base instalada muito maior. No Brasil, por exemplo, o Apple Pay é virtualmente inexistente, até agora.
Fala-se de um Apple Car. Podemos ter uma surpresa, mas quais as chances reais diante da dianteira da Tesla, do Google e do investimento massivo das montadoras internacionais?
Até suas principais qualidades estão sendo contestadas. Em um artigo recente do New York Times, publicado aqui em EXAME Hoje com o sugestivo título “Na Apple, o design virou fraqueza”, o autor Farhad Manjoo resume: “a estética da Apple está ficando obsoleta” e complementa com uma pergunta: “Qual foi o último design da Apple que deixou você deslumbrado?” Lembrando que o “designer chefe” é ainda o cultuado Jonathan Ive dos tempos de Jobs.
É claro que esta não é nenhuma crise financeira como a que aconteceu quando Jobs retornou. A empresa continua ganhando muito dinheiro, abarrotada de caixa e valendo muito na bolsa de valores. Pode e vai usar seus fundos para comprar empresas e participações como fez com o Didi Chuxing, o Uber chinês, ou a possível compra da McLaren, fabricante britânica de carros de luxo e escuderia de Fórmula 1.
Inovação disruptiva pode ser comprada? Pode. Existem alguns exemplos como o Waze e o WhatsApp, mas não são muitos. Sinto, porém, que aquele desejo do Steve de “to make a dent in the universe” está cada vez mais distante. Olhando no dicionário “make a dent” tem os significados de amassar, afundar, deformar, todos compatíveis com o conceito abrasivo de “destruição criativa” do economista Joseph Schumpeter, o profeta da inovação.
Tenho a sensação de que a Apple atualmente está apenas arranhando este nosso mundo.