O Itaú investiu no primeiro unicórnio brasileiro
Ao comprar 49,9% da XP Investimentos, o Itaú adquiriu participação relevante no primeiro unicórnio brasileiro
Da Redação
Publicado em 26 de maio de 2017 às 09h13.
Última atualização em 21 de março de 2018 às 11h36.
A compra pelo Itaú de 49,9% da XP Investimentos é notável por muitos aspectos. O mais curioso deles é que o banco adquiriu participação relevante no primeiro unicórnio brasileiro. O termo unicórnio foi criado em 2013 pelo investidor Aileen Lee para designar startups e companhias inovadoras, de capital fechado, com valor de mercado superior a 1 bilhão de dólares. Estima-se que hajam cerca de 200, deste tipo de animal, atualmente no mundo.
De lá para cá, o termo se popularizou e é celebrado incessantemente sempre que um novo aporte sinaliza que o valor de uma empresa ultrapassou a cifra bilionária. Nos últimos tempos o ecossistema inovador brasileiro ficou à espera do aparecimento do primeiro animal dessa espécie em terras tropicais.
A XP nunca esteve em nenhuma lista, nem há quem a considere uma candidata. Mas é. Estava bem na nossa cara. O Itaú se apoderou da presa antes da sua abertura de capital. Na transação, o valor atribuído a 100% do capital social da XP foi de 12 bilhões de reais. Se usarmos uma cotação média de 3,20 chegamos a um valor de 3,75 bilhões de dólares. Um unicórnio, com folga. Apenas para comparar, a Netshoes, no seu IPO na Bolsa de Nova York, foi avaliada em 560 milhões de dólares.
Se pensarmos em excluir a XP desse clube tão especial por não ser uma companhia de tecnologia ou por ter sido criada nos idos de 2001 estamos minimizando o poder disruptivo e transformador do modelo de negócios, que o Itaú enxergou com precisão. A XP tem praticamente todas as características das empresas inovadoras universais.
É uma fintech na melhor acepção da palavra: uma solução inovadora para tomar mercado dos bancos tradicionais. É uma plataforma aberta vendendo produtos de 40 emissores e 290 fundos. Tem uma ampla rede de distribuição nacional com 1900 agentes autônomos. Vende direto através de um plataforma on-line que já é responsável por 30% do volume captado. Tem um baixo custo de acesso cobrando taxas baixas ou zero de intermediação.
Em resumo, a XP é uma plataforma tecnológica aberta, com rede de distribuição independente, acessível e que aposta na “desbancarização” como estratégia de negócios. Assim como o Uber toma mercado dos táxis e o AirBnB dos hotéis, a XP (e outras fintechs) roubam clientes e receita dos bancos tradicionais, hoje concentradores de mais de 90% do mercado nacional de investimentos.
Um relatório recente do Goldman Sachs intitulado “O momento das Fintechs no Brasil” defende que essas startups terão um poder disruptivo expressivo no país devido à extrema concentração do sistema bancário, sua dependência da rede de agências, preços e spreads que estão entre os maiores do mundo e a incapacidade de atender às classes de renda mais baixas.
A XP organizou sua plataforma para atender bem todas as faixas de renda. Uma pessoa querida resolveu experimentar a XP. Fez uma aplicação de 3 mil reais na Internet. Recebeu imediatamente uma ligação de uma assessora de investimentos oferecendo ajuda por 30 dias, até que o conforto com a negociação via internet se estabelecesse. E que, depois, estaria à disposição, sob demanda, para qualquer necessidade. Bela demonstração de atenção com o cliente iniciante.
Para as rendas maiores os agentes autônomos fazem o assessoramento. Funcionam como os motoristas no Uber ou como os donos de imóveis no AirBnB. Não são empregados, mas são peças fundamentais da nova intermediação da economia compartilhada.
Os unicórnios são organizações exponenciais, denominação cunhada pela Singularity University, para caracterizar empresas que crescem agressivamente e impactam milhões de pessoas. A XP cresceu de maneira invejável nos últimos anos: 131% em 2015 e 151% em 2016 de aumento na captação líquida. A receita multiplicou por 3 em dois anos passando de 420 milhões em 2014 para 1,25 bilhão em 2016.
Outra característica das organizações exponenciais é ter um “propósito transformador massivo”. Guilherme Benchimol, fundador e principal acionista, declarou em entrevistas depois do anúncio que a XP tem como objetivo ser líder em ativos em custódia no Brasil. Seu objetivo era fazer isso em 10 anos. Agora com o Itaú, mudou o prazo para apenas cinco. Para termos uma ideia de quão imenso é o propósito, a participação atual é estimada em 2% do mercado total ou 10% da posição do seu novo sócio. Para chegar lá é necessário um crescimento mínimo de 10 vezes em 5 anos. Robustamente exponencial.
Os bichos mitológicos também apresentam múltiplos maiúsculos quando recebem os investimentos. O preço pago pelo Itaú é quase 50 vezes o lucro líquido do último ano, que foi de 251 milhões de reais, ou de 20 vezes o lucro estimado para 2018.
É também característica de tais organizações fazer dos seus fundadores bilionários instantâneos. Podemos dizer que Guilherme Benchimol é o primeiro Zuckerberg tupiniquim que fez sua fortuna no Brasil. Tivemos Saverin do Facebook e Krieger do Instagram, mas eles ganharam suas riquezas em terras estrangeiras.
Por tudo isso e muito mais, a XP é o primeiro unicórnio brasileiro. O Itaú viu muito bem e teve a coragem e o desprendimento de estruturar a compra de modo que o comprado vai continuar concorrendo com o comprador, como se nada tivesse acontecido. “Não estou alinhado aos interesses do Itaú”, disse Benchimol. O banco pediu apenas para liderar o comitê de auditoria e gestão de riscos, o que acrescenta solidez e responsabilidade aos voos desinibidos dos criadores.
Fez melhor, avisou aos seus líderes que agora a XP é uma concorrente ainda mais forte, com mais dinheiro e credibilidade. Eles terão que fazer a transformação digital e se reinventar de forma ainda mais rápida e intensamente do que estão fazendo.
Pelo que foi publicado o Itaú só poderá assumir o controle, sem o acordo dos fundadores, em 2033. Um belo exemplo de organização que entendeu corretamente o dilema do inovador. Quando a disrupção é inevitável a única alternativa é ser caça e caçador ao mesmo tempo.
A compra pelo Itaú de 49,9% da XP Investimentos é notável por muitos aspectos. O mais curioso deles é que o banco adquiriu participação relevante no primeiro unicórnio brasileiro. O termo unicórnio foi criado em 2013 pelo investidor Aileen Lee para designar startups e companhias inovadoras, de capital fechado, com valor de mercado superior a 1 bilhão de dólares. Estima-se que hajam cerca de 200, deste tipo de animal, atualmente no mundo.
De lá para cá, o termo se popularizou e é celebrado incessantemente sempre que um novo aporte sinaliza que o valor de uma empresa ultrapassou a cifra bilionária. Nos últimos tempos o ecossistema inovador brasileiro ficou à espera do aparecimento do primeiro animal dessa espécie em terras tropicais.
A XP nunca esteve em nenhuma lista, nem há quem a considere uma candidata. Mas é. Estava bem na nossa cara. O Itaú se apoderou da presa antes da sua abertura de capital. Na transação, o valor atribuído a 100% do capital social da XP foi de 12 bilhões de reais. Se usarmos uma cotação média de 3,20 chegamos a um valor de 3,75 bilhões de dólares. Um unicórnio, com folga. Apenas para comparar, a Netshoes, no seu IPO na Bolsa de Nova York, foi avaliada em 560 milhões de dólares.
Se pensarmos em excluir a XP desse clube tão especial por não ser uma companhia de tecnologia ou por ter sido criada nos idos de 2001 estamos minimizando o poder disruptivo e transformador do modelo de negócios, que o Itaú enxergou com precisão. A XP tem praticamente todas as características das empresas inovadoras universais.
É uma fintech na melhor acepção da palavra: uma solução inovadora para tomar mercado dos bancos tradicionais. É uma plataforma aberta vendendo produtos de 40 emissores e 290 fundos. Tem uma ampla rede de distribuição nacional com 1900 agentes autônomos. Vende direto através de um plataforma on-line que já é responsável por 30% do volume captado. Tem um baixo custo de acesso cobrando taxas baixas ou zero de intermediação.
Em resumo, a XP é uma plataforma tecnológica aberta, com rede de distribuição independente, acessível e que aposta na “desbancarização” como estratégia de negócios. Assim como o Uber toma mercado dos táxis e o AirBnB dos hotéis, a XP (e outras fintechs) roubam clientes e receita dos bancos tradicionais, hoje concentradores de mais de 90% do mercado nacional de investimentos.
Um relatório recente do Goldman Sachs intitulado “O momento das Fintechs no Brasil” defende que essas startups terão um poder disruptivo expressivo no país devido à extrema concentração do sistema bancário, sua dependência da rede de agências, preços e spreads que estão entre os maiores do mundo e a incapacidade de atender às classes de renda mais baixas.
A XP organizou sua plataforma para atender bem todas as faixas de renda. Uma pessoa querida resolveu experimentar a XP. Fez uma aplicação de 3 mil reais na Internet. Recebeu imediatamente uma ligação de uma assessora de investimentos oferecendo ajuda por 30 dias, até que o conforto com a negociação via internet se estabelecesse. E que, depois, estaria à disposição, sob demanda, para qualquer necessidade. Bela demonstração de atenção com o cliente iniciante.
Para as rendas maiores os agentes autônomos fazem o assessoramento. Funcionam como os motoristas no Uber ou como os donos de imóveis no AirBnB. Não são empregados, mas são peças fundamentais da nova intermediação da economia compartilhada.
Os unicórnios são organizações exponenciais, denominação cunhada pela Singularity University, para caracterizar empresas que crescem agressivamente e impactam milhões de pessoas. A XP cresceu de maneira invejável nos últimos anos: 131% em 2015 e 151% em 2016 de aumento na captação líquida. A receita multiplicou por 3 em dois anos passando de 420 milhões em 2014 para 1,25 bilhão em 2016.
Outra característica das organizações exponenciais é ter um “propósito transformador massivo”. Guilherme Benchimol, fundador e principal acionista, declarou em entrevistas depois do anúncio que a XP tem como objetivo ser líder em ativos em custódia no Brasil. Seu objetivo era fazer isso em 10 anos. Agora com o Itaú, mudou o prazo para apenas cinco. Para termos uma ideia de quão imenso é o propósito, a participação atual é estimada em 2% do mercado total ou 10% da posição do seu novo sócio. Para chegar lá é necessário um crescimento mínimo de 10 vezes em 5 anos. Robustamente exponencial.
Os bichos mitológicos também apresentam múltiplos maiúsculos quando recebem os investimentos. O preço pago pelo Itaú é quase 50 vezes o lucro líquido do último ano, que foi de 251 milhões de reais, ou de 20 vezes o lucro estimado para 2018.
É também característica de tais organizações fazer dos seus fundadores bilionários instantâneos. Podemos dizer que Guilherme Benchimol é o primeiro Zuckerberg tupiniquim que fez sua fortuna no Brasil. Tivemos Saverin do Facebook e Krieger do Instagram, mas eles ganharam suas riquezas em terras estrangeiras.
Por tudo isso e muito mais, a XP é o primeiro unicórnio brasileiro. O Itaú viu muito bem e teve a coragem e o desprendimento de estruturar a compra de modo que o comprado vai continuar concorrendo com o comprador, como se nada tivesse acontecido. “Não estou alinhado aos interesses do Itaú”, disse Benchimol. O banco pediu apenas para liderar o comitê de auditoria e gestão de riscos, o que acrescenta solidez e responsabilidade aos voos desinibidos dos criadores.
Fez melhor, avisou aos seus líderes que agora a XP é uma concorrente ainda mais forte, com mais dinheiro e credibilidade. Eles terão que fazer a transformação digital e se reinventar de forma ainda mais rápida e intensamente do que estão fazendo.
Pelo que foi publicado o Itaú só poderá assumir o controle, sem o acordo dos fundadores, em 2033. Um belo exemplo de organização que entendeu corretamente o dilema do inovador. Quando a disrupção é inevitável a única alternativa é ser caça e caçador ao mesmo tempo.