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Líderes devem ser consistentes e previsíveis?

Na minha longa vida profissional liderei milhares de pessoas. Hoje, na minha nova função de conselheiro e investidor em empresas inovadoras, encontro, ou recebo notícias, de muitos desses profissionais que trabalharam comigo. Confesso que uma das minhas maiores satisfações é saber que a grande maioria dessas pessoas fala bem do efeito positivo que eu tive […]

STEVE JOBS: nada de previsibilidade e coerência / Justin Sullivan/ Getty Images (Reprodução/Getty Images)
STEVE JOBS: nada de previsibilidade e coerência / Justin Sullivan/ Getty Images (Reprodução/Getty Images)
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Silvio Genesini

Publicado em 29 de abril de 2016 às, 11h23.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h25.

Na minha longa vida profissional liderei milhares de pessoas. Hoje, na minha nova função de conselheiro e investidor em empresas inovadoras, encontro, ou recebo notícias, de muitos desses profissionais que trabalharam comigo. Confesso que uma das minhas maiores satisfações é saber que a grande maioria dessas pessoas fala bem do efeito positivo que eu tive na vida delas. Quando isso acontece, o meu dia se ilumina e um senso de realização se estabelece.

Essa sensação de ter sido um bom chefe levou-me a refletir sobre as características que me fizeram um bom líder aos olhos desses profissionais. Foi quando me deparei com artigos e estudos recentes que valorizavam a consistência e a previsibilidade da liderança. Consideram que essas qualidades são mais importantes que habilidades tradicionalmente associadas a um bom líder. Um desses textos defende, inclusive, que é preferível ter um chefe terrível o tempo todo do que um que é terrível apenas parte do tempo.

Pensei comigo mesmo: acho que fui terrível algumas vezes, mas certamente não o tempo todo. Pior, considero que em algumas situações fui imprevisível, inconsistente e incoerente. Busquei modelos de liderança para comparar. Lembrei-me de Steve Jobs, modelo sempre lembrado e quase unânime e incontestável.

Seu biógrafo, Walter Isaacson, escreveu um pequeno livro resumindo suas principais competências como líder. Estão lá: foco, simplificação, a busca da perfeição, atração de talentos excepcionais, ter controle de todos os detalhes, combinar humanidades com ciências. Há vários outros exemplos, como sua famosa capacidade de “distorcer a realidade” quando seus argumentos lógicos de convencimento se esgotavam. Nada de previsibilidade e coerência.

Mas, pensando bem, Steve é especial, one of a kind. Não posso, nem podemos, nos comparar a ele. Mas conjecturei se seria possível tirar lições dessa sua trajetória que serviriam como inspiração para uma nova geração nestes novos tempos. Meus oráculos disseram que sim e sugeriram uma pequena narrativa.

O novo líder compartilha, tem relações horizontais com seus liderados, inspira e entusiasma, é ético, convive com ambiguidades, encoraja quem toma riscos e se responsabiliza por eles, combina ciência com humanidades e conduz seus liderados na construção de um futuro desejado.

Analisando a lista ouso concluir que desenvolvi uma boa parte dessas habilidades, embora certamente não todas. Vivi em um tempo em que as relações profissionais eram estáveis e o mundo empresarial mais previsível. Hoje o ritmo das mudanças se acelerou, as relações são fluidas, as estruturas temporárias e o futuro incerto. Nesse admirável mundo novo precisamos de líderes que surpreendam, seduzam, desconcertem, desconstruam, assombrem, seduzam e nos conduzam por caminhos nunca dantes navegados.

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