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Bezos e a Amazon no topo do mundo

Com foco obsessivo no cliente, Bezos tenta dominar todos os mercados em que atua

JEFF BEZOS: Homem mais rico do mundo tem presença significativa em diversos setores da economia / David Ryder / Stringer
DR

Da Redação

Publicado em 16 de março de 2018 às 15h07.

Última atualização em 16 de março de 2018 às 18h00.

Jeff Bezos, o célebre fundador e CEO da Amazon , tornou-se o homem mais rico do mundo, segundo a lista de bilionários da revista Forbes de 2018. Foi o primeiro na história a amealhar uma fortuna de 12 dígitos: 112 bilhões de dólares. Sua fortuna cresceu 39 bilhões do ano passado para este, o maior incremento em todos os anos da publicação. Também é maior diferença para o segundo colocado, Bill Gates, desde 2001.

Tamanha façanha só aconteceu porque Bezos tem 16% da Amazon e as ações da companhia valorizaram quase 100% nos últimos 12 meses. O valor de mercado da empresa atingiu recentemente US$ 770 bilhões, perdendo apenas para a Apple – que já passou de 900 bilhões – a corrida para ser a primeira a ultrapassar a marca de 1 trilhão de dólares. Contada a valorização mais recente a fortuna de Bezos já seria de 132 bilhões de reais.

Para comprovar que tem mãos de fada, a lista das companhias mais inovadoras deste ano da revista Fast Company incluiu duas empresas de Bezos: a Amazon (em quinto) e o Washington Post (em oitavo). É a primeira vez que um jornal faz parte da lista. O bilionário comprou o icônico jornal do Wategarte e dos papéis do Pentágono – tema do filme The Post – em 2013 por míseros 250 milhões de dólares, ou 0,00022% da sua fortuna atual.

É lógico que todos os números superlativos se devem às cotações de bolsas que são voláteis. Mas, o fato é que tudo que a Amazon faz atualmente parece dar sempre certo. Mais ainda, que quer dominar o mundo tantos são os novos negócios em que está envolvida. Amazon começa com A. Bezos com B. Se percorrermos todo o abecedário das industrias há uma grande chance de encontrar a gigante em muitos deles.

Tem presença significativa em: varejo, logística, computação em nuvem, eletrônica de consumo e mídia e entretenimento. Já está com um pé em delivery, saúde e serviços financeiros. A Amazon é conhecida como “the everything store”(a loja de tudo). Podemos agora chamá-la também de “the everything everything” (o tudo de tudo).

No varejo tem cerca de 45% de todo o comércio online americano, mas só 4% do total da indústria. Pintava que queria ficar onde sempre teve conforto: na sua versão eletrônica. Não mais. Com a aquisição da Whole Foods, por US$ 13.7 bilhões, e o lançamento de livrarias físicas entrou na onda da revalorização dos espaços físicos. O comércio do futuro será uma mescla de presencial e virtual unidos harmonicamente.

Para reforçar sua aposta no ponto de venda físico inaugurou a Amazon Go, onde, com aplicações de visão computacional, o cliente entra, escolhe a mercadoria e sai sem passar por nenhum caixa. A tecnologia ainda tem que evoluir, mas promete revolucionar a maneira como compramos itens do dia a dia.

Em Serviços Financeiros está em conversas com JP Morgan e outros bancos para abrir e manter contas para jovens e parte da população ainda desbancarizada. Seu objetivo maior, porém, é evitar – ou ficar com uma parte – dos cerca de 2% de comissão que paga para as companhias de meios de pagamento. Também precisa começar a fazer frente às concorrentes chinesas. Todas elas – Alibaba, Rakuten, Tencent – têm presença expressiva no setor financeiro.

Uma pesquisa recente da Bain & Company, feita com 133 mil consumidores em 22 países, mostra que as pessoas teriam mais confiança em entregar seu dinheiro para a Amazon do que para Google, Apple e Facebook. A empresa de Bezos só perde para os bancos tradicionais. Na mesma pesquisa, ¾ dos jovens entre 18 e 24 anos disseram que esperam comprar produtos financeiros de firmas de tecnologia, contra apenas 31% dos maiores de 65 anos. Sinal de que as novas gerações estão prontas para fazer as suas finanças nos mesmos canais digitais que já frequentam.

No Brasil, 80 % dos respondentes – comparado com 50% nos Estados Unidos e Reino Unido – disseram que esperam comprar serviços financeiros de empresas de tecnologia nos próximos 5 anos. A conclusão é que as fintechs vão ter uma concorrência importante das plataformas de tecnologia na disrupção das instituições financeiras estabelecidas.

No mercado de saúde, a Amazon já anunciou que quer ser o principal provedor de insumos hospitalares e entrar no disputado setor de distribuição de medicamentos nos Estados Unidos. Além disso, entrou em uma parceria com o JP Morgan e a Berkshire Hathaway – do Warren Buffet – para encontrar maneiras criativas de reduzir os custos dos serviços médicos para os profissionais dos 3 conglomerados. Ninguém duvida que as soluções inovadoras que resultarem dessa aliança vão ser disponibilizadas também para o mercado.

Em 2017 investiu na Grail, sua primeira startup de biotecnologia, que é especializada no diagnóstico de câncer com o uso da genética. A biotecnologia é junto com a Inteligência Artificial a dupla principal de atores da Quarta Revolução Industrial. Em Inteligência Artificial (IA) a Amazon é um protagonista de primeira ordem. Sua assistente Alexa é líder inconteste do mercado de consumo de aplicações de IA. Além de habitar as caixas Echo da própria Amazon está em mais de 20 milhões de dispositivos vendidos, incluindo veículos da BMW e refrigeradores LG.

Para também ocupar o mercado B2B – de empresas – está oferecendo a sua plataforma de IA e machine learning como serviço dentro da AWS, seu braço de computação em nuvem.

Tornou-se também um concorrente da Netflix na produção de filmes e séries originais. Estima-se que o orçamento para tais produções alcance 4.5 bilhões de dólares em 2018, só perdendo para a Netflix, que deverá gastar 6 bilhões. Em 2017 vimos um Jeff Bezos, de smoking, participar da festa do Oscar. Suas produções ganharam 3 Oscar com Manchester à Beira Mar (melhor ator e roteiro original) e The Salesman (melhor filme estrangeiro). Em 2018 a sorte não lhe sorriu, mas não perdemos por esperar os próximos anos.

A Amazon tem, sim, uma fraqueza: 2/3 das suas receitas estão nos Estados Unidos. Se somarmos Alemanha, Reino Unido e Japão chegamos a 90%. Significa que o resto do mundo contribui com apenas 10% para o seu faturamento total de US$ 178 bilhões em 2017. Os chineses, que não deixam ninguém entrar no seu território, já estão se espalhando mundo afora.

No Brasil até o ano passado vendia apenas livros. Agora começou a vender outros produtos na forma de marketplace. A AWX não tem limitação de fronteiras e é líder em cloud computing em vários países, inclusive aqui.

A visão da Amazon é ser a companhia mais centrada no cliente da terra. Um dos aforismos mais repetidos de Bezos diz o seguinte: “Há muitos focos alternativos para um negócio. Você pode focar na concorrência. Você pode focar no produto. Você pode focar na tecnologia. Você pode focar no modelo de negócios. Mas, na minha opinião, o foco obsessivo no cliente é de longe o mais protetor”.

Resta saber se Bezos e a Amazon poderão e conseguirão estender o seu manto protetor e dominante aos clientes de todo o mundo.

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Jeff Bezos, o célebre fundador e CEO da Amazon , tornou-se o homem mais rico do mundo, segundo a lista de bilionários da revista Forbes de 2018. Foi o primeiro na história a amealhar uma fortuna de 12 dígitos: 112 bilhões de dólares. Sua fortuna cresceu 39 bilhões do ano passado para este, o maior incremento em todos os anos da publicação. Também é maior diferença para o segundo colocado, Bill Gates, desde 2001.

Tamanha façanha só aconteceu porque Bezos tem 16% da Amazon e as ações da companhia valorizaram quase 100% nos últimos 12 meses. O valor de mercado da empresa atingiu recentemente US$ 770 bilhões, perdendo apenas para a Apple – que já passou de 900 bilhões – a corrida para ser a primeira a ultrapassar a marca de 1 trilhão de dólares. Contada a valorização mais recente a fortuna de Bezos já seria de 132 bilhões de reais.

Para comprovar que tem mãos de fada, a lista das companhias mais inovadoras deste ano da revista Fast Company incluiu duas empresas de Bezos: a Amazon (em quinto) e o Washington Post (em oitavo). É a primeira vez que um jornal faz parte da lista. O bilionário comprou o icônico jornal do Wategarte e dos papéis do Pentágono – tema do filme The Post – em 2013 por míseros 250 milhões de dólares, ou 0,00022% da sua fortuna atual.

É lógico que todos os números superlativos se devem às cotações de bolsas que são voláteis. Mas, o fato é que tudo que a Amazon faz atualmente parece dar sempre certo. Mais ainda, que quer dominar o mundo tantos são os novos negócios em que está envolvida. Amazon começa com A. Bezos com B. Se percorrermos todo o abecedário das industrias há uma grande chance de encontrar a gigante em muitos deles.

Tem presença significativa em: varejo, logística, computação em nuvem, eletrônica de consumo e mídia e entretenimento. Já está com um pé em delivery, saúde e serviços financeiros. A Amazon é conhecida como “the everything store”(a loja de tudo). Podemos agora chamá-la também de “the everything everything” (o tudo de tudo).

No varejo tem cerca de 45% de todo o comércio online americano, mas só 4% do total da indústria. Pintava que queria ficar onde sempre teve conforto: na sua versão eletrônica. Não mais. Com a aquisição da Whole Foods, por US$ 13.7 bilhões, e o lançamento de livrarias físicas entrou na onda da revalorização dos espaços físicos. O comércio do futuro será uma mescla de presencial e virtual unidos harmonicamente.

Para reforçar sua aposta no ponto de venda físico inaugurou a Amazon Go, onde, com aplicações de visão computacional, o cliente entra, escolhe a mercadoria e sai sem passar por nenhum caixa. A tecnologia ainda tem que evoluir, mas promete revolucionar a maneira como compramos itens do dia a dia.

Em Serviços Financeiros está em conversas com JP Morgan e outros bancos para abrir e manter contas para jovens e parte da população ainda desbancarizada. Seu objetivo maior, porém, é evitar – ou ficar com uma parte – dos cerca de 2% de comissão que paga para as companhias de meios de pagamento. Também precisa começar a fazer frente às concorrentes chinesas. Todas elas – Alibaba, Rakuten, Tencent – têm presença expressiva no setor financeiro.

Uma pesquisa recente da Bain & Company, feita com 133 mil consumidores em 22 países, mostra que as pessoas teriam mais confiança em entregar seu dinheiro para a Amazon do que para Google, Apple e Facebook. A empresa de Bezos só perde para os bancos tradicionais. Na mesma pesquisa, ¾ dos jovens entre 18 e 24 anos disseram que esperam comprar produtos financeiros de firmas de tecnologia, contra apenas 31% dos maiores de 65 anos. Sinal de que as novas gerações estão prontas para fazer as suas finanças nos mesmos canais digitais que já frequentam.

No Brasil, 80 % dos respondentes – comparado com 50% nos Estados Unidos e Reino Unido – disseram que esperam comprar serviços financeiros de empresas de tecnologia nos próximos 5 anos. A conclusão é que as fintechs vão ter uma concorrência importante das plataformas de tecnologia na disrupção das instituições financeiras estabelecidas.

No mercado de saúde, a Amazon já anunciou que quer ser o principal provedor de insumos hospitalares e entrar no disputado setor de distribuição de medicamentos nos Estados Unidos. Além disso, entrou em uma parceria com o JP Morgan e a Berkshire Hathaway – do Warren Buffet – para encontrar maneiras criativas de reduzir os custos dos serviços médicos para os profissionais dos 3 conglomerados. Ninguém duvida que as soluções inovadoras que resultarem dessa aliança vão ser disponibilizadas também para o mercado.

Em 2017 investiu na Grail, sua primeira startup de biotecnologia, que é especializada no diagnóstico de câncer com o uso da genética. A biotecnologia é junto com a Inteligência Artificial a dupla principal de atores da Quarta Revolução Industrial. Em Inteligência Artificial (IA) a Amazon é um protagonista de primeira ordem. Sua assistente Alexa é líder inconteste do mercado de consumo de aplicações de IA. Além de habitar as caixas Echo da própria Amazon está em mais de 20 milhões de dispositivos vendidos, incluindo veículos da BMW e refrigeradores LG.

Para também ocupar o mercado B2B – de empresas – está oferecendo a sua plataforma de IA e machine learning como serviço dentro da AWS, seu braço de computação em nuvem.

Tornou-se também um concorrente da Netflix na produção de filmes e séries originais. Estima-se que o orçamento para tais produções alcance 4.5 bilhões de dólares em 2018, só perdendo para a Netflix, que deverá gastar 6 bilhões. Em 2017 vimos um Jeff Bezos, de smoking, participar da festa do Oscar. Suas produções ganharam 3 Oscar com Manchester à Beira Mar (melhor ator e roteiro original) e The Salesman (melhor filme estrangeiro). Em 2018 a sorte não lhe sorriu, mas não perdemos por esperar os próximos anos.

A Amazon tem, sim, uma fraqueza: 2/3 das suas receitas estão nos Estados Unidos. Se somarmos Alemanha, Reino Unido e Japão chegamos a 90%. Significa que o resto do mundo contribui com apenas 10% para o seu faturamento total de US$ 178 bilhões em 2017. Os chineses, que não deixam ninguém entrar no seu território, já estão se espalhando mundo afora.

No Brasil até o ano passado vendia apenas livros. Agora começou a vender outros produtos na forma de marketplace. A AWX não tem limitação de fronteiras e é líder em cloud computing em vários países, inclusive aqui.

A visão da Amazon é ser a companhia mais centrada no cliente da terra. Um dos aforismos mais repetidos de Bezos diz o seguinte: “Há muitos focos alternativos para um negócio. Você pode focar na concorrência. Você pode focar no produto. Você pode focar na tecnologia. Você pode focar no modelo de negócios. Mas, na minha opinião, o foco obsessivo no cliente é de longe o mais protetor”.

Resta saber se Bezos e a Amazon poderão e conseguirão estender o seu manto protetor e dominante aos clientes de todo o mundo.

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