A voz solitária de Trump no Vale do Silício
Os empreendedores do Vale do Silício apoiram maciçamente Hillary Clinton. Houve uma notável exceção: Peter Thiel. Peter é um super-herói do Vale. Tudo o que toca vira ouro. Fundou com amigos o Pay Pal e o vendeu para o eBay. Foi o primeiro investidor no Facebook e ainda está em seu conselho. Tem um dos fundos […]
Da Redação
Publicado em 11 de novembro de 2016 às 10h29.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h34.
Os empreendedores do Vale do Silício apoiram maciçamente Hillary Clinton. Houve uma notável exceção: Peter Thiel. Peter é um super-herói do Vale. Tudo o que toca vira ouro. Fundou com amigos o Pay Pal e o vendeu para o eBay. Foi o primeiro investidor no Facebook e ainda está em seu conselho. Tem um dos fundos de venture capital mais bem sucedidos da região. É presidente e principal investidor da Palantir, companhia de data mining que tem negócios com o governo americano. Escreveu o livro “De Zero a Um”, disponível em português, que conta como é possível tornar uma startup bem sucedida. Quem ainda não conhece sua vida é só dar um google que tem muito mais.
Peter ganhou notoriedade recentemente quando confirmou, em maio deste ano, que apoiou financeiramente o processo de Terry Bolea, um lutador de luta livre, conhecido no ring como Hulk Hogan, contra o site sensacionalista Gawker. A motivação da disputa jurídica foi a divulgação pelo site de um vídeo de Bolea fazendo sexo com uma mulher casada.
Peter fez isso para se vingar do site, que em 2007 havia publicado que ele era gay, quando ainda não havia assumido publicamente a condição. Declarado culpado, com uma alta indenização, o Gawker quebrou e o que sobrou da companhia foi vendida recentemente.
Para desespero dos seus colegas e amigos, ele foi um defensor desde o início da candidatura de Donald Trump. Participou, em julho, da convenção nacional do partido republicano que escolheu Trump como candidato. Foi a primeira aparição de um gay assumido no evento desde 2000.
A plataforma do partido sugere “terapias de conversão” e é contra o casamento gay. Peter deixou para lá estas questões dizendo: “falsas questões culturais nos afastam do principal que é o nosso declínio econômico”. Defendeu enfaticamente Trump afirmando: “Eu não sou um político. Donald não é também. Ele é um construtor e é tempo para reconstruir a América”. Thiel é alemão de nascimento e veio para os Estados Unidos com os pais quando tinha um ano.
No começo de outubro, Peter doou 1,25 milhão de dólares para a campanha. A doação gerou reações na comunidade de tecnologia com pedidos para que ele deixasse o conselho do Facebook e a participação na incubadora Y Combinator. Como comparação, Tim Cook da Apple organizou uma ação para levantar fundos para Hilary e Mark Zuckerberg do Facebook foi um dos líderes de um comitê politico anti-Trump.
Um grupo de 140 líderes do Vale, que incluiu o fundador da Microsoft Steve Wozniak, o pioneiro da Internet e evangelista do Google Vint Cerf e o fundador da Singularity University Peter Diamandis, escreveu uma carta aberta dizendo que Trump seria “um desastre para a inovação”.
Oito dias antes da eleição, Thiel foi convidado para falar no National Press Club em Washington, prestigiado reduto da imprensa americana. Na sua curta apresentação e no debate que se seguiu foi mais uma vez firme em defender Trump. Disse que não concordava com a opinião do candidato sobre as mulheres, mas que isso era uma questão menor quando comparado com suas propostas políticas e econômicas.
Segue abaixo, editada livremente por mim, um resumo de suas afirmações. “Votamos em Trump porque consideramos que a liderança deste país fracassou. A elite política criou e alimentou bolhas. A bolha econômica diz que todos são vencedores. A bolha da guerra diz que a vitória está sempre muito perto. São histórias excessivamente otimistas, não são verdadeiras e os eleitores estão cansados de mentiras.”
Completou provocando seus companheiros empreendedores: “A história que as pessoas contam no Vale é que o sucesso dos profissionais e empresas equivale ao sucesso dos Estados Unidos como um todo. Nós estamos indo bem então todo o mundo está bem, o que simplesmente não é verdade.”
Na prática, os líderes do Vale considerarem apenas seus interesses, o que é legitimo e justo, e têm muitas razões para ficar preocupados com o novo presidente. Seu discurso contra a globalização e tratados de livre comércio, se implementado, deve impactar a forma como atualmente as empresas produzem em vários países, vendem em outros, otimizando a cadeia logística e pagando o menor imposto possível.
Outro provável impacto negativo é a restrição à concessão de vistos para profissionais estrangeiros qualificados com o objetivo de proteger os empregos domésticos. As empresas inovadoras se beneficiam significativamente do acesso a um pool de talentos estrangeiros motivados para viver e trabalhar na Califórnia.
Por outro lado, a promessa de Trump de reduzir o imposto para repatriação de lucros acumulados no exterior pode ajudar bastante as empresas de tecnologia. As cinco maiores empresas com mais caixa fora do EUA são: Apple, Microsoft, Google, Oracle e Cisco. Atualmente, elas são desencorajadas a trazer o dinheiro de volta para pagar dividendos ou fazer investimentos, devido à alta taxação.
Ironicamente, a evolução do conjunto de tecnologias que estamos chamando de a Internet das Coisas ou a Quarta Revolução Industrial vai ser determinante para que Trump possa cumprir o seu mais popular compromisso: o de trazer de volta as fábricas e os empregos para o país. As fabricas do futuro serão menores, mais robotizadas, mais flexíveis e mais próximas do mercado consumidor. Gerarão menos empregos, mas eles serão de mais qualidade.
Difícil prognosticar como será a relação do ecossistema de inovação americano, que sempre defendeu e se beneficiou das fronteiras abertas do mundo, com um presidente nitidamente contrário à globalização. A julgar pelo que aconteceu na campanha, a convivência tende a ser conflituosa.
Os rumores destes últimos dias dão conta que Thiel poderia ser um conselheiro técnico ou até fazer parte do time de transição de Trump. Verdade ou não, Peter declarou ao New York Times quando soube da vitória: “Uma página no livro da história foi virada e criou-se uma abertura para pensar nossos problemas a partir de uma nova perspectiva. Eu tentarei ajudar o presidente da melhor maneira possível.”
Mais solidariedade impossível. Resta saber se o que virá a seguir será a redenção esperada por Peter Thiel ou o abraço de afogados em um mundo em decomposição.
Os empreendedores do Vale do Silício apoiram maciçamente Hillary Clinton. Houve uma notável exceção: Peter Thiel. Peter é um super-herói do Vale. Tudo o que toca vira ouro. Fundou com amigos o Pay Pal e o vendeu para o eBay. Foi o primeiro investidor no Facebook e ainda está em seu conselho. Tem um dos fundos de venture capital mais bem sucedidos da região. É presidente e principal investidor da Palantir, companhia de data mining que tem negócios com o governo americano. Escreveu o livro “De Zero a Um”, disponível em português, que conta como é possível tornar uma startup bem sucedida. Quem ainda não conhece sua vida é só dar um google que tem muito mais.
Peter ganhou notoriedade recentemente quando confirmou, em maio deste ano, que apoiou financeiramente o processo de Terry Bolea, um lutador de luta livre, conhecido no ring como Hulk Hogan, contra o site sensacionalista Gawker. A motivação da disputa jurídica foi a divulgação pelo site de um vídeo de Bolea fazendo sexo com uma mulher casada.
Peter fez isso para se vingar do site, que em 2007 havia publicado que ele era gay, quando ainda não havia assumido publicamente a condição. Declarado culpado, com uma alta indenização, o Gawker quebrou e o que sobrou da companhia foi vendida recentemente.
Para desespero dos seus colegas e amigos, ele foi um defensor desde o início da candidatura de Donald Trump. Participou, em julho, da convenção nacional do partido republicano que escolheu Trump como candidato. Foi a primeira aparição de um gay assumido no evento desde 2000.
A plataforma do partido sugere “terapias de conversão” e é contra o casamento gay. Peter deixou para lá estas questões dizendo: “falsas questões culturais nos afastam do principal que é o nosso declínio econômico”. Defendeu enfaticamente Trump afirmando: “Eu não sou um político. Donald não é também. Ele é um construtor e é tempo para reconstruir a América”. Thiel é alemão de nascimento e veio para os Estados Unidos com os pais quando tinha um ano.
No começo de outubro, Peter doou 1,25 milhão de dólares para a campanha. A doação gerou reações na comunidade de tecnologia com pedidos para que ele deixasse o conselho do Facebook e a participação na incubadora Y Combinator. Como comparação, Tim Cook da Apple organizou uma ação para levantar fundos para Hilary e Mark Zuckerberg do Facebook foi um dos líderes de um comitê politico anti-Trump.
Um grupo de 140 líderes do Vale, que incluiu o fundador da Microsoft Steve Wozniak, o pioneiro da Internet e evangelista do Google Vint Cerf e o fundador da Singularity University Peter Diamandis, escreveu uma carta aberta dizendo que Trump seria “um desastre para a inovação”.
Oito dias antes da eleição, Thiel foi convidado para falar no National Press Club em Washington, prestigiado reduto da imprensa americana. Na sua curta apresentação e no debate que se seguiu foi mais uma vez firme em defender Trump. Disse que não concordava com a opinião do candidato sobre as mulheres, mas que isso era uma questão menor quando comparado com suas propostas políticas e econômicas.
Segue abaixo, editada livremente por mim, um resumo de suas afirmações. “Votamos em Trump porque consideramos que a liderança deste país fracassou. A elite política criou e alimentou bolhas. A bolha econômica diz que todos são vencedores. A bolha da guerra diz que a vitória está sempre muito perto. São histórias excessivamente otimistas, não são verdadeiras e os eleitores estão cansados de mentiras.”
Completou provocando seus companheiros empreendedores: “A história que as pessoas contam no Vale é que o sucesso dos profissionais e empresas equivale ao sucesso dos Estados Unidos como um todo. Nós estamos indo bem então todo o mundo está bem, o que simplesmente não é verdade.”
Na prática, os líderes do Vale considerarem apenas seus interesses, o que é legitimo e justo, e têm muitas razões para ficar preocupados com o novo presidente. Seu discurso contra a globalização e tratados de livre comércio, se implementado, deve impactar a forma como atualmente as empresas produzem em vários países, vendem em outros, otimizando a cadeia logística e pagando o menor imposto possível.
Outro provável impacto negativo é a restrição à concessão de vistos para profissionais estrangeiros qualificados com o objetivo de proteger os empregos domésticos. As empresas inovadoras se beneficiam significativamente do acesso a um pool de talentos estrangeiros motivados para viver e trabalhar na Califórnia.
Por outro lado, a promessa de Trump de reduzir o imposto para repatriação de lucros acumulados no exterior pode ajudar bastante as empresas de tecnologia. As cinco maiores empresas com mais caixa fora do EUA são: Apple, Microsoft, Google, Oracle e Cisco. Atualmente, elas são desencorajadas a trazer o dinheiro de volta para pagar dividendos ou fazer investimentos, devido à alta taxação.
Ironicamente, a evolução do conjunto de tecnologias que estamos chamando de a Internet das Coisas ou a Quarta Revolução Industrial vai ser determinante para que Trump possa cumprir o seu mais popular compromisso: o de trazer de volta as fábricas e os empregos para o país. As fabricas do futuro serão menores, mais robotizadas, mais flexíveis e mais próximas do mercado consumidor. Gerarão menos empregos, mas eles serão de mais qualidade.
Difícil prognosticar como será a relação do ecossistema de inovação americano, que sempre defendeu e se beneficiou das fronteiras abertas do mundo, com um presidente nitidamente contrário à globalização. A julgar pelo que aconteceu na campanha, a convivência tende a ser conflituosa.
Os rumores destes últimos dias dão conta que Thiel poderia ser um conselheiro técnico ou até fazer parte do time de transição de Trump. Verdade ou não, Peter declarou ao New York Times quando soube da vitória: “Uma página no livro da história foi virada e criou-se uma abertura para pensar nossos problemas a partir de uma nova perspectiva. Eu tentarei ajudar o presidente da melhor maneira possível.”
Mais solidariedade impossível. Resta saber se o que virá a seguir será a redenção esperada por Peter Thiel ou o abraço de afogados em um mundo em decomposição.