Formamos uma geração preocupada em não falhar
Todos os gestores com quem converso trazem, em seus depoimentos, uma avaliação muito negativa sobre a competência do jovem profissional. Características como falta de engajamento e de foco e irresponsabilidade são muito comuns e estabelecem um padrão profissional bastante preocupante. Buscamos jovens que se comprometam, se envolvam com o trabalho, que tragam ideias e promovam inovações. Contudo, percebemos que algo está diferente. As prioridades dos jovens profissionais estão ligadas a […] Leia mais
Publicado em 28 de setembro de 2016 às, 10h14.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h28.
Todos os gestores com quem converso trazem, em seus depoimentos, uma avaliação muito negativa sobre a competência do jovem profissional. Características como falta de engajamento e de foco e irresponsabilidade são muito comuns e estabelecem um padrão profissional bastante preocupante.
Buscamos jovens que se comprometam, se envolvam com o trabalho, que tragam ideias e promovam inovações. Contudo, percebemos que algo está diferente. As prioridades dos jovens profissionais estão ligadas a estilo de vida, por isso conseguimos ver com clareza apenas uma ambição extrema para alcançar posições mais privilegiadas e com remuneração cada vez maiores.
O que acontece realmente? O jovem profissional é incompetente? Evidentemente que não. Na verdade, ele tem um potencial muito maior do que qualquer outra geração de jovens que já chegou no mundo corporativo. Afinal, ele foi muito estimulado, possui mais acesso às informações e desenvolveu uma competência singular em relação às tecnologias.
Parece, então, que nós, os mais veteranos, é que fomos incompetentes em formar novos profissionais. Apesar de providenciarmos aos jovens uma estrutura de formação acadêmica mais acessível e mais dinâmica do que as que existiam há vinte anos, essa estrutura não está formando bons profissionais.
Temos parte da responsabilidade em formação dos jovens, mas nossa falha não foi em prover instrumentos e facilidades para a formação de profissionais. Isso nós fizemos muito bem! A nossa falha acontece por não proporcionarmos um ambiente que exponha o jovem a desafios nos quais ele tenha oportunidade de ganhar suas próprias cicatrizes com as falhas que eventualmente comete.
De forma sistemática, buscamos eliminar todas as possibilidades de falhas, pois nossas prioridades são sempre os resultados. Com isso, o que estamos alcançando é apenas a geração de profissionais absolutamente preocupados em não falhar. Isso demonstra não uma incompetência, mas, sim, uma imaturidade corporativa nos jovens profissionais, que, para não falharem, evitam se expor a grandes desafios.
O que de fato falta não é competência, mas uma atitude madura dos profissionais novatos, uma atitude que busque uma autonomia pessoal e que somente poderá ser desenvolvida mediante uma postura educadora dos veteranos.
Publiquei originalmente essas ideias em meu livro “Mentoria: elevando a maturidade e desempenho dos jovens” e digo isso como parte fundamental do trabalho que realizo à frente da Escola de Mentores para formar mentores responsáveis e capazes de compartilhar com seus mentorados formas que os ajudem a dar direções para suas possíveis escolhas na vida, no trabalho e outras áreas de interesse.