Única vantagem de Trump ganhar: Selic cairia mais rapidamente
Faltando duas reuniões do Copom até o final do ano, a discussão agora é quando e se o BC baixará os juros. O “se” talvez já esteja parcialmente sinalizado pelos encaminhamentos que o banco gostaria de ver para decidir sobre a Selic. Primeiro, a inflação começou a dar sinais claros de arrefecimento. Todos os principais […]
Publicado em 27 de setembro de 2016 às, 10h54.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h30.
Faltando duas reuniões do Copom até o final do ano, a discussão agora é quando e se o BC baixará os juros. O “se” talvez já esteja parcialmente sinalizado pelos encaminhamentos que o banco gostaria de ver para decidir sobre a Selic.
Primeiro, a inflação começou a dar sinais claros de arrefecimento. Todos os principais indicadores de preços ao consumidor desaceleraram em setembro nas indicações parciais até as últimas semanas. Não parece haver nada que jogue contra esse resultado até o final do ano. A alimentação, que era uma preocupação mais evidente do banco, já deu sinais de queda, e o único risco que poderia haver a essa altura seria novamente o feijão subir, mas mesmo assim caso haja nova safra ruim no final do ano.
De resto, com safras elevadas e preços de commodities sem pressão de alta, a tendência é os alimentos continuarem cedendo. Mais ainda, a alimentação fora de casa, que também tem peso importante nos indicadores de preços, tem cedido devagar com a desaceleração da economia nos últimos anos. Além disso, a habitação também tem crescido menos, com a reversão das fortes altas de preço de tarifa de energia do ano passado. Para ajudar, a taxa de câmbio apreciada mantém os preços livres também em desaceleração. Com isso, o IPCA deve chegar nos 7,1% no final do ano, o que parece ser elevado, mas longe dos quase 12% que alcançou ano passado e caminhando a passor largos para chegar em torno de 5% ano que vem.
Para que isso aconteça, o segundo desejo do BC tem que se realizar. O controle fiscal efetivo através da regra do teto tende a ser bem encaminhada até dezembro. No meu entender, se a medida for razoável e aprovada em primeira votação na Câmara a tendência é que o processo se acelere e consiga ser aprovado no Senado até o final do ano. Com essa expectativa já encaminhada o BC teria razões de sobra para decidir pela queda. E aqui entra o “quando” discutido acima.
Ainda não há informações concretas da parte fiscal para que o BC decida pela queda na reunião de outubro e a inflação de setembro apenas terá sido divulgada até essa decisão. Por mais que haja sinais claros de acomodação, é natural que o banco espere que ela se consolide. Depois de tantos erros no passado nada mais razoável que ele espere um pouco mais para decidir sobre a queda.
Além disso, há um outro porém que não entra explicitamente neste momento na decisão do banco, mas que pode atrapalhar um pouco essa discussão entre outubro e novembro. A eleição americana dessa vez não é normal e traz riscos potenciais para a economia mundial a depender de quem ganhar.
Se Hillary vencer tudo continua como está. O Fed tende a subir os juros no final do ano, mas uma alta esperada e suave, sem causar danos na trajetória de apreciação do Real. Com isso, o BC se sentiria livre para baixar a Selic em novembro sem grandes dificuldades e nossa expectativa é de começar com queda de 0,5 ponto percentual.
Mas suponha que Trump ganhe. Em um primeiro momento, poderia haver fuga para o dólar, por mais paradoxal que isso possa parecer. Como praticamente única moeda reserva de valor mundial, a tendência seria de compra de ativos em dólar, o que poderia levar a uma desvalorização das moedas mundiais, especialmente as emergentes, assim como aconteceu em 2008. Há uma discussão de que a crise daquele ano foi diferente, pois afetou a capacidade de crédito dos bancos americanos muito mais do que no resto do mundo e as chamadas de margem acabaram por levar dólares para os EUA, em um contra-senso que ocorreria em um país em crise.
Desta vez, não há problema de liquidez muito menos de solvência nos bancos americanos. Assim, a tendência de apreciação do dólar, caso ocorra, seria bem mais rápida e menor do que foi na última crise. Mas a incerteza seria enorme de qualquer maneira e poderia como consequência levar até a uma aceleração da queda dos juros aqui. Com o sinal claro de recessão na economia americana, haveria contaminação via canal de exportações, pois o mundo também tenderia a entrar em desaceleração, especialmente dado que o risco Trump é maior para a política externa do que no cenário doméstico.
Com a queda da economia americana e a percepção de que os juros americanos poderão até ter que entrar em terreno negativo poderia haver um movimento de apreciação maior da moeda brasileira. Assim, pelo canal de recessão mundial e câmbio mais apreciado, haveria espaço para o BC acelerar a queda de juros, podendo aí sim chegar a uma taxa de um dígito especialmente pela ajuda maior do câmbio.
Mas se Hillary vencer, o processo de desinflação seguirá mais lento, sem recessão mundial e câmbio mais apreciado. Mais ainda, o que muitos têm esquecido, os juros caem ano que vem, mas se a economia continuar em recuperação haverá pressão inflacionária no horizonte de 2018, o que deve ocorrer não apenas pela demanda, mas também por um risco político que ficará claro apenas mais à frente. Não parece haver candidatos claros a essa altura e há chance, pelas crises recentes, de que um nome novo apareça. Se isso acontecer, o câmbio poderá voltar a depreciar daqui dois anos.
Para quem quer juros rapidamente em baixa o cenário Trump seria perfeito. Mas apenas para isso. O risco mundial com tal governo seria de tal ordem que não seria humano desejar sua vitória em novembro. Que Hillary ganhe e o BC siga com sua trajetória lenta, gradual e segura.