Resiliência de Pirro na economia
Entre mortos e feridos, a economia brasileira parece bem resiliente neste final de trimestre. A crise de maio parecia afundar o país a partir dali, mas até agora os sinais não são tão críticos, em que pese estarem um pouco melhores. Os indicadores de confiança que foram divulgados de maio e junho não apresentaram mudança […]
Da Redação
Publicado em 28 de junho de 2017 às 13h20.
Entre mortos e feridos, a economia brasileira parece bem resiliente neste final de trimestre. A crise de maio parecia afundar o país a partir dali, mas até agora os sinais não são tão críticos, em que pese estarem um pouco melhores.
Os indicadores de confiança que foram divulgados de maio e junho não apresentaram mudança significativa de tendência. Parece haver certa estabilização, o que é positivo se a crise se mantiver no mesmo patamar. A essa altura, o mercado já assume e aceita vários dos fantasmas dos últimos meses, como a aprovação de uma reforma da previdência desidratada. Mas os riscos até 2018 são enormes, e podemos destacar alguns.
A equipe atual se mantém até quando? Essa é uma pergunta válida depois da crise de maio. Isso se dá porque as pressões por sandices econômicas tendem a aumentar. Nos últimos dias, a tentativa de usar o FGTS para pagar o seguro desemprego foi nessa linha. Apagado o fogo do ensaio heterodoxo, será importante observar o que mais poderá ser sacado como tal. Não parece que sairá da cozinha da Fazenda, mas os riscos de ter que apaziguar uma bancada nervosa de ter que suportar um presidente sob ataque podem significar uma piora do quadro fiscal.
A possibilidade de aumento de receita, seja por Refis ou precatórios, parece pouco e sem tempo hábil para conseguir avançar no Congresso enquanto a crise estiver no meio da sala. Sem receita adicional, cortar mais gastos será necessário, mas como se será importante acomodar a base nesse momento?
A percepção de uma situação fiscal mais crítica ficará claro quando o governo ter que optar por aumento puro e simples de impostos, como a Cide, passível de ser cobrada este ano ainda. Reverter as desonerações deveria ser foco, mas também há dificuldades no Congresso para tal. Sem reforma da previdência, como pressionar mais os outros gastos correntes considerando a regra do teto?
Uma possível debacle fiscal começará a causar turbulência nos mercados no segundo semestre quando se ver que há poucas alternativas razoáveis para atingir o déficit programado de R$ 139 bilhões.
Fiscal mais pressionado com risco eleitoral é alimento para taxa de câmbio mais depreciada. O risco desse conjunto é manter o Banco Central pressionado durante os próximos dois anos. Há toda a razão para queda de juros agora com o prognóstico de inflação podendo chegar a números próximos de 3% até o final do ano. Mas a dinâmica está suficientemente rápida para tal cenário mudar abruptamente. Quem poderia, por exemplo, um ano atrás imaginar que estaríamos com IPCA na casa dos 3%? Isso ocorreu pelo forte conjunto positivo da obra feita ao longo do último ano. A pinguela até 2018, além de ter sido machucada, correrá o risco de ter o caminho desviado, quando não ser abalroado por candidatos falastrões que afirmarão que a agenda de reformas não é para ser seguida. Isso basta para reverter as expectativas tão positivas de inflação ano que vem. Isso ainda não está no cenário básico de ninguém, mas é o alternativo mais provável de acontecer.
Talvez a reação do câmbio não seja tão drástica quanto 2002, pois naquele momento havia uma dívida externa elevada com reservas internacionais muito baixas. A reação do mercado era entender que o ajuste precisaria de uma forte mudança na balança comercial para fazer o ajuste que o governo Lula poderia trazer. Com dívida externa baixa, elevado nível de reservas, conta corrente bastante ajustada e balança comercial que deve atingir nível recorde, a taxa de câmbio tende a ter uma reação não tão forte como naquela eleição.
Isso tudo pode se juntar a um cenário internacional mais adverso em 2018. Em momentos de instabilidade externa, países que estão em desajuste tendem a sofrer mais impactos em preços de ativos. Ano que vem, Trump estará mais desgastado, com os Fed Funds mais elevados, com eleições sob risco na Itália e um longo período de crescimento nos EUA pós-crise de 2008, com ares de estar próximo de acabar.
Há o que comemorar nos bons indicadores recentes, que não afundaram. Mas infelizmente não é possível considerar que o cenário seguirá apenas em melhora daqui para a frente. Pelo contrário, os riscos são vultosos contra essa melhoria nos próximos dois anos.
Entre mortos e feridos, a economia brasileira parece bem resiliente neste final de trimestre. A crise de maio parecia afundar o país a partir dali, mas até agora os sinais não são tão críticos, em que pese estarem um pouco melhores.
Os indicadores de confiança que foram divulgados de maio e junho não apresentaram mudança significativa de tendência. Parece haver certa estabilização, o que é positivo se a crise se mantiver no mesmo patamar. A essa altura, o mercado já assume e aceita vários dos fantasmas dos últimos meses, como a aprovação de uma reforma da previdência desidratada. Mas os riscos até 2018 são enormes, e podemos destacar alguns.
A equipe atual se mantém até quando? Essa é uma pergunta válida depois da crise de maio. Isso se dá porque as pressões por sandices econômicas tendem a aumentar. Nos últimos dias, a tentativa de usar o FGTS para pagar o seguro desemprego foi nessa linha. Apagado o fogo do ensaio heterodoxo, será importante observar o que mais poderá ser sacado como tal. Não parece que sairá da cozinha da Fazenda, mas os riscos de ter que apaziguar uma bancada nervosa de ter que suportar um presidente sob ataque podem significar uma piora do quadro fiscal.
A possibilidade de aumento de receita, seja por Refis ou precatórios, parece pouco e sem tempo hábil para conseguir avançar no Congresso enquanto a crise estiver no meio da sala. Sem receita adicional, cortar mais gastos será necessário, mas como se será importante acomodar a base nesse momento?
A percepção de uma situação fiscal mais crítica ficará claro quando o governo ter que optar por aumento puro e simples de impostos, como a Cide, passível de ser cobrada este ano ainda. Reverter as desonerações deveria ser foco, mas também há dificuldades no Congresso para tal. Sem reforma da previdência, como pressionar mais os outros gastos correntes considerando a regra do teto?
Uma possível debacle fiscal começará a causar turbulência nos mercados no segundo semestre quando se ver que há poucas alternativas razoáveis para atingir o déficit programado de R$ 139 bilhões.
Fiscal mais pressionado com risco eleitoral é alimento para taxa de câmbio mais depreciada. O risco desse conjunto é manter o Banco Central pressionado durante os próximos dois anos. Há toda a razão para queda de juros agora com o prognóstico de inflação podendo chegar a números próximos de 3% até o final do ano. Mas a dinâmica está suficientemente rápida para tal cenário mudar abruptamente. Quem poderia, por exemplo, um ano atrás imaginar que estaríamos com IPCA na casa dos 3%? Isso ocorreu pelo forte conjunto positivo da obra feita ao longo do último ano. A pinguela até 2018, além de ter sido machucada, correrá o risco de ter o caminho desviado, quando não ser abalroado por candidatos falastrões que afirmarão que a agenda de reformas não é para ser seguida. Isso basta para reverter as expectativas tão positivas de inflação ano que vem. Isso ainda não está no cenário básico de ninguém, mas é o alternativo mais provável de acontecer.
Talvez a reação do câmbio não seja tão drástica quanto 2002, pois naquele momento havia uma dívida externa elevada com reservas internacionais muito baixas. A reação do mercado era entender que o ajuste precisaria de uma forte mudança na balança comercial para fazer o ajuste que o governo Lula poderia trazer. Com dívida externa baixa, elevado nível de reservas, conta corrente bastante ajustada e balança comercial que deve atingir nível recorde, a taxa de câmbio tende a ter uma reação não tão forte como naquela eleição.
Isso tudo pode se juntar a um cenário internacional mais adverso em 2018. Em momentos de instabilidade externa, países que estão em desajuste tendem a sofrer mais impactos em preços de ativos. Ano que vem, Trump estará mais desgastado, com os Fed Funds mais elevados, com eleições sob risco na Itália e um longo período de crescimento nos EUA pós-crise de 2008, com ares de estar próximo de acabar.
Há o que comemorar nos bons indicadores recentes, que não afundaram. Mas infelizmente não é possível considerar que o cenário seguirá apenas em melhora daqui para a frente. Pelo contrário, os riscos são vultosos contra essa melhoria nos próximos dois anos.