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Os riscos de não se levar a sério os critérios ESG

Para identificar onde o Brasil se localiza, criamos um indicador para dados dos três critérios de ESG, avaliando os dados já disponíveis até 2019

coins stack on wood table with green plant growing on. money saving business finance success wealth investment budget concept. startup plan. ESG. (Getty Images/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2021 às 12h35.

Última atualização em 17 de maio de 2021 às 13h00.

Sergio Vale é economista-chefe da MB Associados

No último artigo discutimos as vulnerabilidades macroeconômicas do Brasil, construindo um indicador em que o Brasil aparecia na terceira pior colocação entre os 19 países emergentes mais relevantes, perdendo apenas para Argentina e África do Sul. A percepção, além disso, é que não havia tido muita evolução positiva de 2010 a 2020. De certa forma, podemos dizer que o Brasil ficou estagnado na década passada e em diversas frentes teve queda importante. Abrindo os dados, descobrimos que nossas piores estatísticas se referiam ao cenário fiscal, como esperado, e às baixas taxas de poupança e investimento. O Brasil tem entre esses países a menor taxa de poupança e a segunda pior de investimento. Crescer de forma sustentada nessas condições é quase impossível.

Um elemento adicional que coloca incerteza nos investimentos futuros tem a ver com os novos critérios que foram incorporados nas análises das empresas nos últimos anos. Os critérios ESG ( Environmental, Social and Governance ) passaram a ser relevantes para a decisão das empresas e bancos na emissão e compra de títulos privados, além da própria decisão de investimento, especialmente de multinacionais.

Para identificar onde o Brasil se localiza nesses critérios, criamos também um indicador ESG para dados desses três critérios, tentando uma avaliação com os dados já disponíveis que vão até 2019. E o que esse indicador mostra é que o Brasil gosta da medalha de bronze, tendo ficado novamente em terceiro lugar entre os piores países, atrás apenas da África do Sul e das Filipinas (figura 1).

indicador de vulnerabilidade ESG

Diferente do indicador macroeconômico, que colocava os países asiáticos frontalmente melhores que os latino americanos, aqui a posição destes é mais espalhada e claramente há vários países asiáticos em posição delicada. A China é exemplo claro disso pela sua performance muito ruim nos critérios de governança e ambientais. O fato de ser um país líder em emissão de poluição e com severas restrições à liberdade colocam o país em posição não muito diferente dos piores colocados. De fato, o Brasil aparece com 61%, enquanto a China está com 60%. Esse é um elemento que os chineses precisam se preocupar no futuro, ou seja, será que conseguiram sendo líderes em investimento se não conseguir rapidamente mudar sua trajetória ambiental e de governança? Nesse caso, ter estabilidade macroeconômica não é suficiente para construir uma narrativa vitoriosa de investimento.

Ao mesmo tempo, o Brasil se encontra em situação ainda mais difícil, pois tem ambas instabilidades muito marcantes. Como aumentar a taxa de poupança e investimento se também não evoluir nos critérios ESG. O Brasil ainda tem bons indicadores ambientais e é nosso critério mais bem avaliado. Parte disso vem de nossa matriz limpa e a busca nos últimos anos por aumento também de energia solar e eólica na composição da matriz energética. Entretanto, as questões de imagem podem começar a afetar a percepção do país lá fora sobre essas questões. Em estudo que estou preparando e que deve ser apresentado em julho no Congresso da Associação Internacional de Ciência Política a questão ambiental de fato impacta negativamente o soft power dos países caso seja mal conduzido.

O desafio para o próximo presidente engloba diversas frentes agora. Se antes a política macroeconômica e as reformas microeconômicas bastavam, agora será necessário esforço adicional em manter os critérios ESG também em bom estado no país. Isso passa por melhorar as condições de desigualdade de renda (social), de estabilidade política, controle da corrupção e eficiência do governo (governança) e das métricas ambientais em geral, especialmente aquelas relacionadas ao desmatamento e à poluição (meio ambiente). A agenda, assim, é mais ampla e ambiciosa do que no passado. Mas ignorá-la poderá nos custar muito caro no futuro.

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Sergio Vale é economista-chefe da MB Associados

No último artigo discutimos as vulnerabilidades macroeconômicas do Brasil, construindo um indicador em que o Brasil aparecia na terceira pior colocação entre os 19 países emergentes mais relevantes, perdendo apenas para Argentina e África do Sul. A percepção, além disso, é que não havia tido muita evolução positiva de 2010 a 2020. De certa forma, podemos dizer que o Brasil ficou estagnado na década passada e em diversas frentes teve queda importante. Abrindo os dados, descobrimos que nossas piores estatísticas se referiam ao cenário fiscal, como esperado, e às baixas taxas de poupança e investimento. O Brasil tem entre esses países a menor taxa de poupança e a segunda pior de investimento. Crescer de forma sustentada nessas condições é quase impossível.

Um elemento adicional que coloca incerteza nos investimentos futuros tem a ver com os novos critérios que foram incorporados nas análises das empresas nos últimos anos. Os critérios ESG ( Environmental, Social and Governance ) passaram a ser relevantes para a decisão das empresas e bancos na emissão e compra de títulos privados, além da própria decisão de investimento, especialmente de multinacionais.

Para identificar onde o Brasil se localiza nesses critérios, criamos também um indicador ESG para dados desses três critérios, tentando uma avaliação com os dados já disponíveis que vão até 2019. E o que esse indicador mostra é que o Brasil gosta da medalha de bronze, tendo ficado novamente em terceiro lugar entre os piores países, atrás apenas da África do Sul e das Filipinas (figura 1).

indicador de vulnerabilidade ESG

Diferente do indicador macroeconômico, que colocava os países asiáticos frontalmente melhores que os latino americanos, aqui a posição destes é mais espalhada e claramente há vários países asiáticos em posição delicada. A China é exemplo claro disso pela sua performance muito ruim nos critérios de governança e ambientais. O fato de ser um país líder em emissão de poluição e com severas restrições à liberdade colocam o país em posição não muito diferente dos piores colocados. De fato, o Brasil aparece com 61%, enquanto a China está com 60%. Esse é um elemento que os chineses precisam se preocupar no futuro, ou seja, será que conseguiram sendo líderes em investimento se não conseguir rapidamente mudar sua trajetória ambiental e de governança? Nesse caso, ter estabilidade macroeconômica não é suficiente para construir uma narrativa vitoriosa de investimento.

Ao mesmo tempo, o Brasil se encontra em situação ainda mais difícil, pois tem ambas instabilidades muito marcantes. Como aumentar a taxa de poupança e investimento se também não evoluir nos critérios ESG. O Brasil ainda tem bons indicadores ambientais e é nosso critério mais bem avaliado. Parte disso vem de nossa matriz limpa e a busca nos últimos anos por aumento também de energia solar e eólica na composição da matriz energética. Entretanto, as questões de imagem podem começar a afetar a percepção do país lá fora sobre essas questões. Em estudo que estou preparando e que deve ser apresentado em julho no Congresso da Associação Internacional de Ciência Política a questão ambiental de fato impacta negativamente o soft power dos países caso seja mal conduzido.

O desafio para o próximo presidente engloba diversas frentes agora. Se antes a política macroeconômica e as reformas microeconômicas bastavam, agora será necessário esforço adicional em manter os critérios ESG também em bom estado no país. Isso passa por melhorar as condições de desigualdade de renda (social), de estabilidade política, controle da corrupção e eficiência do governo (governança) e das métricas ambientais em geral, especialmente aquelas relacionadas ao desmatamento e à poluição (meio ambiente). A agenda, assim, é mais ampla e ambiciosa do que no passado. Mas ignorá-la poderá nos custar muito caro no futuro.

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