O Brasil que dá certo quer votar no que não dá certo
A visão de que dois candidatos, Haddad e Bolsonaro, não entregarão as reformas necessárias e poderão estar no segundo turno tem potencial para jogar o câmbio ainda mais para cima nas próximas semanas
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2018 às 14h21.
Com a corrida eleitoral avançando, o mercado começou a mostrar suas dúvidas sobre a capacidade eleitoral dos candidatos pró-reformas que temos. A alguns dias do início da campanha eleitoral, a grande novidade tem sido a possibilidade do candidato do PT, Fernando Haddad, poder surgir mais competitivo. Mas quem duvidava disso? O PT sabe como ninguém fazer propaganda, mesmo à base de ilusão, terá o segundo maior tempo de TV e conta com um não-candidato preso que tem quase 40% das intenções de voto.
Esse cenário possível que o mercado começa a ver entre Bolsonaro e Haddad está na base da piora recente no câmbio. A visão de que dois candidatos que não entregarão as reformas necessárias poderão estar no segundo turno tem potencial para jogar o câmbio ainda mais para cima nas próximas semanas.
Nesse sentido, foi interessante a rodada de apresentações que fiz esta semana em sete cidades do agronegócio espalhadas entre Minas, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Por um lado, é mais do que evidente o que acontece a um setor em que a produtividade é o mote do crescimento. Por mais de 40 anos, o segmento conseguiu crescer a base de investimentos pesados em tecnologia e sem muita interferência do Estado. Essa conjunção positiva levou a estados pobres no passado, como o Mato Grosso, a despontarem em termos de desenvolvimentos nos últimos anos.
É interessante notar aqui a falsa dicotomia que a esquerda coloca de que precisa aumentar primeiro a distribuição de renda para que o crescimento aconteça. O caso dos estados pesadamente agrícolas é exatamente o oposto. O forte crescimento baseado em produtividade levou à queda da desigualdade nos últimos anos nesses estados. O gráfico abaixo mostra que o índice de Gini, que é um indicador de desigualdade, é mais baixo justamente nos estados em que há uma base agrícola forte, como os do Centro Oeste e do Sul. O Sul historicamente já tinha um nível baixo de desigualdade de renda. A novidade foi os estados agrícolas começarem a aparecer nessa classificação. E a justificativa é evidente. O agronegócio permitiu que esses estados gerassem crescimento por produtividade que permitiu aumento de renda em todas as classes, especialmente nas mais baixas.
A pujança de cidades como Sinop, no Mato Grosso, e Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, são quase exclusivamente derivados do desenvolvimento do agronegócio e, em geral, o que mais ouvi da população foi o desejo de não sair de lá.
Claro que o agronegócio tem vantagens que outros setores não têm, como ser altamente dependendo de exportações, o que significa menos carga de impostos, e ter a China como base de crescimento intenso nas últimas duas décadas. Esse tipo de vantagem não ocorre para a indústria tradicional, por exemplo, setor em que a carga de impostos é elevada e a China aparece com o efeito oposto do agronegócio. Mas isso apenes deveria servir para tira o preconceito sobre o agronegócio, que é visto como setor primário, mas que possui elevado grau de inovação industrial, maior do que na indústria tradicional.
Esse Brasil que dá certo tem olhado a classe política tradicional com desdém. Os partidos tracionais são vistos como incapazes de gerar o que o país precisa, como se fossem entraves. Surge no imaginário do agronegócio a visão de que candidatos vocais como Bolsonaro poderiam mudar as coisas. Há aqui tanto uma forte visão anti-PT, mas também uma crença de que de alguma forma o período militar era melhor ou que Bolsonaro conseguiria fazer diferente.
O interessante é que nas conversas fica meio claro que as pessoas sabem que não é bem assim. Que Bolsonaro não conseguiria fazer o que fala, mas o voto parece ser mais de protesto do que efetivamente por crença no que Bolsonaro pode fazer.
O perigo dessa visão é que a decepção poderá ser forte. É quase certo que um governo Bolsonaro seria difícil de seguir com as reformas necessárias. Sua base de apoio deverá ser mais difícil de montar até do que foi o governo Collor. Isso sem falar nos arroubos anti-democráticos que vai voltar a colocar o nós contra eles tão bem usado por Lula. Mas Lula sabia usar isso por que tinha entregue o governo para a Dilma em 2010 com crescimento de 7,5%. Bolsonaro teria muito mais trabalho do que Lula teve em 2003, sem ter a base de apoio necessária para as reformas que se precisa agora. É como se a economia aguentasse mais desaforo em 2003 do que agora.
O paradoxo de uma economia que deu certo querer votar em um candidato que certamente não vai entregar o que promete faz parte das jabuticabas brasileiras. Afinal, Dilma ganhou duas eleições no país. O que diferencia esse de outros momentos é um grau de irritação e raiva por parte da população que não era tão explícito no passado. Qualquer um que entrar ano que vem terá uma população contrária de imediato, o que não é bom para o tipo de reforma complexa que o país precisa agora.
Por isso, esse câmbio que já buscou R$/US$ 4,1 essa semana provavelmente buscará novas altas daqui para a frente. A instabilidade tende a ficar conosco por vários meses ainda.
Com a corrida eleitoral avançando, o mercado começou a mostrar suas dúvidas sobre a capacidade eleitoral dos candidatos pró-reformas que temos. A alguns dias do início da campanha eleitoral, a grande novidade tem sido a possibilidade do candidato do PT, Fernando Haddad, poder surgir mais competitivo. Mas quem duvidava disso? O PT sabe como ninguém fazer propaganda, mesmo à base de ilusão, terá o segundo maior tempo de TV e conta com um não-candidato preso que tem quase 40% das intenções de voto.
Esse cenário possível que o mercado começa a ver entre Bolsonaro e Haddad está na base da piora recente no câmbio. A visão de que dois candidatos que não entregarão as reformas necessárias poderão estar no segundo turno tem potencial para jogar o câmbio ainda mais para cima nas próximas semanas.
Nesse sentido, foi interessante a rodada de apresentações que fiz esta semana em sete cidades do agronegócio espalhadas entre Minas, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Por um lado, é mais do que evidente o que acontece a um setor em que a produtividade é o mote do crescimento. Por mais de 40 anos, o segmento conseguiu crescer a base de investimentos pesados em tecnologia e sem muita interferência do Estado. Essa conjunção positiva levou a estados pobres no passado, como o Mato Grosso, a despontarem em termos de desenvolvimentos nos últimos anos.
É interessante notar aqui a falsa dicotomia que a esquerda coloca de que precisa aumentar primeiro a distribuição de renda para que o crescimento aconteça. O caso dos estados pesadamente agrícolas é exatamente o oposto. O forte crescimento baseado em produtividade levou à queda da desigualdade nos últimos anos nesses estados. O gráfico abaixo mostra que o índice de Gini, que é um indicador de desigualdade, é mais baixo justamente nos estados em que há uma base agrícola forte, como os do Centro Oeste e do Sul. O Sul historicamente já tinha um nível baixo de desigualdade de renda. A novidade foi os estados agrícolas começarem a aparecer nessa classificação. E a justificativa é evidente. O agronegócio permitiu que esses estados gerassem crescimento por produtividade que permitiu aumento de renda em todas as classes, especialmente nas mais baixas.
A pujança de cidades como Sinop, no Mato Grosso, e Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, são quase exclusivamente derivados do desenvolvimento do agronegócio e, em geral, o que mais ouvi da população foi o desejo de não sair de lá.
Claro que o agronegócio tem vantagens que outros setores não têm, como ser altamente dependendo de exportações, o que significa menos carga de impostos, e ter a China como base de crescimento intenso nas últimas duas décadas. Esse tipo de vantagem não ocorre para a indústria tradicional, por exemplo, setor em que a carga de impostos é elevada e a China aparece com o efeito oposto do agronegócio. Mas isso apenes deveria servir para tira o preconceito sobre o agronegócio, que é visto como setor primário, mas que possui elevado grau de inovação industrial, maior do que na indústria tradicional.
Esse Brasil que dá certo tem olhado a classe política tradicional com desdém. Os partidos tracionais são vistos como incapazes de gerar o que o país precisa, como se fossem entraves. Surge no imaginário do agronegócio a visão de que candidatos vocais como Bolsonaro poderiam mudar as coisas. Há aqui tanto uma forte visão anti-PT, mas também uma crença de que de alguma forma o período militar era melhor ou que Bolsonaro conseguiria fazer diferente.
O interessante é que nas conversas fica meio claro que as pessoas sabem que não é bem assim. Que Bolsonaro não conseguiria fazer o que fala, mas o voto parece ser mais de protesto do que efetivamente por crença no que Bolsonaro pode fazer.
O perigo dessa visão é que a decepção poderá ser forte. É quase certo que um governo Bolsonaro seria difícil de seguir com as reformas necessárias. Sua base de apoio deverá ser mais difícil de montar até do que foi o governo Collor. Isso sem falar nos arroubos anti-democráticos que vai voltar a colocar o nós contra eles tão bem usado por Lula. Mas Lula sabia usar isso por que tinha entregue o governo para a Dilma em 2010 com crescimento de 7,5%. Bolsonaro teria muito mais trabalho do que Lula teve em 2003, sem ter a base de apoio necessária para as reformas que se precisa agora. É como se a economia aguentasse mais desaforo em 2003 do que agora.
O paradoxo de uma economia que deu certo querer votar em um candidato que certamente não vai entregar o que promete faz parte das jabuticabas brasileiras. Afinal, Dilma ganhou duas eleições no país. O que diferencia esse de outros momentos é um grau de irritação e raiva por parte da população que não era tão explícito no passado. Qualquer um que entrar ano que vem terá uma população contrária de imediato, o que não é bom para o tipo de reforma complexa que o país precisa agora.
Por isso, esse câmbio que já buscou R$/US$ 4,1 essa semana provavelmente buscará novas altas daqui para a frente. A instabilidade tende a ficar conosco por vários meses ainda.