Juros mais altos levam à inflação mais alta? Não
Em artigo semana retrasada, André Lara Resende discutiu alguns impasses em que a política monetária se encontraria. Na sua visão, as divergências internas dos modelos monetários chegaram a conclusões intuitivamente estranhas, como, por exemplo, a hipótese neo-fisheriana de que quanto maior a taxa de juros nominal, maior a expectativa de inflação e, consequentemente, maior a […]
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2017 às 11h18.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h15.
Em artigo semana retrasada, André Lara Resende discutiu alguns impasses em que a política monetária se encontraria. Na sua visão, as divergências internas dos modelos monetários chegaram a conclusões intuitivamente estranhas, como, por exemplo, a hipótese neo-fisheriana de que quanto maior a taxa de juros nominal, maior a expectativa de inflação e, consequentemente, maior a própria inflação. Em que pese a aceitação por parte do autor de que juros altos levem a queda de inflação no curto prazo, esse puzzle de longo prazo colocaria um desafio na visão tradicional de política monetária, para a qual essa relação seria válida não apenas no curto prazo.
A solução para justificar tal impasse é jogar a política fiscal na equação. A hipótese é de que resultados fiscais equilibrados de longo prazo seriam a âncora de longo prazo que permitiria essa relação existir. Ou seja, não cabe tratar a política monetária isoladamente da política fiscal.
Certa celeuma que decorreu do texto advém da avaliação aceita no texto de que uma queda de juros nominal leva a uma queda da inflação no longo prazo. A relação de causalidade realmente não faz muito sentido se não houver o resultado fiscal por trás dessa equação. Ou seja, não parece razoável considerar que os juros nominais causem a inflação mais baixa no longo prazo, mas sim que essas duas variáveis caem no longo prazo pelo resultado fiscal positivo.
Temos um exemplo concreto disso no Brasil quando entre 2003 e 2006 tanto a taxa nominal de juros quanto a inflação caíram. Parte disso certamente tem a ver com a apreciação cambial de então, mas não apenas, dada a queda vista em preços monitorados e especialmente em serviços, que captam melhor a dinâmica doméstica de inflação. Essa aparente relação positiva entre juros nominal e inflação não tem relação de causação entre eles, ou seja, não é a queda de juros nominais certamente que fez a inflação cair. Mas parece razoável supor que por trás dessa queda conjunta está a significativa melhora fiscal no início do governo Lula. A âncora fiscal ali foi essencial, assim como foi falha no começo do governo FHC, redundando na crise cambial ao final de seu mandato. A inflação só não voltou ali porque se iniciou um ajuste fiscal significativo.
Da mesma forma, a âncora fiscal se perdeu a partir do segundo mandato do governo Lula e, nesse caso, poderia haver a falha conclusão de que os juros nominais em alta levaram ao aumento da inflação, o que certamente não faz muito sentido. A destruição da política fiscal está por trás da inflação ter chegado a um dígito em 2015 e esse parece ser um consenso difícil de desconsiderar.
Frisar a importância da questão fiscal é essencial para que não se culpe a variável errada. A discussão eterna de que os juros matam a atividade pode levar erroneamente a mais uma causalidade errada de se considerar a inflação elevada ser culpa dos juros elevados.
Nos próximos anos, o foco central que justificará a queda da inflação e da taxa de juros nominal e também real no final será a questão fiscal. O primeiro passo para isso foi dado com a regra fiscal, mas ainda há dois elementos para a consolidação final dessa trajetória. Primeiro, a aprovação da reforma da previdência é essencial para consolidar o resultado fiscal de longo prazo. Segundo, a eleição do ano que vem será relevante para se saber qual o grau de comprometimento do próximo presidente com o ajuste fiscal. Considerando a continuidade da reeleição e que um presidente com compromisso fiscal ganhe, podemos ter dez anos virtuosos na economia com queda de juros nominal, real e inflação.
Assim, a atual recuperação está atrelada a eventos futuros importantes para se consolidar. Olhando os próximos dois anos, a reforma da previdência e a eleição presidencial são os termômetros mais importantes a se observar. Qualquer desvio da rota joga a perder a trajetória positiva que começou ano passado. Por isso também, a recuperação este ano está acontecendo, mas só se sustenta se esses dois elementos se concretizarem.
Em artigo semana retrasada, André Lara Resende discutiu alguns impasses em que a política monetária se encontraria. Na sua visão, as divergências internas dos modelos monetários chegaram a conclusões intuitivamente estranhas, como, por exemplo, a hipótese neo-fisheriana de que quanto maior a taxa de juros nominal, maior a expectativa de inflação e, consequentemente, maior a própria inflação. Em que pese a aceitação por parte do autor de que juros altos levem a queda de inflação no curto prazo, esse puzzle de longo prazo colocaria um desafio na visão tradicional de política monetária, para a qual essa relação seria válida não apenas no curto prazo.
A solução para justificar tal impasse é jogar a política fiscal na equação. A hipótese é de que resultados fiscais equilibrados de longo prazo seriam a âncora de longo prazo que permitiria essa relação existir. Ou seja, não cabe tratar a política monetária isoladamente da política fiscal.
Certa celeuma que decorreu do texto advém da avaliação aceita no texto de que uma queda de juros nominal leva a uma queda da inflação no longo prazo. A relação de causalidade realmente não faz muito sentido se não houver o resultado fiscal por trás dessa equação. Ou seja, não parece razoável considerar que os juros nominais causem a inflação mais baixa no longo prazo, mas sim que essas duas variáveis caem no longo prazo pelo resultado fiscal positivo.
Temos um exemplo concreto disso no Brasil quando entre 2003 e 2006 tanto a taxa nominal de juros quanto a inflação caíram. Parte disso certamente tem a ver com a apreciação cambial de então, mas não apenas, dada a queda vista em preços monitorados e especialmente em serviços, que captam melhor a dinâmica doméstica de inflação. Essa aparente relação positiva entre juros nominal e inflação não tem relação de causação entre eles, ou seja, não é a queda de juros nominais certamente que fez a inflação cair. Mas parece razoável supor que por trás dessa queda conjunta está a significativa melhora fiscal no início do governo Lula. A âncora fiscal ali foi essencial, assim como foi falha no começo do governo FHC, redundando na crise cambial ao final de seu mandato. A inflação só não voltou ali porque se iniciou um ajuste fiscal significativo.
Da mesma forma, a âncora fiscal se perdeu a partir do segundo mandato do governo Lula e, nesse caso, poderia haver a falha conclusão de que os juros nominais em alta levaram ao aumento da inflação, o que certamente não faz muito sentido. A destruição da política fiscal está por trás da inflação ter chegado a um dígito em 2015 e esse parece ser um consenso difícil de desconsiderar.
Frisar a importância da questão fiscal é essencial para que não se culpe a variável errada. A discussão eterna de que os juros matam a atividade pode levar erroneamente a mais uma causalidade errada de se considerar a inflação elevada ser culpa dos juros elevados.
Nos próximos anos, o foco central que justificará a queda da inflação e da taxa de juros nominal e também real no final será a questão fiscal. O primeiro passo para isso foi dado com a regra fiscal, mas ainda há dois elementos para a consolidação final dessa trajetória. Primeiro, a aprovação da reforma da previdência é essencial para consolidar o resultado fiscal de longo prazo. Segundo, a eleição do ano que vem será relevante para se saber qual o grau de comprometimento do próximo presidente com o ajuste fiscal. Considerando a continuidade da reeleição e que um presidente com compromisso fiscal ganhe, podemos ter dez anos virtuosos na economia com queda de juros nominal, real e inflação.
Assim, a atual recuperação está atrelada a eventos futuros importantes para se consolidar. Olhando os próximos dois anos, a reforma da previdência e a eleição presidencial são os termômetros mais importantes a se observar. Qualquer desvio da rota joga a perder a trajetória positiva que começou ano passado. Por isso também, a recuperação este ano está acontecendo, mas só se sustenta se esses dois elementos se concretizarem.