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Eleições de 2018 podem ser o novo cisne negro

Com duas semanas de crise, quem olhasse de fora não imaginaria que tivesse acontecido algo muito fora do normal. A taxa de câmbio segue pouco depreciada, o Banco Central seguirá diminuindo os juros, o crescimento tem revisões para baixo, mas nada completamente desastroso. Enfim, um cenário que sugeriria algo moderado apenas e não o cisne […]

LULA: a eleição presidencial se torna um caminho de stress para o mercado, especialmente se certo ex-presidente concorrer / Leonardo Benassatto/Reuters (Leonardo Benassatto/Reuters)
LULA: a eleição presidencial se torna um caminho de stress para o mercado, especialmente se certo ex-presidente concorrer / Leonardo Benassatto/Reuters (Leonardo Benassatto/Reuters)
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Sérgio Vale

Publicado em 30 de maio de 2017 às, 16h17.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h08.

Com duas semanas de crise, quem olhasse de fora não imaginaria que tivesse acontecido algo muito fora do normal. A taxa de câmbio segue pouco depreciada, o Banco Central seguirá diminuindo os juros, o crescimento tem revisões para baixo, mas nada completamente desastroso. Enfim, um cenário que sugeriria algo moderado apenas e não o cisne negro que foi.

Muito disso se dá pelo compasso de espera no qual todos nos encontramos. O grau de incerteza é inédito comparado com outros anos o que também significa dizer que ficar onde está pode ser a melhor solução para preços de ativos em geral.

Essa incerteza, contudo, não pode se estender, pois continua sendo verdade que há dois elementos no horizonte que seguem sendo os pontos centrais para qualquer mudança de humor no mercado, uma com possíveis soluções (a Previdência) e outra muito mais aberta (as eleições de 2018).

No caso da reforma da Previdência, ela está atada mais do que nunca à permanência da equipe econômica ou no máximo à troca por nomes equivalentes. A ideia aqui é que os mercados se adaptam à nova informação da crise e entendem que a reforma como vinha sendo cozinhada provavelmente não conseguirá ser aprovada. Isso poderia gerar uma forte crise se não houvesse também em gestação soluções alternativas, em que pese serem precárias.

Uma delas, a que talvez possa ser mais interessante e menos arriscada, é a que desmembra a reforma entre as que podem ser aprovadas apenas por medidas provisórias (MPs) e as que precisam passar por proposta de emenda à Constituição (PEC). Convenhamos que já seria difícil em tempos normais aprovar a PEC da Previdência. Com todo o caos criado e a perda de força política do presidente o cenário fica mais que desafiador. Ainda mais porque caso um novo presidente seja eleito por vias indiretas, terá dificuldade por conta dos prazos apertados para andar com a reforma em clima nada aprazível para a corte política de Brasília. Teríamos o segundo semestre para aprovar a reforma na Câmara, mas quase certamente o Senado teria que analisar a PEC ano que vem, o que é impossível de acreditar dado que será ano eleitoral.

Em 1996, aconteceu algo semelhante com a não aprovação da reforma da Previdência levando à criação do fator previdenciário no ano seguinte. Algo similar pode ser feito, com a percepção de que quem entrar em 2019 vai ter que retomar o assunto de qualquer maneira. Essa solução pode ocorrer com um novo presidente ou mesmo que Temer permaneça caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não o casse. A propósito, acreditar em renúncia ou impeachment a essa altura já não é mais possível.

A mudança na Previdência assim pode se tornar um problema contornável dado que soluções paliativas já começaram a ser desenhadas. Se, por exemplo, a reforma não tivesse passado enquanto o governo não tivesse nem uma possibilidade alternativa, o estrago nos mercados poderia ter sido muito maior. A percepção de possibilidades de saída na Previdência certamente deverá acalmar os mercados nas próximas semanas. Mas, novamente, atrelado à manutenção da equipe econômica nesse nível.

Uma solução alternativa, mas difícil a essa altura, seria aprovar a reforma na Câmara no segundo semestre e deixar a segunda parte no Senado para o novo presidente em 2019, que terá uma casa renovada em 2/3 para discutir a reforma. Se passar, o Senado analisa em 2019. Se não passar, o desmembramento pode ser a melhor solução por agora.

Em economia, assim, é possível vislumbrar soluções quando há massa pensante no comando e um mínimo de controle no legislativo. Temer provavelmente não tem mais maioria qualificada, mas muito provavelmente pode manter maioria simples caso não saia pela decisão do TSE.

Claro que ainda há muita faísca política para acontecer. Uma possível delação do deputado Rodrigo Loures ou outras delações que possam vir a caminho podem terminar de vez o presidente. Mas qualquer que seja a saída, o comprometimento com a equipe econômica e uma solução viável, mesmo que parcial, para as reformas, tenderá a manter os mercados calmos.

A situação mais dramática nos espera para 2018. A eleição presidencial se torna automaticamente um caminho de stress para o mercado. Desde 1994, havia certa tranquilidade no cenário político com candidatos que seguiam a cartilha. Quando havia algum risco de não seguir e com chance de vitória, como Lula em 2002, os mercados sentiam o baque.

Isso pode se repetir dado que o cenário necessariamente contemplará muitos nomes novos, considerando a implosão dos partidos e nomes tradicionais. Algo semelhante ao que se viu em 1989. Poucos desses nomes, por enquanto, apelam à racionalidade econômica e, por mais que a sigam após as eleições, penarão para convencer a sociedade que não seja o caso.

Assim, o maior risco, agora, parece ser as eleições de 2018, com chance cada vez maior de causar muita turbulência nos mercados ao longo do ano que vem, especialmente se certo ex-presidente se sentir disposto a voltar.

SERGIO VALE