De onde virá o crescimento?
Há certa desconfiança hoje sobre como o país conseguirá crescer nos próximos anos. Depois de anos em recessão profunda e desarranjos na área fiscal que demandarão atenção permanente até a próxima década, é natural haver dúvidas sobre a capacidade de o país reagir. A discussão sobre se o crescimento ano que vem será 0,5% ou […]
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2016 às 18h21.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h16.
Há certa desconfiança hoje sobre como o país conseguirá crescer nos próximos anos. Depois de anos em recessão profunda e desarranjos na área fiscal que demandarão atenção permanente até a próxima década, é natural haver dúvidas sobre a capacidade de o país reagir.
A discussão sobre se o crescimento ano que vem será 0,5% ou 2% é bizantina. Não importa tanto o número si, pois a saída da recessão naturalmente levará tempo para ocorrer, mas vale especular se teremos condições de crescimento sustentável de longo prazo nos próximos anos. E creio que haja razões para um certo otimismo.
Primeiro, para além das questões de expectativa de curto prazo, o mandato tampão de Michel Temer terá e está tendo o papel de atacar alguns poucos pontos importantes que arrumarão a bagunça dos últimos anos. O carro-chefe certamente é a regra do teto fiscal, que não é recessiva para o ano que vem. Pelo contrário, ao jogar com uma inflação em torno de 7% este ano para uma inflação que ano que vem deverá ser de 5%, isso significa um crescimento real em torno de 2%. Não houvesse a regra o governo teria que fazer um ajuste muito mais severo, com corte real de gasto e aumento de arrecadação via aumento de impostos. Esse ajuste, sim, seria altamente recessivo, de curto prazo, e não resolveria os problemas de longo prazo.
Assim, a regra como foi feita não joga a economia em recessão ano que vem, evita aumento de impostos e coloca uma regra de longo prazo que garante sustentabilidade de longo prazo, algo que nunca houve em política fiscal no Brasil, o que não é pouca coisa.
Segundo, aplicando a regra fiscal de longo prazo, o BC estará livre para ajustar a taxa de juros para baixo mais rapidamente. A regra fiscal ajudará a conter o crescimento da dívida, foco maior da elevada taxa de juros existente. Junta-se a isso a visão do BC de trazer a meta de inflação para baixo ao longo dos próximos anos, o que garantirá tanto juros nominais quanto reais sensivelmente mais baixos do que hoje.
Terceiro, o governo corre atrás do tempo perdido no desmantelamento passado da regulação de infraestrutura, reorganizando o segmento, o que atrairá investidores para os projetos de concessão em 2017. Certamente é difícil imaginar que todos os projetos consigam sair do papel, mas alguns bem-feitos darão o sinal de que o governo de fato está falando sério em arranjos mais positivos para o setor privado.
Quarto, e talvez mais relevante, a eleição para prefeito este ano mostrou uma população arisca à esquerda, com opção pela racionalidade econômica na hora do voto, sem entrar em bobas discussões de esquerda e direita que nem deveriam mais existir. Com dois anos para a eleição presidencial, o sinal este ano foi claro. Mais ainda, ser presidente em um país como o Brasil demanda acordos mais gerais e uma sinalização de responsabilidade econômica que a esquerda gastou desde o segundo mandato do governo Lula. Que partido de esquerda teria condições de apresentar uma Carta ao Povo Brasileiro em 2018 nos moldes do que o PT fez em 2002? Olhando de hoje, a esquerda parece ter voltado àquela fase raivosa dos anos 80 e 90 que nunca conseguiu levar à contento seu projeto de poder. Com todo o efeito Lava Jato, fica ainda mais difícil acreditar que a esquerda possa montar um projeto crível de poder no curto prazo.
Com isso, é muito provável que uma opção racional na economia possa aparecer em 2018 com potencial de vitória, o que será essencial para manter a trajetória de recuperação que começou agora. Dessa vez, várias das restrições do passado não estarão presentes. Não há câmbio administrado e nem um temporário boom econômico externo para acelerar o crescimento doméstico. Ficará claro que para crescer serão precisas doses contínuas de reforma na economia, que certamente continuarão presentes no próximo mandato presidencial.
O Brasil tem tantas distorções, que ao se começar a desmontá-las, criam-se oportunidades de crescimento que hoje não existem no mundo. Enquanto os países desenvolvidos sofrerão anos com taxas de juros muito baixas e a China certamente enfrentará dificuldade em seu novo modelo de crescimento, ainda muito focado em empresas estatais pouco produtivas, o Brasil poderá ser um caminho de crescimento real para o mundo.
Mas não nos enganemos com os números. Enquanto o mundo crescia 5% ao ano, era natural acompanharmos esses números e em alguns anos crescermos até mais do que isso, como o foi em 2010. O ciclo de crescimento mundial continuará sendo um certo balizador do nosso próprio crescimento. Assim, com o mundo crescendo em média 3% ao ano, isso significa que teremos condições de crescer isso e talvez um pouco mais a depender da aceleração dos ajustes que forem sendo feitos. Não temos país para crescer 7%, mas certamente não será difícil sustentar 3% a 4% se fizermos o dever de casa.
Este pode parecer um cenário otimista, mas é um cenário de longo prazo que vê o país livre de certas amarras do passado, especialmente projetos políticos de poder inviáveis. Quem quiser governar o país terá que entrar em modo de ajuste permanente. Não caberá nem haverá espaço para as ilusões da esquerda que, lembremos novamente, estarão isoladas em seu discurso velho de política econômica.
Por isso, é bobagem se ater a discussões tolas sobre crescimento ano que vem. O ponto está longe de ser esse. A questão certa é: estamos e teremos condições de organizar a economia para manter crescimento equilibrado nos próximos anos? Para essa questão, felizmente talvez a resposta seja positiva e é isso que garantirá um cenário mais positivo para a década seguinte. É como se estivéssemos saindo dos tenebrosos anos 80, mas entrando nos anos 90 de ajuste tendo aprendido muita coisa e sem fortes amarras e erros fiscais daquele período. Mas isso é parte da história sobre o crescimento futuro, que continuaremos no artigo da semana que vem. Crescer, de repente, se tornou um pouco mais fácil.
Há certa desconfiança hoje sobre como o país conseguirá crescer nos próximos anos. Depois de anos em recessão profunda e desarranjos na área fiscal que demandarão atenção permanente até a próxima década, é natural haver dúvidas sobre a capacidade de o país reagir.
A discussão sobre se o crescimento ano que vem será 0,5% ou 2% é bizantina. Não importa tanto o número si, pois a saída da recessão naturalmente levará tempo para ocorrer, mas vale especular se teremos condições de crescimento sustentável de longo prazo nos próximos anos. E creio que haja razões para um certo otimismo.
Primeiro, para além das questões de expectativa de curto prazo, o mandato tampão de Michel Temer terá e está tendo o papel de atacar alguns poucos pontos importantes que arrumarão a bagunça dos últimos anos. O carro-chefe certamente é a regra do teto fiscal, que não é recessiva para o ano que vem. Pelo contrário, ao jogar com uma inflação em torno de 7% este ano para uma inflação que ano que vem deverá ser de 5%, isso significa um crescimento real em torno de 2%. Não houvesse a regra o governo teria que fazer um ajuste muito mais severo, com corte real de gasto e aumento de arrecadação via aumento de impostos. Esse ajuste, sim, seria altamente recessivo, de curto prazo, e não resolveria os problemas de longo prazo.
Assim, a regra como foi feita não joga a economia em recessão ano que vem, evita aumento de impostos e coloca uma regra de longo prazo que garante sustentabilidade de longo prazo, algo que nunca houve em política fiscal no Brasil, o que não é pouca coisa.
Segundo, aplicando a regra fiscal de longo prazo, o BC estará livre para ajustar a taxa de juros para baixo mais rapidamente. A regra fiscal ajudará a conter o crescimento da dívida, foco maior da elevada taxa de juros existente. Junta-se a isso a visão do BC de trazer a meta de inflação para baixo ao longo dos próximos anos, o que garantirá tanto juros nominais quanto reais sensivelmente mais baixos do que hoje.
Terceiro, o governo corre atrás do tempo perdido no desmantelamento passado da regulação de infraestrutura, reorganizando o segmento, o que atrairá investidores para os projetos de concessão em 2017. Certamente é difícil imaginar que todos os projetos consigam sair do papel, mas alguns bem-feitos darão o sinal de que o governo de fato está falando sério em arranjos mais positivos para o setor privado.
Quarto, e talvez mais relevante, a eleição para prefeito este ano mostrou uma população arisca à esquerda, com opção pela racionalidade econômica na hora do voto, sem entrar em bobas discussões de esquerda e direita que nem deveriam mais existir. Com dois anos para a eleição presidencial, o sinal este ano foi claro. Mais ainda, ser presidente em um país como o Brasil demanda acordos mais gerais e uma sinalização de responsabilidade econômica que a esquerda gastou desde o segundo mandato do governo Lula. Que partido de esquerda teria condições de apresentar uma Carta ao Povo Brasileiro em 2018 nos moldes do que o PT fez em 2002? Olhando de hoje, a esquerda parece ter voltado àquela fase raivosa dos anos 80 e 90 que nunca conseguiu levar à contento seu projeto de poder. Com todo o efeito Lava Jato, fica ainda mais difícil acreditar que a esquerda possa montar um projeto crível de poder no curto prazo.
Com isso, é muito provável que uma opção racional na economia possa aparecer em 2018 com potencial de vitória, o que será essencial para manter a trajetória de recuperação que começou agora. Dessa vez, várias das restrições do passado não estarão presentes. Não há câmbio administrado e nem um temporário boom econômico externo para acelerar o crescimento doméstico. Ficará claro que para crescer serão precisas doses contínuas de reforma na economia, que certamente continuarão presentes no próximo mandato presidencial.
O Brasil tem tantas distorções, que ao se começar a desmontá-las, criam-se oportunidades de crescimento que hoje não existem no mundo. Enquanto os países desenvolvidos sofrerão anos com taxas de juros muito baixas e a China certamente enfrentará dificuldade em seu novo modelo de crescimento, ainda muito focado em empresas estatais pouco produtivas, o Brasil poderá ser um caminho de crescimento real para o mundo.
Mas não nos enganemos com os números. Enquanto o mundo crescia 5% ao ano, era natural acompanharmos esses números e em alguns anos crescermos até mais do que isso, como o foi em 2010. O ciclo de crescimento mundial continuará sendo um certo balizador do nosso próprio crescimento. Assim, com o mundo crescendo em média 3% ao ano, isso significa que teremos condições de crescer isso e talvez um pouco mais a depender da aceleração dos ajustes que forem sendo feitos. Não temos país para crescer 7%, mas certamente não será difícil sustentar 3% a 4% se fizermos o dever de casa.
Este pode parecer um cenário otimista, mas é um cenário de longo prazo que vê o país livre de certas amarras do passado, especialmente projetos políticos de poder inviáveis. Quem quiser governar o país terá que entrar em modo de ajuste permanente. Não caberá nem haverá espaço para as ilusões da esquerda que, lembremos novamente, estarão isoladas em seu discurso velho de política econômica.
Por isso, é bobagem se ater a discussões tolas sobre crescimento ano que vem. O ponto está longe de ser esse. A questão certa é: estamos e teremos condições de organizar a economia para manter crescimento equilibrado nos próximos anos? Para essa questão, felizmente talvez a resposta seja positiva e é isso que garantirá um cenário mais positivo para a década seguinte. É como se estivéssemos saindo dos tenebrosos anos 80, mas entrando nos anos 90 de ajuste tendo aprendido muita coisa e sem fortes amarras e erros fiscais daquele período. Mas isso é parte da história sobre o crescimento futuro, que continuaremos no artigo da semana que vem. Crescer, de repente, se tornou um pouco mais fácil.