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Calmaria internacional em 2018…por hora

Se fosse combinado não sairia melhor. A queda da presidente Dilma permitiu o timing perfeito de recuperação econômica durante uma eleição turbulenta como em 2018. No atual caminhar, devemos chegar na eleição com números positivos em praticamente todos os quesitos relevantes para o bolso do brasileiro. Olhando de hoje, o cenário político doméstico não parece […]

MACRON E MERKEL: crescimento estável em 2% desde 2015 mostra uma Europa muito mais robusta do que há alguns anos / Fabrizio Bensch | Reuters
DR

Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2017 às 08h38.

Se fosse combinado não sairia melhor. A queda da presidente Dilma permitiu o timing perfeito de recuperação econômica durante uma eleição turbulenta como em 2018. No atual caminhar, devemos chegar na eleição com números positivos em praticamente todos os quesitos relevantes para o bolso do brasileiro. Olhando de hoje, o cenário político doméstico não parece capaz de produzir nada mais comprometedor do que foi a crise de maio para afetar a economia. Nem a necessária reforma da previdência e sua provável não aprovação agora parece afetar a boa trajetória que se vê.

Nessa calmaria por aqui, vale a pena revisitar o cenário internacional. Ele será essencial para manter a tranquilidade em um ano eleitoral tão conturbado. Quanto menos dificuldades vierem de fora nesse momento, maior a tendência de candidatos de centro se darem melhor na eleição. Não à toa, Bolsonaro está querendo ir para o centro, mas isso é tema para artigo posterior.

Os três maiores riscos potenciais vindos de fora para a economia brasileira parecem, por enquanto, adormecidos. Começando pelos EUA, sua economia segue robusta sem sinais claros de desaceleração. A sinalização do FED de seguir a normalização da política monetária de forma lenta ajuda a não aparecer nenhum gatilho que desmonte o forte crescimento da bolsa americana nos últimos anos. Depois de tantos anos com elevada liquidez, era natural esperar que o mercado acionário americano crescesse o que se viu. O desmonte poderia vir de um gatilho como um aperto maior dos juros, ou alguma crise exógena, no caso o presidente Trump sendo um elemento exógeno interessante a se observar nos próximos anos como fator de crise.

De qualquer maneira, a ideia de que em 2019 os EUA estarão em seu segundo maior ciclo de recuperação econômica acende um alerta amarelo sobre uma possível desaceleração. Por hora, não parece ser o caso de acontecer em 2018, mas 2019 entra no radar como risco mais elevado para uma mudança de trajetória nos EUA. Talvez um gatilho perigoso que Trump pode usar seria a troca de Janet Yellen, presidente do Fed, por alguém que queira acelerar a subida de juros, algo que Trump pedia insistentemente durante sua campanha. Fora isso, o cenário americano para 2018 parece sob controle.

Nem tocamos na questão Coréia do Norte, pois dado que o país se tornou potência nuclear a solução muito possivelmente terá que ser diplomática, com eventual solução sendo a produção de armamento nuclear na Coréia do Sul e no Japão como detente aos norte-coreanos. Não à toa, o prêmio Nobel da Paz foi para o ICAN, que patrocina a diminuição da capacidade nuclear no mundo.

A Europa, que no começo do ano parecia a caminho de uma crise política, termina o ano bem na economia e na política. As eleições foram melhores do que se esperava e mesmo que a Chanceler alemã tenha saído enfraquecida da eleição, Macron na França se torna um contraponto pró-Europa muito relevante nesse momento. No mais, crescimento estável em 2% desde 2015 e apenas a eleição italiana como risco maior nesse momento mostra uma Europa muito mais robusta do que há alguns anos.

E a China, que viu sua nota soberana rebaixada pela Moody´s e Standard & Poor´s esse ano, ainda não traz preocupação no curto prazo. Por mais que o endividamento seja crescente e baseado nas empresas estatais, a China ainda tem condições de acomodar qualquer dificuldade financeira com a manutenção do crescimento em torno de 6%. Continua sendo verdade que o pulo do gato para o país será a necessidade de ampliar a liberalização financeira para continuar crescendo.

Por mais que ainda haja espaço doméstico para crescimento, a continuidade de trajetória de expansão dependerá cada vez mais de ampliação da capacidade chinesa de aumentar sua participação em ativos no exterior. E aqui não é pelo comércio, mas sim pela capacidade de as empresas chinesas, menos flexíveis internamente, ampliarem sua participação em empresas estrangeiras. Isto já está acontecendo e pode garantir, por hora, o fortalecimento da economia chinesa com um crescimento menos dependente da economia doméstica e do comércio. De lambuja, aumenta o soft power chinês mundo afora.

Como se vê, por hora o cenário internacional colaborará para a calmaria necessária para um ano eleitoral tão tumultuado. Ao menos pode ajudar a evitar que posições estremadas ganhem corpo em 2018, facilitando a continuidade do ajuste de 2019 em

SERGIO VALE

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Se fosse combinado não sairia melhor. A queda da presidente Dilma permitiu o timing perfeito de recuperação econômica durante uma eleição turbulenta como em 2018. No atual caminhar, devemos chegar na eleição com números positivos em praticamente todos os quesitos relevantes para o bolso do brasileiro. Olhando de hoje, o cenário político doméstico não parece capaz de produzir nada mais comprometedor do que foi a crise de maio para afetar a economia. Nem a necessária reforma da previdência e sua provável não aprovação agora parece afetar a boa trajetória que se vê.

Nessa calmaria por aqui, vale a pena revisitar o cenário internacional. Ele será essencial para manter a tranquilidade em um ano eleitoral tão conturbado. Quanto menos dificuldades vierem de fora nesse momento, maior a tendência de candidatos de centro se darem melhor na eleição. Não à toa, Bolsonaro está querendo ir para o centro, mas isso é tema para artigo posterior.

Os três maiores riscos potenciais vindos de fora para a economia brasileira parecem, por enquanto, adormecidos. Começando pelos EUA, sua economia segue robusta sem sinais claros de desaceleração. A sinalização do FED de seguir a normalização da política monetária de forma lenta ajuda a não aparecer nenhum gatilho que desmonte o forte crescimento da bolsa americana nos últimos anos. Depois de tantos anos com elevada liquidez, era natural esperar que o mercado acionário americano crescesse o que se viu. O desmonte poderia vir de um gatilho como um aperto maior dos juros, ou alguma crise exógena, no caso o presidente Trump sendo um elemento exógeno interessante a se observar nos próximos anos como fator de crise.

De qualquer maneira, a ideia de que em 2019 os EUA estarão em seu segundo maior ciclo de recuperação econômica acende um alerta amarelo sobre uma possível desaceleração. Por hora, não parece ser o caso de acontecer em 2018, mas 2019 entra no radar como risco mais elevado para uma mudança de trajetória nos EUA. Talvez um gatilho perigoso que Trump pode usar seria a troca de Janet Yellen, presidente do Fed, por alguém que queira acelerar a subida de juros, algo que Trump pedia insistentemente durante sua campanha. Fora isso, o cenário americano para 2018 parece sob controle.

Nem tocamos na questão Coréia do Norte, pois dado que o país se tornou potência nuclear a solução muito possivelmente terá que ser diplomática, com eventual solução sendo a produção de armamento nuclear na Coréia do Sul e no Japão como detente aos norte-coreanos. Não à toa, o prêmio Nobel da Paz foi para o ICAN, que patrocina a diminuição da capacidade nuclear no mundo.

A Europa, que no começo do ano parecia a caminho de uma crise política, termina o ano bem na economia e na política. As eleições foram melhores do que se esperava e mesmo que a Chanceler alemã tenha saído enfraquecida da eleição, Macron na França se torna um contraponto pró-Europa muito relevante nesse momento. No mais, crescimento estável em 2% desde 2015 e apenas a eleição italiana como risco maior nesse momento mostra uma Europa muito mais robusta do que há alguns anos.

E a China, que viu sua nota soberana rebaixada pela Moody´s e Standard & Poor´s esse ano, ainda não traz preocupação no curto prazo. Por mais que o endividamento seja crescente e baseado nas empresas estatais, a China ainda tem condições de acomodar qualquer dificuldade financeira com a manutenção do crescimento em torno de 6%. Continua sendo verdade que o pulo do gato para o país será a necessidade de ampliar a liberalização financeira para continuar crescendo.

Por mais que ainda haja espaço doméstico para crescimento, a continuidade de trajetória de expansão dependerá cada vez mais de ampliação da capacidade chinesa de aumentar sua participação em ativos no exterior. E aqui não é pelo comércio, mas sim pela capacidade de as empresas chinesas, menos flexíveis internamente, ampliarem sua participação em empresas estrangeiras. Isto já está acontecendo e pode garantir, por hora, o fortalecimento da economia chinesa com um crescimento menos dependente da economia doméstica e do comércio. De lambuja, aumenta o soft power chinês mundo afora.

Como se vê, por hora o cenário internacional colaborará para a calmaria necessária para um ano eleitoral tão tumultuado. Ao menos pode ajudar a evitar que posições estremadas ganhem corpo em 2018, facilitando a continuidade do ajuste de 2019 em

SERGIO VALE
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