Aumentam os riscos de a retomada naufragar em 2019
O crescimento deste ano continuará nos próximos anos?
Publicado em 21 de março de 2018 às, 12h28.
Última atualização em 21 de março de 2018 às, 13h59.
Há certa preocupação no ar com a recuperação da economia. A cada dado divulgado parece que os analistas decretam a subida imediata ao céu ou a descida sem escala ao inferno. A última informação a decretar o fim da recuperação foi o IBC-Br (cálculo de PIB mensal feio pelo Banco Central), que levou parte da imprensa a duvidar da recuperação, sinalizar retrocesso, etc.
O número em questão apresentou queda de 0,56% na margem, o que nós economistas usamos como sinônimo da variação do dado dessazonalizado em janeiro contra dezembro. Parece forte, mas na verdade não diz muita coisa. Dezembro havia sido atipicamente forte e é normal nos dados dessazonalizados na sequência poder haver um ajuste para baixo. A série histórica de dados de atividade é repleta desses movimentos e, apenas como exemplo, podemos relembrar ano passado, quando um início de ano forte foi seguido por três meses de queda entre março e maio e a decretação do fim da recuperação para muitos (gráfico 1), inclusive com muitos analistas falando em recessão ainda para 2017 e talvez 2018. A forte recuperação na sequência levou o mercado ao paraíso novamente e a crença de que os números seriam muito fortes em 2018. Mas fazer análise em cima dessa volatilidade é infrutífero e não sinaliza se há recuperação de fato ou não.
Preferencialmente, é mais válido nesses casos analisar os dados interanuais, ou seja, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, que evita as armadilhas da volatilidade dos dados dessazonalizados. Nessa comparação, a alta em janeiro foi de 2,97%, melhor resultado desde fevereiro de 2014 e ainda melhor do que havia sido dezembro do ano passado. A leitura do gráfico 2 inverte o pessimismo do gráfico 1.
A discussão bizantina se será 3% ou 3,5% foge à verdadeira reflexão de que o crescimento este ano não será um problema. As condições estão dadas para isso. A taxa de juros passará o ano provavelmente em 6,5%, com taxas reais historicamente baixas e um esforço do Bacen e da Fazenda para diminuir a taxa de juros no crédito. Quem estava em dívida tem conseguido se reorganizar e para isso a liberação do FGTS ano passado deu certo impulso, valendo lembrar que boa parte da recuperação de consumo é de quem está empregado, mas tinha receio de consumir bens duráveis pelo medo do desemprego. Neste caso específico, o mercado de trabalho ajuda e segue em franca recuperação. O saldo de emprego formal do Caged tem sido sistematicamente positivo e a massa real de renda caminha para crescimento consistente de 4% este ano. Há riscos políticos e de cenário internacional no horizonte, mas ainda com elevado grau de incerteza em ambos os casos. Com isso, os preços de ativos em geral tendem a ter certa estabilidade, que é o que tem acontecido, por exemplo, com a taxa de câmbio.
O ponto central que temos que nos atentar não é tanto mais o crescimento deste ano, mas saber se ele terá condições de continuar nos próximos anos. A essa altura, os sinais são preocupantes. Os principais candidatos têm seguido uma linha adversa do que se espera para manter o crescimento em bases sólidas nos próximos anos. E aqui o problema não é apenas na condução da economia, mas na capacidade de articulação política. Parece que novamente temos muitos candidatos em que o casamento entre política e economia já começa enfraquecido.
Os candidatos à esquerda surgem com a reinvenção da roda, e temos aos montes neste momento. Temos desde a abolição da regra do teto até sandices sobre a taxa de câmbio, como trazê-la por mágica a 4 reais por dólar. É o velho hábito da esquerda de não trabalhar com o que já tem, mas querer refazer tudo para apagar o legado do governo anterior. Lula soube fazer isso por poucos anos antes de sucumbir à cartilha petista nas mãos do ex-ministro Mantega. A vitória de um candidato à esquerda trará imediatamente uma reação negativa da economia e voltaremos ao pântano já no final deste ano.
O candidato à direita, simbolizado aqui quase solitariamente por Bolsonaro, traz uma mensagem dúbia. Seu principal assessor é extremamente liberal, mas a visão do candidato, já externada em verso e prosa tem mais saudades do período Geisel. Vale lembrar que o motor do crescimento ali era o Estado, gênese da crise que se estendeu até os anos 90. Sua vitória poderá até animar o mercado, na crença de que Paulo Guedes conseguirá fazer algo. Mas a falta de capacidade de articulação política de Bolsonaro logo trará instabilidade novamente. Será questão de tempo para voltarmos à lama.
Assim, à esquerda a queda é imediata e à direita será um pouco mais demorada, mas virá. Dado o descontentamento da população com o chamado centro democrático, em que a população ainda não conseguiu achar um candidato para chamar de seu, veremos a chance do extremismo prosperar. É esse enorme risco que joga contra a continuidade da recuperação.
Por enquanto, 2018 está garantido, mas tem aumentado o risco de a recuperação parar este ano ou no máximo ano que vem.