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As consequências econômicas da eleição

Com o término do segundo turno das eleições, consolidou-se o cenário de desmonte da esquerda. Sem nomes viáveis para os próximos anos e com partidos pequenos e ainda desarticulados entre si, a tendência será de não vermos candidatos de esquerda competitivos nas próximas eleições. Esse novo ciclo político que se inicia terá várias consequências positivas […]

LULA: o MPF afirma que o ex-presidente tinha “controle supremo” do esquema de corrupção / Fernando Donasci/ Reuters
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Da Redação

Publicado em 1 de novembro de 2016 às 11h00.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h48.

Com o término do segundo turno das eleições, consolidou-se o cenário de desmonte da esquerda. Sem nomes viáveis para os próximos anos e com partidos pequenos e ainda desarticulados entre si, a tendência será de não vermos candidatos de esquerda competitivos nas próximas eleições. Esse novo ciclo político que se inicia terá várias consequências positivas para o país.

Pelo menos nos próximos seis anos e, caso a reeleição continue, provavelmente nos próximos dez anos, teremos um ciclo estável de políticas econômicas mais racionais. Depois dos experimentalismos equivocados desde 2006, é provável que não haja espaço para medidas heterodoxas como tivemos desde aquele ano. Mais ainda, muito do que foi possível fazer de desajuste nesse período foi porque havia espaço de bonança inédito para que isso acontecesse e que surgiu das reformas domésticas desde os anos 90 e do inédito boom mundial entre 2003 e 2008. Nenhum governo de esquerda em um período relativamente razoável de tempo terá espaço para isso: as reformas levarão anos para serem feitas e boom como aquele não deve acontecer tão cedo, se acontecer.

Ou seja, mesmo que um governo de esquerda volte terá que passar por restrições econômicas muito maiores do que se viu no período Lula. Não haverá espaço fiscal e monetário para bondades como as que foram feitas. Não havendo espaço para promessas fictícias, ficará mais difícil ganhar. Claro, isso vale para os próximos dez anos, mas não é possível elucubrar muito além disso.

A possibilidade de um longo período de reformas tende a trazer prognóstico positivo para o crescimento melhor do que o período anterior na década de 90 até 2005. Não há mais hiperinflação para combater; a questão fiscal segue com bom encaminhamento e decisões mais consistentes baseadas nos gastos e não na receita e; o sistema de meta de inflação tem sido aperfeiçoado, com tendência da própria queda da meta nos próximos anos.

Ciclos longos racionais na política econômica são benéficos para a o crescimento quando são consolidados. Hoje ainda há incerteza sobre a capacidade de o governo seguir com as reformas e receio sobre os candidatos de 2018. A eleição municipal poderá ser um elemento forte de tranquilidade para os agentes perceberem que riscos de grandes mudanças dessa trajetória estão praticamente afastados.

O que não se pode imaginar é que haverá espaço para mudanças muito amplas. Dado que haverá um novo presidente daqui dois anos, abre-se espaço para alguma discussão em torno de uma reforma trabalhista e tributária real. Entretanto, o histórico parece levar a crer que mudanças radicais são difíceis de acontecer e muito do pessimismo de alguns agentes é por acreditar que mesmo com o básico sendo feito o país estará longe de conseguir aumentar a produtividade como deveria.

E provavelmente nem vai conseguir. A cada ano que se passa os avanços em inovação demandam mais e mais agilidade não apenas do setor privado, mas também do setor público. A regra do teto será importante para isso, pois sua existência fatalmente levará o governo a ter o setor privado participando mais de áreas em que hoje não atua, com terceirização de atividades e necessidade de aumento da eficiência no funcionamento do Estado. Veja que não é abolir o Estado ou diminuir sua relevância. Essa visão maniqueísta cabe apenas à esquerda hoje. Pensar em um Estado que de fato funcione tem sido muito mais um projeto liberal do que da esquerda.

Por isso, para as empresas é quase irrelevante os prognósticos de crescimento do ano que vem. A questão está cada vez mais distante disso, pois o relevante é saber se o planejamento de longo prazo poderá ser feito sem grandes sobressaltos. Esse ajustamento ainda deve levar dois anos, pois depende também da configuração da nova eleição que, novamente, a eleição municipal prenunciou algo positivo para 2018.

A delação de Odebrecht e companhia deve, paradoxalmente, ser ainda benéfica para a economia por acelerar as reformas que ora estão em curso e passar uma imagem positiva sobre a institucionalidade do país, especialmente quando comparada com vários países asiáticos e com alguns da América Latina. Poder tirar uma presidente constitucionalmente e ver alguns executivos importantes podendo ser presos é saudável para qualquer democracia. Não quer dizer, claro, que essa própria elite política possa tentar reverter o que já foi feito, como se viu no caso italiano. Mas algo sempre positivo surge dessas renovações, no mínimo novas práticas na relação entre setor público e privado.

Com isso em mente, vale o pensamento para as empresas se elas querem esperar ou se desejam aumentar seu market share nesse início de processo. O período de forte ajuste de custos terminou e agora é aproveitar a chances de longo prazo para recomeçar o planejamento de crescimento e investimento.

SERGIO VALE

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Com o término do segundo turno das eleições, consolidou-se o cenário de desmonte da esquerda. Sem nomes viáveis para os próximos anos e com partidos pequenos e ainda desarticulados entre si, a tendência será de não vermos candidatos de esquerda competitivos nas próximas eleições. Esse novo ciclo político que se inicia terá várias consequências positivas para o país.

Pelo menos nos próximos seis anos e, caso a reeleição continue, provavelmente nos próximos dez anos, teremos um ciclo estável de políticas econômicas mais racionais. Depois dos experimentalismos equivocados desde 2006, é provável que não haja espaço para medidas heterodoxas como tivemos desde aquele ano. Mais ainda, muito do que foi possível fazer de desajuste nesse período foi porque havia espaço de bonança inédito para que isso acontecesse e que surgiu das reformas domésticas desde os anos 90 e do inédito boom mundial entre 2003 e 2008. Nenhum governo de esquerda em um período relativamente razoável de tempo terá espaço para isso: as reformas levarão anos para serem feitas e boom como aquele não deve acontecer tão cedo, se acontecer.

Ou seja, mesmo que um governo de esquerda volte terá que passar por restrições econômicas muito maiores do que se viu no período Lula. Não haverá espaço fiscal e monetário para bondades como as que foram feitas. Não havendo espaço para promessas fictícias, ficará mais difícil ganhar. Claro, isso vale para os próximos dez anos, mas não é possível elucubrar muito além disso.

A possibilidade de um longo período de reformas tende a trazer prognóstico positivo para o crescimento melhor do que o período anterior na década de 90 até 2005. Não há mais hiperinflação para combater; a questão fiscal segue com bom encaminhamento e decisões mais consistentes baseadas nos gastos e não na receita e; o sistema de meta de inflação tem sido aperfeiçoado, com tendência da própria queda da meta nos próximos anos.

Ciclos longos racionais na política econômica são benéficos para a o crescimento quando são consolidados. Hoje ainda há incerteza sobre a capacidade de o governo seguir com as reformas e receio sobre os candidatos de 2018. A eleição municipal poderá ser um elemento forte de tranquilidade para os agentes perceberem que riscos de grandes mudanças dessa trajetória estão praticamente afastados.

O que não se pode imaginar é que haverá espaço para mudanças muito amplas. Dado que haverá um novo presidente daqui dois anos, abre-se espaço para alguma discussão em torno de uma reforma trabalhista e tributária real. Entretanto, o histórico parece levar a crer que mudanças radicais são difíceis de acontecer e muito do pessimismo de alguns agentes é por acreditar que mesmo com o básico sendo feito o país estará longe de conseguir aumentar a produtividade como deveria.

E provavelmente nem vai conseguir. A cada ano que se passa os avanços em inovação demandam mais e mais agilidade não apenas do setor privado, mas também do setor público. A regra do teto será importante para isso, pois sua existência fatalmente levará o governo a ter o setor privado participando mais de áreas em que hoje não atua, com terceirização de atividades e necessidade de aumento da eficiência no funcionamento do Estado. Veja que não é abolir o Estado ou diminuir sua relevância. Essa visão maniqueísta cabe apenas à esquerda hoje. Pensar em um Estado que de fato funcione tem sido muito mais um projeto liberal do que da esquerda.

Por isso, para as empresas é quase irrelevante os prognósticos de crescimento do ano que vem. A questão está cada vez mais distante disso, pois o relevante é saber se o planejamento de longo prazo poderá ser feito sem grandes sobressaltos. Esse ajustamento ainda deve levar dois anos, pois depende também da configuração da nova eleição que, novamente, a eleição municipal prenunciou algo positivo para 2018.

A delação de Odebrecht e companhia deve, paradoxalmente, ser ainda benéfica para a economia por acelerar as reformas que ora estão em curso e passar uma imagem positiva sobre a institucionalidade do país, especialmente quando comparada com vários países asiáticos e com alguns da América Latina. Poder tirar uma presidente constitucionalmente e ver alguns executivos importantes podendo ser presos é saudável para qualquer democracia. Não quer dizer, claro, que essa própria elite política possa tentar reverter o que já foi feito, como se viu no caso italiano. Mas algo sempre positivo surge dessas renovações, no mínimo novas práticas na relação entre setor público e privado.

Com isso em mente, vale o pensamento para as empresas se elas querem esperar ou se desejam aumentar seu market share nesse início de processo. O período de forte ajuste de custos terminou e agora é aproveitar a chances de longo prazo para recomeçar o planejamento de crescimento e investimento.

SERGIO VALE

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