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A pauta econômica poderá eleger Haddad presidente

O ultraliberalismo frágil de Bolsonaro não me parece caber no Brasil, muito menos em Brasília

HADDAD NO DEBATE DESTA QUARTA-FEIRA: sua pauta é velha e ruim do ponto de vista econômico, mas para a sociedade ela continua sendo atrativa / REUTERS/Nacho Doce
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Da Redação

Publicado em 27 de setembro de 2018 às 12h53.

Faltando pouco mais de uma semana para as eleições, melhor se conformar com o possível resultado do dia sete de outubro. A população escolheu ir para os extremos. Após anos de um governo petista que caminhou para extremos à esquerda parte da população tem se sentido atraída pelo discurso exatamente oposto. Bolsonaro é essa visão do anti-petismo de boa parte da sociedade, que ainda não parou muito para pensar o que pode significar seu governo nos próximos anos. Isso ficará mais claro ao longo do segundo turno, que é uma outra eleição e em que programas de governo e ataques mútuos se tornam mais explícitos.

Nesse cenário de guerra, Haddad parece sair na dianteira. E a grande razão é que o ultraliberalismo frágil de Bolsonaro não me parece caber no Brasil, muito menos em Brasília. O mote de que precisamos de mais Brasil e menos Brasília soa bem, mas creio que o brasileiro no fundo prefere o inverso.

Um exemplo do ponto nevrálgico dessa disputa se dará em torno da reforma da previdência. Essa não é uma reforma que ganha voto e Bolsonaro será emparedado o segundo turno inteiro sobre a proposta mais recente de seu economista, Paulo Guedes, de aprovar a reforma atual que está no Congresso. Para o PT juntar Temer e Bolsonaro em uma frase será um pulo.

Vale a questão aqui se essa sociedade que tem sido tão refratária a essa reforma votará em um candidato que a propõe francamente. Mais ainda, estaria a sociedade como um todo preparada para se desfazer de Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal? Para os seguidores fiéis de Bolsonaro, sim, mas para o eleitor mediano brasileiro isso trará voto ou não? Para uma sociedade que desde Getúlio Vargas se firmou pesadamente na dependência do Estado dizer que isso será diferente a partir de agora soa como algo positivo?

As respostas para essas dúvidas estão nas mãos das mais de 120 milhões de pessoas que, de alguma forma, dependem do Estado para seus proventos. Especialmente nos últimos anos isso se aprofundou com famílias que passaram a depender, por exemplo, da aposentadoria de avós para sustentar a casa. Esse brasileiro que olha para fora e quer ver menos Estado, olha para dentro e vê o dilema de que ele gosta desse Estado que lhe ampara. Será que ele votará contra isso e a favor de uma pauta semelhante a que Temer tem apoiado desde 2016?

A pauta econômica, paradoxalmente assim, pode favorecer a Haddad. Ela é velha e ruim do ponto de vista econômico, mas da sociedade ela continua sendo atrativa. Uma propaganda bem feita, o que o PT sabe fazer como ninguém, pode fazer acontecer novamente o que vimos em 2006.

Naquela eleição, Lula ganhou no primeiro turno apenas de 7 pontos percentuais de Alckmin, mas este mudou o discurso no segundo turno, fugindo de pautas ariscas e que Lula sobre aproveitar com exatidão. Alckmin virou o candidato que entregaria nossas riquezas para o setor privado, leia-se Petrobrás e bancos públicos. Acabou com votação menor no segundo turno do que no primeiro.

Obviamente, há quilômetros de distância entre o poder de convencimento de Lula e Haddad, mas uma estratégia bem montada que apele pelos instintos econômicos estatizantes do brasileiro pode ajudar a afugentar os eleitores do Bolsonaro. Questão semelhante aconteceu entre Marina e Dilma em 2014, em que o medo foi incutido nos eleitores daquela pelo seu perfil mais liberal.

O que ajuda na retórica e na narrativa de Haddad é a ojeriza natural que parte da sociedade tem contra Bolsonaro. As mulheres especialmente, como tem sido em várias eleições, serão o elemento central que pode afundar ainda mais o candidato da direita. Mal ou bem, o PT consegue colocar propostas sociais que fazem sentido para a população. Até agora, o que saiu de Bolsonaro foram propostas que não surtem efeito, como escolas militares em cada Estado.

Vejam que o que digo aqui não é sobre o que cada um de fato vai fazer, mas como e o que cada um venderá na disputa de segundo turno. O PT é escolado nisso e sabe como fazer. Bolsonaro é novo e essa falta de experiência poderá lhe ser fatal durante a caminhada.

Termino com um ponto relevante nesses tempos de gritaria de ambos os lados: não defendo aqui nem um nem outro candidato. A tentativa foi apenas de fazer uma avaliação, à luz do que vivenciamos na história brasileira, como o brasileiro pode ver os candidatos no segundo turno. E felizmente para um lado e infelizmente para o outro, Haddad parece ter mais chances de sair vencedor dessa contenda.

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Faltando pouco mais de uma semana para as eleições, melhor se conformar com o possível resultado do dia sete de outubro. A população escolheu ir para os extremos. Após anos de um governo petista que caminhou para extremos à esquerda parte da população tem se sentido atraída pelo discurso exatamente oposto. Bolsonaro é essa visão do anti-petismo de boa parte da sociedade, que ainda não parou muito para pensar o que pode significar seu governo nos próximos anos. Isso ficará mais claro ao longo do segundo turno, que é uma outra eleição e em que programas de governo e ataques mútuos se tornam mais explícitos.

Nesse cenário de guerra, Haddad parece sair na dianteira. E a grande razão é que o ultraliberalismo frágil de Bolsonaro não me parece caber no Brasil, muito menos em Brasília. O mote de que precisamos de mais Brasil e menos Brasília soa bem, mas creio que o brasileiro no fundo prefere o inverso.

Um exemplo do ponto nevrálgico dessa disputa se dará em torno da reforma da previdência. Essa não é uma reforma que ganha voto e Bolsonaro será emparedado o segundo turno inteiro sobre a proposta mais recente de seu economista, Paulo Guedes, de aprovar a reforma atual que está no Congresso. Para o PT juntar Temer e Bolsonaro em uma frase será um pulo.

Vale a questão aqui se essa sociedade que tem sido tão refratária a essa reforma votará em um candidato que a propõe francamente. Mais ainda, estaria a sociedade como um todo preparada para se desfazer de Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal? Para os seguidores fiéis de Bolsonaro, sim, mas para o eleitor mediano brasileiro isso trará voto ou não? Para uma sociedade que desde Getúlio Vargas se firmou pesadamente na dependência do Estado dizer que isso será diferente a partir de agora soa como algo positivo?

As respostas para essas dúvidas estão nas mãos das mais de 120 milhões de pessoas que, de alguma forma, dependem do Estado para seus proventos. Especialmente nos últimos anos isso se aprofundou com famílias que passaram a depender, por exemplo, da aposentadoria de avós para sustentar a casa. Esse brasileiro que olha para fora e quer ver menos Estado, olha para dentro e vê o dilema de que ele gosta desse Estado que lhe ampara. Será que ele votará contra isso e a favor de uma pauta semelhante a que Temer tem apoiado desde 2016?

A pauta econômica, paradoxalmente assim, pode favorecer a Haddad. Ela é velha e ruim do ponto de vista econômico, mas da sociedade ela continua sendo atrativa. Uma propaganda bem feita, o que o PT sabe fazer como ninguém, pode fazer acontecer novamente o que vimos em 2006.

Naquela eleição, Lula ganhou no primeiro turno apenas de 7 pontos percentuais de Alckmin, mas este mudou o discurso no segundo turno, fugindo de pautas ariscas e que Lula sobre aproveitar com exatidão. Alckmin virou o candidato que entregaria nossas riquezas para o setor privado, leia-se Petrobrás e bancos públicos. Acabou com votação menor no segundo turno do que no primeiro.

Obviamente, há quilômetros de distância entre o poder de convencimento de Lula e Haddad, mas uma estratégia bem montada que apele pelos instintos econômicos estatizantes do brasileiro pode ajudar a afugentar os eleitores do Bolsonaro. Questão semelhante aconteceu entre Marina e Dilma em 2014, em que o medo foi incutido nos eleitores daquela pelo seu perfil mais liberal.

O que ajuda na retórica e na narrativa de Haddad é a ojeriza natural que parte da sociedade tem contra Bolsonaro. As mulheres especialmente, como tem sido em várias eleições, serão o elemento central que pode afundar ainda mais o candidato da direita. Mal ou bem, o PT consegue colocar propostas sociais que fazem sentido para a população. Até agora, o que saiu de Bolsonaro foram propostas que não surtem efeito, como escolas militares em cada Estado.

Vejam que o que digo aqui não é sobre o que cada um de fato vai fazer, mas como e o que cada um venderá na disputa de segundo turno. O PT é escolado nisso e sabe como fazer. Bolsonaro é novo e essa falta de experiência poderá lhe ser fatal durante a caminhada.

Termino com um ponto relevante nesses tempos de gritaria de ambos os lados: não defendo aqui nem um nem outro candidato. A tentativa foi apenas de fazer uma avaliação, à luz do que vivenciamos na história brasileira, como o brasileiro pode ver os candidatos no segundo turno. E felizmente para um lado e infelizmente para o outro, Haddad parece ter mais chances de sair vencedor dessa contenda.

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