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A eleição de Lula seria um desastre para o país

As últimas pesquisas eleitorais sinalizam que 2018 será umas das eleições presidenciais menos polarizadas dos últimos anos. Diversos candidatos, de diferentes matizes têm sido testados nas enquetes, mas com um candidato começando a se destacar: Lula. Como seria de se esperar, o ex-presidente mantém a conta de seguidores fiéis em patamar semelhante que tinha antes […]

LULA: o processo para que sua volte não se dê começa este ano com a reforma da previdência / Agência Brasil (./Agência Brasil)
LULA: o processo para que sua volte não se dê começa este ano com a reforma da previdência / Agência Brasil (./Agência Brasil)
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Sérgio Vale

Publicado em 7 de março de 2017 às, 12h06.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h26.

As últimas pesquisas eleitorais sinalizam que 2018 será umas das eleições presidenciais menos polarizadas dos últimos anos. Diversos candidatos, de diferentes matizes têm sido testados nas enquetes, mas com um candidato começando a se destacar: Lula.

Como seria de se esperar, o ex-presidente mantém a conta de seguidores fiéis em patamar semelhante que tinha antes de virar presidente. Nas três eleições que perdeu antes de 2002 seus números de partida ficavam sempre entre 20% e 30%. Em tese, dá para dizer que ele perdeu cerca de metade de seu eleitorado que teria caso os escândalos recentes não tivessem aparecido.

Resta saber se o Lula de 2018 será semelhante ao Lula de 2002. Samuel Pessoa, em artigo na Folha de São Paulo, apontou que um dos principais economistas do partido, Nelson Barbosa, tem pregado ajustes ortodoxos na economia. Sem dúvida a questão reside em saber que Lula sairia de uma vitória. Seria Barbosa um novo Pallocci ou não?

Mas a questão vai além disso. Será que há qualquer espaço para que Barbosa surja como fiel seguidor de políticas ortodoxas em 2019? Caso o desejasse, muito provavelmente estaria sozinho. Seria o Joaquim Levy da Dilma, isolado, sem termos a convicção das boas práticas que tínhamos com Levy. Não bastam aqui as boas intenções de Barbosa, pois como vemos muito claramente hoje, Meirelles não seria o que tem sido se não tivesse a brilhante equipe que montou. Muitos dos egressos dos governos Lula 2 e Dilma voltariam, o que coloca sérias dúvidas na capacidade de manutenção do que está sendo feito agora. Em outras palavras, a boa vontade de Barbosa teria tempo curto para acabar.

Além disso, se Lula ganhar será na base de desmontar tudo que está aí. Quando ele ganhou em 2002, foi o contrário. Só aconteceu porque a Carta ao Povo Brasileiro permitiu crer que ele seguiria as políticas econômicas de FHC, como de fato o fez. A ideia de estelionato eleitoral voltaria novamente caso ele se elegesse com um discurso de esquerda e tivesse que se voltar a práticas ortodoxas de saída.

E a questão remanescente dessa hipótese é se haveria espaço para a concretização de uma política heterodoxa. Com apenas dois anos de ajuste na economia, um desarranjo na área fiscal permitiria rapidamente voltarmos ao cenário Dilma 2015, em que o processo inflacionário sinalizava entrar em descontrole.

Assim, qualquer que seja o cenário, ortodoxo ou não, a eleição de Lula seria desastrosa para o país, pois não teria condições de repetir o cenário de 2002. Não haverá equipe política para fazer o trabalho de base que foi feito naquela época. Com seu entorno todo envolvido na Lava Jato, sua capacidade de articulação política seria muito baixa. Sem falar que, certamente, os partidos de esquerda terão resultados constrangedores em 2018. Uma coisa é Lula e sua imagem, outra, a devastação que PT e companhia deve ter ano que vem como se viu nas eleições municipais de 2016. Lula entraria com uma base de apoio pequena e precisaria negociar muito mais. Negociar, como sabemos, significa aumentar o gasto público.

Entretanto, o cenário 2019, no caso de vitória Lula, seria de inflação mais elevada do que a de 2018. Isso significaria uma queda real do gasto público pela regra do teto. Não haveria espaço fiscal para coordenação política com uma base enfraquecida. O circo estaria armado para desmontar a regra do teto. Ao invés de um começo auspicioso como 2003, 2019 iniciaria com uma debacle da área fiscal.

Supondo ainda que passe por todos esses percalços, Lula teria que ganhar baseado em um discurso contrário a Java jato. Por mais que atraia o apoio da esquerda, ir contra Moro e companhia seria um tiro no pé com boa parte da classe média brasileira.

Por tudo isso, difícil imaginar que Lula consiga alçar voo. Se isso acontecer, será pressionado a refazer a Carta ao Povo Brasileiro para ter chances efetivas, o que o colocará em desavença com sua base de apoio.

Mas quando se fala de Brasil, tudo é possível, e uma vitória de Lula a depender de quem fosse seu concorrente não pode ser inteiramente descartada, apesar de ter uma probabilidade muito baixa. Se acontecer, o país precisa estar preparado para um novo retrocesso na economia. O processo para que sua volte não se dê começa este ano com a reforma da previdência. Sua aprovação reforçaria a volta do crescimento acelerado em 2018, ajudando a eleição de alguém com visão racional na economia. Valeria para a população que o que foi feito funcionou e não haveria porque ser mexido.

De qualquer maneira, depois de um 2017 com emoções amenas, voltaremos ano que vem com a carga de adrenalina que se viu em 2014 e 2015 na política.

SERGIO VALE
SERGIO VALE