A chegada de uma liderança mínima
Em um sistema político superfragmentado como o brasileiro não há espaço para lideranças muito fracas. Coalizões de 20 ou mais partidos pedem um presidente minimamente conciliador para abarcar vontades e interesses geralmente muito dispersos. FHC sabia fazer isso. Lula não soube fazer isso, tentou fazer a contragosto depois do mensalão, mas o DNA centralizador do […]
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2016 às 12h18.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h37.
Em um sistema político superfragmentado como o brasileiro não há espaço para lideranças muito fracas. Coalizões de 20 ou mais partidos pedem um presidente minimamente conciliador para abarcar vontades e interesses geralmente muito dispersos. FHC sabia fazer isso. Lula não soube fazer isso, tentou fazer a contragosto depois do mensalão, mas o DNA centralizador do PT acabou isolando o partido do resto do Congresso. Mas sua liderança individual e carisma compensavam isso. Entretanto, ao juntar uma presidente com dificuldades de coordenação política, como a Dilma, com a sanha isolacionista do petismo, exacerbada com a saída de Lula, a catástrofe estava montada. E assim chegamos aonde estamos.
Reconduzir esse estado de caos político à normalidade não será simples, e talvez não seja o foco do novo governo que se forma. Mesmo assim, Temer pode englobar um quê de FHC nesse processo que pode levar a uma fase de transição eventualmente mais suave, mesmo sem a reforma política. Para isso acontecer, será essencial que o futuro presidente tenha duas características: compartilhe, de fato, poder com sua base aliada e fortaleça o pendor conciliador que parece ser uma de suas características.
Por ora, parece que esses dois pontos alienados do cenário político pela ainda presidente Dilma deverão retomar o espaço perdido com o novo governo que se avizinha. Pode parecer pouco, mas essa interlocução com o Congresso será mais do que necessária para ajudar na confiança que um novo poder sempre traz. Temer não parece ter a liderança natural de FHC e Lula, mas tem o conhecimento necessário do Legislativo para fazer com ele uma parceria verdadeira de trabalho, algo que, pela ausência, foi fatal ao governo que se encerra.
Se juntarmos a isso a formação de uma forte equipe econômica e social, que parece que será o caso, está montado um início promissor de governo. É verdade que os partidos de esquerda como oposição continuarão a fazer o barulho de sempre, mas a possibilidade de um ajuste positivo pode levar a economia a uma trajetória razoável a partir de agora. Não se pode esquecer nunca que o atual governo entregou a pior recessão da história, com um PIB per capita que tende a acumular queda de cerca de 12% em três anos, algo inimaginável para tempos de paz.
Crescer em cima de tal base destruída não é difícil. O exemplo do período Collor é bastante ilustrativo disso. Durante os seis meses de crise mais profunda, começando pela capa da revista Veja com a entrevista de Pedro Collor entregando o irmão e terminando com a autorização do impeachment pela Câmara, foram-se seis meses de quedas fortes na produção industrial de bens de consumo, uma média de 11% a cada mês na comparação com igual mês do ano anterior. Mas entre novembro de 1992 e dezembro de 1993 a média mensal de expansão da indústria de bens de consumo foi de 10,7%. E isso sem nenhuma grande mudança de política econômica. Afinal, nos primeiros sete meses foram três ministros da Fazenda diferentes até a escolha de FHC. Apenas a retomada da confiança começou a garantir a melhora na economia, sem nenhum ministério de notáveis sendo formado e com o PT, obviamente, sendo oposição.
O que se coloca aqui, para evitar euforia desnecessária, não é que a indústria voltará a crescer a esses índices, mas que algo minimamente novo, mesmo que incerto, tem alta capacidade de impacto positivo nas expectativas. Isso não significa, entretanto, que as decisões serão apenas de fachada. A nova equipe precisará ser dura o suficiente para conseguir imprimir um ritmo de ajuste e de credibilidade que faça com que se chegue a 2018 com novas bases de crescimento.
No meu artigo anterior já dizia que não há muita mágica, a não ser voltar ao arroz com feijão de economia já conhecido, tanto na micro quanto na macroeconomia. Não é preciso uma liderança excepcional para que esse trivial fino seja montado. Apenas se pede uma liderança, algo inexistente nos últimos cinco anos. Por isso, há razões para certo otimismo. Pede-se, também, que o PMDB consiga ser um formulador de políticas, o que nunca foi seu forte. O protagonismo pede mais profissionalismo e menos fisiologismo e esse será o grande teste do partido ao longo deste ano.
Em um sistema político superfragmentado como o brasileiro não há espaço para lideranças muito fracas. Coalizões de 20 ou mais partidos pedem um presidente minimamente conciliador para abarcar vontades e interesses geralmente muito dispersos. FHC sabia fazer isso. Lula não soube fazer isso, tentou fazer a contragosto depois do mensalão, mas o DNA centralizador do PT acabou isolando o partido do resto do Congresso. Mas sua liderança individual e carisma compensavam isso. Entretanto, ao juntar uma presidente com dificuldades de coordenação política, como a Dilma, com a sanha isolacionista do petismo, exacerbada com a saída de Lula, a catástrofe estava montada. E assim chegamos aonde estamos.
Reconduzir esse estado de caos político à normalidade não será simples, e talvez não seja o foco do novo governo que se forma. Mesmo assim, Temer pode englobar um quê de FHC nesse processo que pode levar a uma fase de transição eventualmente mais suave, mesmo sem a reforma política. Para isso acontecer, será essencial que o futuro presidente tenha duas características: compartilhe, de fato, poder com sua base aliada e fortaleça o pendor conciliador que parece ser uma de suas características.
Por ora, parece que esses dois pontos alienados do cenário político pela ainda presidente Dilma deverão retomar o espaço perdido com o novo governo que se avizinha. Pode parecer pouco, mas essa interlocução com o Congresso será mais do que necessária para ajudar na confiança que um novo poder sempre traz. Temer não parece ter a liderança natural de FHC e Lula, mas tem o conhecimento necessário do Legislativo para fazer com ele uma parceria verdadeira de trabalho, algo que, pela ausência, foi fatal ao governo que se encerra.
Se juntarmos a isso a formação de uma forte equipe econômica e social, que parece que será o caso, está montado um início promissor de governo. É verdade que os partidos de esquerda como oposição continuarão a fazer o barulho de sempre, mas a possibilidade de um ajuste positivo pode levar a economia a uma trajetória razoável a partir de agora. Não se pode esquecer nunca que o atual governo entregou a pior recessão da história, com um PIB per capita que tende a acumular queda de cerca de 12% em três anos, algo inimaginável para tempos de paz.
Crescer em cima de tal base destruída não é difícil. O exemplo do período Collor é bastante ilustrativo disso. Durante os seis meses de crise mais profunda, começando pela capa da revista Veja com a entrevista de Pedro Collor entregando o irmão e terminando com a autorização do impeachment pela Câmara, foram-se seis meses de quedas fortes na produção industrial de bens de consumo, uma média de 11% a cada mês na comparação com igual mês do ano anterior. Mas entre novembro de 1992 e dezembro de 1993 a média mensal de expansão da indústria de bens de consumo foi de 10,7%. E isso sem nenhuma grande mudança de política econômica. Afinal, nos primeiros sete meses foram três ministros da Fazenda diferentes até a escolha de FHC. Apenas a retomada da confiança começou a garantir a melhora na economia, sem nenhum ministério de notáveis sendo formado e com o PT, obviamente, sendo oposição.
O que se coloca aqui, para evitar euforia desnecessária, não é que a indústria voltará a crescer a esses índices, mas que algo minimamente novo, mesmo que incerto, tem alta capacidade de impacto positivo nas expectativas. Isso não significa, entretanto, que as decisões serão apenas de fachada. A nova equipe precisará ser dura o suficiente para conseguir imprimir um ritmo de ajuste e de credibilidade que faça com que se chegue a 2018 com novas bases de crescimento.
No meu artigo anterior já dizia que não há muita mágica, a não ser voltar ao arroz com feijão de economia já conhecido, tanto na micro quanto na macroeconomia. Não é preciso uma liderança excepcional para que esse trivial fino seja montado. Apenas se pede uma liderança, algo inexistente nos últimos cinco anos. Por isso, há razões para certo otimismo. Pede-se, também, que o PMDB consiga ser um formulador de políticas, o que nunca foi seu forte. O protagonismo pede mais profissionalismo e menos fisiologismo e esse será o grande teste do partido ao longo deste ano.