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De Witzel a FHC, os vencedores e perdedores da corrida eleitoral

Bolsonaro e Doria de um lado; Marina e PSDB de outro. Ineficiência e corrupção foram os principais motivadores de voto em 2018

JOÃO DORIA: dizimou caciques paulistas do partido e forçou a barra para ser o candidato / REUTERS/ Adriano Machado (Adriano Machado/Reuters)
JOÃO DORIA: dizimou caciques paulistas do partido e forçou a barra para ser o candidato / REUTERS/ Adriano Machado (Adriano Machado/Reuters)
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Sérgio Praça

Publicado em 29 de outubro de 2018 às, 13h23.

Última atualização em 29 de outubro de 2018 às, 14h53.

Que eleição, hein?! Nunca houve uma eleição nacional com tantos ganhadores e perdedores. Depois das manifestações de junho de 2013 e da Operação Lava Jato, esta foi a primeira vez que os brasileiros puderam expressar seus sentimentos de modo amplo. Romero Jucá (MDB), um dos líderes do establishment, perdeu sua vaga no Senado por menos de 500 votos em Roraima. Este é o principal símbolo da eleição. Jucá caiu não apenas por seu envolvimento em corrupção, mas também porque o governo falhou em lidar com a migração de venezuelanos para seu estado. Ineficiência e corrupção são ótimos motivos para querer mudar tudo. Não foi exatamente o que aconteceu, mas o abalo ao sistema político foi real.

Vencedores

* PSL e a família Bolsonaro. O Partido Social Liberal (PSL) elegeu a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados: 52 parlamentares. Eduardo Bolsonaro (PSL), um dos filhos de Jair, será um interlocutor relevante dos deputados com o presidente. Flávio Bolsonaro (PSL) pode ajudar o pai na articulação com senadores. O partido é (ainda) desorganizado e sem identidade exceto a de “partido do bolsonarismo”. Mas pode ser a maior bancada após a próxima janela de migração partidária. Poderá indicar parlamentares para chefiar comissões importantes, por conta do critério de proporcionalidade partidária que está no Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Tem tudo para aumentar o número de prefeitos em 2020 e se consolidar como partido do governo.

* João Dória. O governador interino Márcio França perdeu a disputadíssima eleição contra João Dória (PSDB), o prefeito que ficou apenas 15 meses no cargo em São Paulo. Dória dizimou caciques paulistas do partido e forçou a barra para ser o candidato. Não foi bem nos debates. Mostrou não compreender o eleitorado ao usar Bolsonaro em sua campanha, mesmo sem o presidente definir seu apoio. Ainda assim, garantiu o controle do estado pelo partido por mais quatro anos. O PSDB não perde em São Paulo desde 1994.

* Romeu Zema e o Partido Novo. O desconhecido Zema obteve vitória substantiva para o governo de Minas Gerais contra Antonio Anastasia, senador do PSDB que relatou o processo do impeachment de Dilma Rousseff (PT). É um acontecimento imenso. Essas são as primeiras eleições disputadas pelo partido. Minas Gerais é o segundo estado mais populoso do Brasil e o primeiro em número de municípios. Tarefa grande para o partido. Caso a gestão não seja desastrosa, 2020 será um grande ano.

* Wilson Witzel (PSC) e a Lava Jato. Um ex-juiz federal será, a partir de 1º de janeiro de 2019, governador do Rio de Janeiro. Quando a Operação Mãos Limpas começou a dar água na Itália, o principal procurador-juiz (lá era um cargo só) do caso se tornou político. Não teve sucesso. Wilson Witzel seguiu o raciocínio. Apesar de não ter sido juiz da Lava Jato, o candidato do PSC mencionou a amizade com Marcelo Bretas, juiz que mandou Sérgio Cabral (PMDB) para a cadeia. Também se aliou a Flávio Bolsonaro. A estratégia deu certo. Resta saber os efeitos de suas propostas polêmicas – e agressivas – para a segurança pública.

Perdedores

* FHC e PSDB. No início do ano, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) era entusiasta da candidatura de Luciano Huck. Não rolou. Depois hesitou a apoiar Geraldo Alckmin (PSDB), candidato de seu partido. Fez isso de modo muito pouco espontâneo e sincero. Pareceu mesquinho e vaidoso. Seu partido perdeu 25 vagas na Câmara dos Deputados: 54 em 2014, 29 agora. É a nona maior bancada. Até o PRB elegeu mais (30). O partido provavelmente se aliará a Jair Bolsonaro – e, de socialdemocrata, não tem mais nada.

* Marina Silva. Acabou a carreira política da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva (Rede). Começou a campanha com cerca de 15% das intenções de voto. Início bastante promissor, considerando que o PT não havia definido candidatura e Ciro Gomes (PDT) não tinha prometido quitar as dívidas dos negativados. O centro que Marina ocupava ficou desocupado com seu silêncio. Faltou dinheiro. Faltou tempo no horário eleitoral. Faltou, na verdade, ter o que dizer. Por que ela quer tanto ser presidente? Três eleições depois, não sabemos. Sua votação, menor que a do Cabo Daciolo (Patriota), mostra que o eleitor nem quer mais saber.