Romero Jucá e o novo MDB
É comum que, em momentos de grave crise, partidos políticos troquem de nome. Foi o que fez o PMDB nesta terça-feira, ao tirar o P de sua legenda
Publicado em 19 de dezembro de 2017 às, 17h09.
É comum que, em momentos de grave crise, partidos políticos troquem de nome. O Partido da Frente Liberal (PFL) tornou-se Democratas (DEM) dez anos atrás por sugestão do cientista político Antonio Lavareda. Qual era a crise? A falta de acesso a recursos estatais desde o fim de 2001, quando o PFL rompeu com o governo de Fernando Henrique Cardoso. Ficar seis anos sem tantas emendas orçamentárias e cargos de confiança desidratou o partido. Mas pior ainda foi a mudança de nome. O DEM nunca chegou aos pés do PFL em termos de deputados federais. A volta ao governo, no entanto, fez bem. Em março de 2016, pouco antes do impeachment de Dilma Rousseff, a bancada do DEM era composta por 21 deputados. Hoje são 30, com perspectiva de aumentar até março.
Na convenção partidária que realiza nesta terça-feira, o PMDB fará movimento semelhante. Retorna à sigla MDB, imposta pela ditadura militar em 1965.
Trata-se de tentar limpar a barra do mais que corrupto PMDB. A estratégia provavelmente não dará certo. Romero Jucá, o presidente do partido, é o artífice da mudança. Filiou-se ao MDB em 1979 e, no ano seguinte, o partido virou PMDB. Diz que no PMDB não há espaço para traição, mas pertenceu também ao PDS (1990-1993), PPR (1993) e PSDB (1995-2002). Voltou ao partido de origem em 2003, no início do governo Lula. Em seu discurso na convenção nesta manhã, citou o Bolsa Família como conquista parcial do PMDB. O partido teria ajudado a construir um sistema de proteção social para o país e, quando “chamado” à tarefa de assumir o governo após o impeachment de Dilma, foi o principal responsável pela queda da inflação e do desemprego. Não são afirmações descabidas, mas o senador de Roraima esqueceu-se da pior contribuição do partido ao país: a corrupção sob instituições democráticas.
Em 1988, enquanto Ulysses Guimaraes (também presidente do PMDB) posava – com justiça – de dono da “Constituição Cidadã”, o deputado federal Genebaldo Correia (PMDB) ocupava a relatoria setorial do Ministério de Habitação e Bem-Estar Social na lei orçamentária a ser implementada no ano seguinte. Genebaldo era um dos “anões do orçamento” que comandava esquema desvendado no fim de 1993. Renunciou em março de 1994 para não ser cassado. Essa é a tônica, desde então, do PMDB: organizar crimes e tentar se livrar deles através de estratégias tipo “dois-passos-para-trás-e-um-para-frente” ou pela lentidão da Justiça. Menos sorte deram Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves e Sérgio Cabral, para citar apenas quatro dos mais notórios peemedebistas atualmente presos.
Nem sempre o partido foi assim. Em 1982, o diretório pernambucano do PMDB denunciou ao Ministério Público um crime eleitoral de Gustavo Krause, então candidato a vice-governador pelo PDS. Krause entregou, em um comício, 350.000 cruzeiros em dinheiro vivo ao presidente da associação de moradores do bairro Engenho do Meio, em Recife. Afirmou: “Não somos como a oposição, que vem de mãos vazias”. O plural da frase não era majestático. Referia-se ao diretor da Cohab de Pernambuco, Romero Jucá, filiado ao PMDB. A denúncia foi fogo amigo e não deu em nada. Quatro anos depois, Krause elegeu-se governador. Jucá, 35 anos depois, em seu íntimo talvez queira a mudança de nome porque o PMDB, em sua infância, não era uma organização criminosa.