“Risco Brasil” e retórica presidencial em 2018
Duas coisas que podem diminuir as más consequências de um mercado ansioso: candidatos claros na retórica de campanha e um nível alto de reservas em dólares
Publicado em 24 de maio de 2018 às, 11h56.
Teremos uma campanha política curtíssima neste ano. Entre o fim das convenções partidárias para escolha dos candidatos em 5 de agosto e o primeiro turno em 7 de outubro, serão pouco mais de dois meses para os candidatos apresentarem suas propostas. O horário eleitoral gratuito começa em 31 de agosto e termina em 4 de outubro. Serão 35 dias. Em 2014, foram 45. Quem está apostando demais no início formal da campanha para subir nas pesquisas pode quebrar a cara. Mais incerteza política deverá resultar desse calendário.
É provável que Bolsonaro, Ciro, Marina e Alckmin continuem concentrando a maior parte das intenções de voto. Será que até meados de agosto suas propostas econômicas estarão mais claras? Improvável. Os agentes econômicos terão, portanto, que interpretar a retórica incerta dos protagonistas até a abertura das urnas. E isso terá efeitos tangíveis para a economia brasileira, como a alta do dólar e o aumento da percepção de risco para investir no país.
A análise de Anthony Peter Spanakos e Lucio Rennó sobre eleições na América Latina entre 1994 e 2007 detalha os mecanismos através dos quais as eleições para presidente influenciam o risco político percebido por investidores. Inicialmente, a teoria de que mudanças ideológicas causam o aumento do risco parece explicar bastante. Afinal, mudar de Rafael Caldera, um centrista, para Hugo Chávez em 1998 foi uma guinada ideológica significativa. O risco de investir na Venezuela aumentou na medida em que o chavismo se aproximava do comando da presidência. Seguindo o mesmo raciocínio, mudar de Eduardo Duhalde para Nestor Kirchner na Argentina em 2003 deveria ter deixado os investidores na mesma situação: ambos são esquerdistas.
O nervosismo dos investidores foi alto, na ocasião, por conta da incerteza a respeito de quem o novo presidente pareceria – Lula ou Chávez. Kirchner vendeu-se Lula, mas o mercado negociou Chávez. (O artigo de Spanakos e Rennó, intitulado “Speak Clearly and Carry a Big Stock of Dollar Reserves: Sovereign Risk, Ideology, and Presidential Elections in Argentina, Brazil, Mexico, and Venezuela”, foi publicado em 2009 pela Comparative Political Studies.)
Isso significa que há mais do que mudança ideológica para explicar a volatilidade econômica em anos de eleições presidenciais. Em 2002, no Brasil, a alta probabilidade da vitória de Lula trouxe incerteza. Após a Carta ao Povo Brasileiro, que acalmou um pouco aqueles que pensavam ser Aloizio Mercadante ou Guido Mantega os fiadores da política econômica de Lula (pegadinha: a partir de 2007 foi Dilma!), o petista continuou sendo contraditório a respeito do que faria uma vez eleito. Foi só com a indicação de Antonio Palocci para a Fazenda e Henrique Meirelles para o Banco Central que os investidores se acalmaram.
Para Spanakos e Rennó, há duas coisas que podem diminuir as más consequências de um mercado ansioso com a política. A primeira é que os candidatos sejam claros, na retórica de campanha, a respeito do que farão com a economia se eleitos. Pedir isso de Ciro Gomes pode ser demais. A segunda é ter um nível alto de reservas em dólares. Felizmente Temer e Ilan Goldfajn conseguiram até agora. Tem que manter isso aí.