Reeleição de Bolsonaro corre sério risco
Nos próximos meses, nada poderá aumentar a popularidade do presidente – que nem partido político tem
Karina Souza
Publicado em 26 de março de 2021 às 21h08.
Desde que a possibilidade de reeleição presidencial foi iniciada em 1997, o presidente (FHC, Lula, Dilma) disputou e venceu. Até poucas semanas atrás, o mesmo caminho para Jair Bolsonaro (sem partido) parecia óbvio. Ele chegaria com facilidade ao segundo turno – isso se não conseguisse vencer no primeiro, improvável mas plausível se a esquerda e o centro não se coordenassem minimamente. Mas, nas últimas semanas, Lula ressurgiu e a pandemia sofreu piora significativa.
Antes estacionada em torno de 30%, a porcentagem dos cidadãos que considera Bolsonaro um líder ótimo ou bom está em 25%, segundo a mais recente pesquisa Exame/Ideia. Ainda é um patamar alto, comparado aos 5-10% a que chegaram Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) nos piores momentos de seus mandatos. Mas acho provável que Bolsonaro desça a 10-15% por dois motivos.
O primeiro é que ele perdeu a última chance de virar o jogo na pandemia. Recebeu mal a sugestão do establishment para nomear a médica Ludhmila Hajjar ministra da Saúde. Forçou sua desistência. Continuou insistindo em “tratamento precoce” com a anuência do novo ministro, Marcelo Queiroga, que ao menos tem sugerido uso da máscara e distanciamento social.
Além disso, a perspectiva de mais 100 mil mortos em menos de dois meses, esperada por muitos cientistas, deverá ser suficiente para afastar o Centrão da órbita bolsonarista. Não há cargos nem verbas que compensem ser aliado de um líder tão pouco competente.
Por seus próprios erros, Bolsonaro poderá acabar como Lyndon Johnson, o presidente democrata que em março de 1968, poucos meses antes de pleitear a reeleição, anunciou sua desistência. A decisão ocorreu por nem vencer a Guerra do Vietnã nem dela sair.
De 1965 a 1974, 282 mil soldados americanos e 444 mil vietcongues foram mortos.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)
Desde que a possibilidade de reeleição presidencial foi iniciada em 1997, o presidente (FHC, Lula, Dilma) disputou e venceu. Até poucas semanas atrás, o mesmo caminho para Jair Bolsonaro (sem partido) parecia óbvio. Ele chegaria com facilidade ao segundo turno – isso se não conseguisse vencer no primeiro, improvável mas plausível se a esquerda e o centro não se coordenassem minimamente. Mas, nas últimas semanas, Lula ressurgiu e a pandemia sofreu piora significativa.
Antes estacionada em torno de 30%, a porcentagem dos cidadãos que considera Bolsonaro um líder ótimo ou bom está em 25%, segundo a mais recente pesquisa Exame/Ideia. Ainda é um patamar alto, comparado aos 5-10% a que chegaram Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) nos piores momentos de seus mandatos. Mas acho provável que Bolsonaro desça a 10-15% por dois motivos.
O primeiro é que ele perdeu a última chance de virar o jogo na pandemia. Recebeu mal a sugestão do establishment para nomear a médica Ludhmila Hajjar ministra da Saúde. Forçou sua desistência. Continuou insistindo em “tratamento precoce” com a anuência do novo ministro, Marcelo Queiroga, que ao menos tem sugerido uso da máscara e distanciamento social.
Além disso, a perspectiva de mais 100 mil mortos em menos de dois meses, esperada por muitos cientistas, deverá ser suficiente para afastar o Centrão da órbita bolsonarista. Não há cargos nem verbas que compensem ser aliado de um líder tão pouco competente.
Por seus próprios erros, Bolsonaro poderá acabar como Lyndon Johnson, o presidente democrata que em março de 1968, poucos meses antes de pleitear a reeleição, anunciou sua desistência. A decisão ocorreu por nem vencer a Guerra do Vietnã nem dela sair.
De 1965 a 1974, 282 mil soldados americanos e 444 mil vietcongues foram mortos.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)