Por que Trump foi tão bem na Flórida?
O descaso institucional do Partido Democrata com imigrantes latino-americanos e o medo do “socialismo” são os principais motivos
Publicado em 3 de novembro de 2020 às, 23h47.
Última atualização em 4 de novembro de 2020 às, 01h52.
Quando Annette Colazzo, candidata do Partido Democrata à Assembleia Legislativa da Florida, bateu à porta da casa de uma família cubana no começo do ano foi recebida com má vontade. “Aqui não tem Vidas Negras Importam!” O tom assustou-a. Conversando com o moço que lhe abriu a porta, Colazzo percebeu que o discurso nacional dos democratas – pró-saúde pública, antirracista, contra violência policial – tinha pouca relevância para os imigrantes cubanos. (A história foi contada pelo jornalista Noah Lanard)
Duas coisas importavam mais: inclusão partidária e o medo do suposto socialismo do partido de Barack Obama, Joe Biden e Bernie Sanders.
Escrevo este texto às 23h30 de 3 de Novembro, com 93% dos votos contabilizados na Flórida. O New York Times estima a possibilidade de vitória de Donald Trump (Partido Republicano) no estado como “extremamente provável”, acima de 95%.
A inclusão dos cubanos e outros imigrantes latino-americanos no sistema partidário tinha tudo para acontecer dentro do Partido Democrata na Flórida. Afinal, é muito difícil imaginar um presidente mais ativo contra a imigração do que Donald Trump (Partido Republicano).
Mas os democratas passaram décadas evitando lançar candidatos latino-americanos no estado. A carreira política dos democratas “tradicionais” falou mais alto do que o planejamento do partido a médio prazo. O partido não se abriu para nomes de fora do establishment.
Os republicanos se aproveitaram e incluíram cubanos, especialmente, em cargos de baixo escalão no estado. A comunidade se sentiu ouvida.
Além disso, o “socialismo” que republicanos atribuem aos democratas pode ter sido um motivo para latino-americanos apoiarem Trump massivamente. Cubanos sabem o que é escapar do socialismo de verdade. Republicanos usam isso para pintar o acesso universal à saúde como “socialista”. Bobagem. Mas é esse tipo de bobagem que pode fazer a diferença em eleições apertadas.
Mas tenhamos paciência: nem na Flórida sabemos ao certo o resultado ainda.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV)