Por que Bolsonaro não derreteu durante a pandemia?
Além do auxílio emergencial, o presidente aproveita a incerteza sobre a “culpa” pelo coronavírus
Publicado em 5 de setembro de 2020 às, 08h00.
Última atualização em 5 de setembro de 2020 às, 13h35.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aumentou, desde março, sua taxa de aprovação de 26% para 38%, segundo pesquisa da Exame/IDEIA. Parte da explicação pode ser o auxílio emergencial de R$ 600 mensais distribuído para 44% dos brasileiros. Mas não deve ser este o único fator. Difícil imaginar que quem considera o presidente um “genocida” mude de opinião após receber dinheiro.
É provável que muita gente não culpe governantes pela pandemia. Pode parecer odioso para quem não gosta do presidente, mas a chegada do coronavírus ao Brasil era inevitável. O tamanho do estrago, é claro, poderia ter sido menor caso nossos políticos fossem mais eficientes. Isso não vale só para Bolsonaro, mas também para governadores que agiram de maneira mais responsável do que ele.
O governador João Doria (PSDB), por exemplo, copiou de Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul, o plano de retomada ao normal considerando as diferentes fases da pandemia. Melhor copiar Leite do que Bolsonaro – mas, ainda assim, é plausível rejeitar a atuação do governador paulista. Posso crer, por exemplo, que Doria desperdiçou a chance de implementar um amplo programa de testagem e isolamento social.
O ponto é: atribuir responsabilidade política exclusivamente ao presidente pela calamidade do coronavirus talvez seja coisa de quem já não gostava dele por outros motivos. Esse raciocínio é incerto, mas há algumas pistas. De acordo com a pesquisa da Exame/IDEIA, o pico de rejeição a Bolsonaro - 54% - ocorreu no início de junho. Agora está em 43%, apenas um pouco mais do que os 40% do fim de março.
Os cenários para o longínquo segundo turno de 2022 mostram o presidente em ampla vantagem. Caso Lula (PT) se torne ficha-limpa até lá, teria 31% contra 42% de Bolsonaro. Contra Sergio Moro, Bolsonaro cairia para 38% e o ex-juiz também ficaria com 31%.
Óbvio que ainda há muito chão até lá, mas não são números de um presidente em queda livre.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)