Exame Logo

Por que alguns ministros não são demitidos?

Sergio Moro (Justiça) e Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) são próximos ideologicamente de Bolsonaro – e o ex-juiz ainda é aprovado por metade do país

MARCELO ÁLVARO ANTÔNIO: ministro do Turismo é suspeito de comandar um esquema de candidaturas laranjas que direcionou verbas públicas ao seu gabinete parlamentar / REUTERS/Jake Spring
DR

Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2019 às 19h27.

Em dias tão complicados, algumas notícias me aliviam. A jornalista Bela Megale acaba de relatar que Luiz Fux, ministro do STF citado no affair Moro-Deltan, foi ovacionado em um voo de Brasília para o Rio de Janeiro. “In Fux we trust!”, clamaram os passageiros. Me alivio porque estou no Rio de Janeiro, saindo para São Paulo e não corro risco de ver uma cena dessas. Realmente são tempos esquisitos. Normalmente ministros expostos em escândalos – sejam do STF, sejam subordinados ao presidente – sofrem dano reputacional. Por vezes, o dano é grande o suficiente para causar demissão. Não é o que aconteceu com os dois ministros mais encrencados do governo até agora: Sergio Moro (Justiça) e Marcelo Álvaro Antônio (Turismo).

Marcelo Álvaro Antônio (PSL) é acusado de usar candidaturas femininas do PSL à Câmara dos Deputados para desviar dinheiro ao seu gabinete quando era deputado federal. Se o hoje ministro usou laranjas em sua campanha ano passado, o senador filho do presidente, Flávio Bolsonaro (PSL), também é acusado de ocultar o recebimento de repasses financeiros de seus assessores quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.

Sergio Moro, como já ficou claro nos últimos dias, cometeu atos ilegais quando era juiz ao combinar estratégias de operações da Lava Jato com Deltan Dallagnol, procurador do Ministério Público Federal.

Em vez de demiti-los, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) optou por tirar o general Santos Cruz da Secretaria de Governo da Presidência. Fabio Wajngarten, Secretário de Comunicação subordinado a Santos Cruz até ontem, venceu a disputa com o chefe pela destinação de verbas publicitárias para blogs simpáticos às ideias mais extremistas do governo. Se isso parece motivo insuficiente para demitir um general, não se engane: no governo Bolsonaro, “narrativas” importam mais do que projetos de lei.

O que protege, por enquanto, Moro e Marcelo Álvaro Antônio é o fato de serem ideologicamente muito próximos do presidente. Estudando o primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), os cientistas políticos Cletiane Medeiros Araújo, Saulo Felipe Costa e Ítalo Fittipaldi argumentam que quanto maior a distância ideológica do ministro para o presidente e maior a exposição do ministro enrolado em escândalos, mais provável é a saída. (O artigo “Boa noite e boa sorte: determinantes da demissão de ministros envolvidos em escândalos de corrupção no primeiro governo Dilma Rousseff” foi publicado na revista Opinião Pública em 2016.)

Resta saber se a sanha do Centrão por cargos eliminará Marcelo Antônio e se novas revelações do Intercept podem tornar inevitável a saída do popularíssimo Moro.

Veja também

Em dias tão complicados, algumas notícias me aliviam. A jornalista Bela Megale acaba de relatar que Luiz Fux, ministro do STF citado no affair Moro-Deltan, foi ovacionado em um voo de Brasília para o Rio de Janeiro. “In Fux we trust!”, clamaram os passageiros. Me alivio porque estou no Rio de Janeiro, saindo para São Paulo e não corro risco de ver uma cena dessas. Realmente são tempos esquisitos. Normalmente ministros expostos em escândalos – sejam do STF, sejam subordinados ao presidente – sofrem dano reputacional. Por vezes, o dano é grande o suficiente para causar demissão. Não é o que aconteceu com os dois ministros mais encrencados do governo até agora: Sergio Moro (Justiça) e Marcelo Álvaro Antônio (Turismo).

Marcelo Álvaro Antônio (PSL) é acusado de usar candidaturas femininas do PSL à Câmara dos Deputados para desviar dinheiro ao seu gabinete quando era deputado federal. Se o hoje ministro usou laranjas em sua campanha ano passado, o senador filho do presidente, Flávio Bolsonaro (PSL), também é acusado de ocultar o recebimento de repasses financeiros de seus assessores quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.

Sergio Moro, como já ficou claro nos últimos dias, cometeu atos ilegais quando era juiz ao combinar estratégias de operações da Lava Jato com Deltan Dallagnol, procurador do Ministério Público Federal.

Em vez de demiti-los, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) optou por tirar o general Santos Cruz da Secretaria de Governo da Presidência. Fabio Wajngarten, Secretário de Comunicação subordinado a Santos Cruz até ontem, venceu a disputa com o chefe pela destinação de verbas publicitárias para blogs simpáticos às ideias mais extremistas do governo. Se isso parece motivo insuficiente para demitir um general, não se engane: no governo Bolsonaro, “narrativas” importam mais do que projetos de lei.

O que protege, por enquanto, Moro e Marcelo Álvaro Antônio é o fato de serem ideologicamente muito próximos do presidente. Estudando o primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), os cientistas políticos Cletiane Medeiros Araújo, Saulo Felipe Costa e Ítalo Fittipaldi argumentam que quanto maior a distância ideológica do ministro para o presidente e maior a exposição do ministro enrolado em escândalos, mais provável é a saída. (O artigo “Boa noite e boa sorte: determinantes da demissão de ministros envolvidos em escândalos de corrupção no primeiro governo Dilma Rousseff” foi publicado na revista Opinião Pública em 2016.)

Resta saber se a sanha do Centrão por cargos eliminará Marcelo Antônio e se novas revelações do Intercept podem tornar inevitável a saída do popularíssimo Moro.

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se